Pedro, o calvário do Mestre não se constituía tão somente de secura e aspereza…
Do monte pedregoso e triste jorravam fontes de água viva que dessedentaram a alma dos séculos.
E as flores que desabrocharam no entendimento do ladrão e na angústia das mulheres de Jerusalém atravessaram o tempo, transformando-se em frutos abençoados de alegria no celeiro das nações.
Colhe as rosas do caminho no espinheiro dos testemunhos…
Entesoura as moedas invisíveis do amor no templo do coração!…
Retempera o ânimo varonil, em contacto com o rocio divino da gratidão e da bondade!…
Entretanto, não te detenhas. Caminha!
É necessário ascender. Indispensável o roteiro da elevação, com o sacrifício pessoal por norma de todos os instantes.
Lembra-te. Ele era sozinho. Sozinho anunciou e sozinho sofreu. Mas erguido, em plena solidão, ao madeiro doloroso por devotamento à Humanidade, converteu-se em Eterna Ressurreição.
Não tomes outra diretriz, senão a de sempre.
Descer auxiliando, para subir com a exaltação do Senhor!
Dar tudo, para receber com abundância.
Nada pedir para nosso Eu exclusivista, a fim de que possamos encontrar o glorioso Nós da vida imortal.
Ser a concórdia para a separação.
Ser luz para as sombras, fraternidade para a destruição, ternura para o ódio, humildade para o orgulho, bênção para a maldição…
Ama sempre. É pela graça do Amor que o Mestre persiste conosco (os mendigos dos milênios), derramando a claridade sublime do perdão celeste onde criamos o inferno do mal e do sofrimento.
Quando o silêncio se fizer mais pesado ao redor de teus passos, aguça o ouvido e escuta!
A voz d’Ele ressoará de novo na acústica de tua alma e as grandes palavras, que os séculos não apagaram, voltarão mais nítidas ao círculo de tua esperança, para que tuas feridas se convertam em rosas e para que teu cansaço se transubstancie em triunfo.
O rebanho aflito e atormentado clama por refúgio e segurança.
Que será da antiga Jerusalém humana sem o bordão providencial do pastor que espreita os movimentos do céu para a defesa do aprisco?
É necessário que o lume da cruz se reacenda, que o clarão da verdade fulgure novamente, que os rumos da libertação decisiva sejam traçados.
A inteligência sem amor é o gênio infernal que arrasta os povos de agora às correntes escuras e terrificantes do abismo.
O cérebro sublimado não encontra socorro no coração embrutecido.
A cultura transviada da época em que jornadeamos, relegados à aflição, ameaça todos os serviços da Boa Nova, em seus mais íntimos fundamentos.
Pavorosas ruínas fumegarão, por certo, sobre os palácios faustosos da humana grandeza, carente de humildade, e o vento frio da desilusão soprará de rijo sobre os castelos mortos da dominação que, desvairada, se exibe, sem cogitar dos interesses imperecíveis e supremos do Espírito.
É imprescindível a ascensão. A luz verdadeira procede do mais alto e só aquele que se instala no plano superior, ainda mesmo que coberto de chagas e roído de vermes, pode, com razão, aclarar a senda redentora que as gerações enganadas esqueceram.
Refaze as energias exauridas e volta ao lar de nossa comunhão e de nossos pensamentos.
O trabalhador fiel persevera na luta santificante até o fim.
O farol no oceano irado é sempre uma estrela em solidão. Ilumina a estrada, buscando a lâmpada do Mestre que jamais nos faltou.
Avança… Avancemos… Cristo em nós, conosco e por nós e em nosso favor, é o Cristianismo que precisamos reviver à frente das tempestades, de cujas trevas nascerá o esplendor do Terceiro Milênio.
Certamente, o apostolado é tudo. A tarefa transcende o quadro de nossa compreensão.
Não exijamos esclarecimentos. Procuremos servir.
Cabe-nos apenas obedecer até que a glória d’Ele se entronize para sempre na alma flagelada do mundo.
Segue, pois, o amargurado caminho da paixão pelo bem divino, confiando-te ao suor incessante pela vitória final.
O Evangelho é o nosso Código Eterno.
Jesus é nosso Mestre Imperecível.
Subamos em companhia d’Ele no trilho duro e áspero.
Agora é ainda a noite que se rasga em trovões e sombras, amedrontando, vergastando, torturando, destruindo…
Todavia, Cristo reina e amanhã contemplaremos o celeste despertar.
A presente Mensagem de foi recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, a 17 de agosto de 1951, na residência do Dr. Rômulo Joviano, por ocasião da visita do médium espiritualista Pietro Alleori Ubaldi à terra natal do médium de Emmanuel.
Publicada no livro de Pietro Ubaldi — Conferências no Brasil (São Paulo, 1952, pp. 219-222) —, trasladamo-la para o nosso volume com a devida vênia, graças à gentileza do Professor Clovis Tavares.
O destinatário da mensagem, autor de A Grande Síntese, nasceu na cidade de Foligno, na Úmbria, a 18 de agosto de 1886, filho de Sante Ubaldi e de D. Lavínia Alleori Ubaldi, desencarnando a 29 de fevereiro de 1972, em São Vicente, Estado de São Paulo, onde residia com sua filha.