Nascimento: São Paulo, 16 de fevereiro de 1956 — Desencarnação: São Paulo, 06 de julho de 1973. Filho de Wady Abrahão e Jandira do Amaral Abrahão. Irmã: Axima Abrahão de Oliveira, casada com Wilson Benedito de Oliveira.
Figura querida no Bairro da Água Rasa, na capital paulista, Wady Abrahão Filho se destacava surpreendentemente pelo apego a Jesus que procurava pregar e exemplificar em sua vida simples de adolescente.
A par de suas atividades escolares e das poucas incursões nos sonhos da juventude, pois faleceu com 17 anos apenas, Wadyzinho era o líder incontestável de todos os movimentos beneficentes que se organizavam no Bairro, para o socorro de famílias pobres e de instituições ligadas aos trabalhos sociais. Enfim, estava presente o dinâmico jovem, que trazia o Cristo nos lábios e no coração, em tudo o que significasse caridade e solidariedade humana.
Campanhas de inverno, de Natal, visitas periódicas a lares necessitados, eram parte obrigatória de sua agenda já tão onerada em compromissos que cumulava também junto à Comunidade Unida a Cristo, movimento jovem de inspiração católica, que sob a coordenação do Wady levava aos jovens desorientados a palavra de Jesus, através de reuniões e conferências.
Amoroso, filho alegre, simples, muitas vezes seu pai o surpreendia madrugada a dentro com o quebra-luz aceso, escamoteado, para não despertar os familiares — e também para fugir à admoestação paterna, preparando suas inúmeras conferências a serem proferidas nas reuniões da Comunidade. O Cristo era a tônica de todas as suas palestras.
O início do mês de julho de 1973 absorvia particularmente Wadyzinho devido à campanha de inverno programada para o sábado — 7 de julho. Wady era a empolgação viva a ultimar os preparativos. Contudo, algo prenunciava com surpreendente riqueza de dados que sua partida estava próxima…
Quinze dias antes de sua morte, a mãe passou a sentir indefinível angústia, que a não abandonou mais.
Dois dias antes de seu falecimento, Wadyzinho teve um sonho significativo, em que foi visitado por um anjo que abriu a janela de seu quarto e pediu ao jovem que voasse com ele. Fê-lo e pôde divisar a Terra imponente e bela do alto do Firmamento. Relatou aos familiares e amigos o sonho e disse-lhes que se ele — Wadyzinho — partisse, era para continuar a viver e não morrer!!!
Na véspera de sua morte, coordenando as últimas providências para a campanha de inverno de que falamos, no colégio, junto de seus colegas, disse-lhes que no fim daquela semana (era uma quinta-feira) ele iria partir para uma viagem muito longa.
A 6 de julho — sexta-feira — dia do falecimento do jovem, os prenúncios continuavam. O Sr. Wady Abrahão chegou para o almoço, chamou o filho para um entendimento e pediu-lhe que tomasse muito cuidado, porque pressentia que alguma coisa iria acontecer com a família naquele dia. Pela insistência da recomendação, o próprio jovem advertiu carinhoso o pai: — o que é isso, meu pai? O senhor nunca foi supersticioso!…
Após o almoço, de hábito com a presença de muitos jovens, colegas de Wady nos trabalhos comunitários, seu pai, alegando indisposição, cancelou a viagem que faria naquela tarde para Sumaré. Foi para os escritórios da indústria, próximos da residência, e, ao sair, recomendou ao filho, mais uma vez, muito cuidado para atravessar as ruas…
D. Jandira, também indisposta, cancelou a visita programada à cabeleireira e Axima e o marido saíram a negócios, esquecendo, contudo, documentos que os obrigariam a voltar pouco depois…
Wadyzinho deixou sua casa às 13 horas e 30 minutos em direção ao Colégio Nossa Senhora de Lourdes, onde estudava, e às 15 horas estava morto, vítima de um mal súbito, definido no atestado de óbito como infarto do miocárdio.
O pai, na hora aproximada da ocorrência, sentiu em seus escritórios um mal estar inexplicável, que o obrigou a descer rapidamente as escadas do Edifício, sem mesmo se utilizar do elevador, dirigindo seu carro em direção ao lar, sendo, entretanto, interceptado no caminho por pequena multidão que lhe comunicou estar o filho agonizante no colégio.
Levado ao Pronto Socorro próximo, apesar da massagem cardíaca e de outras técnicas de reanimação, o coração de Wadyzinho não pulsou mais.
Eram 15 horas do dia 6 de julho de 1973. Com 17 anos Wady não pôde realizar a campanha de inverno que com tanto carinho programara para o dia seguinte. Seu sepultamento no Cemitério do Brás, apoteose autêntica de respeito e consideração, com centenas de pessoas rendendo-lhe as homenagens últimas, abriu para os familiares as páginas de um livro em branco onde a dor, a saudade e mais tarde o reencontro escreveriam palavras de imortal beleza.
Natural de São Paulo-Capital, nasceu a 16 de fevereiro de 1956. Fez o curso primário e ginasial no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, na Água Rasa, e ali frequentava também o 1.° ano do curso colegial, quando a morte o colheu dentro do próprio colégio.
A vida naquela casa da Avenida Álvaro Ramos
O Sr. Abrahão abandonara praticamente as atividades na indústria e desconsolado fazia pouso constante no túmulo do filho, no Cemitério da 4ª Parada. Durante o dia, ia com a esposa, que o aguardava do lado de fora do jazigo, enquanto que ele, sorrateiramente tirava a pedra tumular e se deitava na gaveta imediatamente superior à que abrigava o caixão do filho.
À noite, com muita frequência, alegando que iria até Sumaré, para supervisionar a fábrica de tecidos ali situada, deixava o lar às 19 horas e buscava o cemitério, onde, ludibriando o vigia, repetia a mesma lúgubre operação: retirava a pedra de cobertura, penetrava no jazigo e se deitava na gaveta vazia contígua à do filho. Assim permanecia madrugada a dentro; fazendo companhia para o filho, pois supunha que seu Wadyzinho tinha medo de dormir sozinho, naquela lápide fria…
Por duas vezes foi surpreendido pelo zelador do Cemitério que ao observar a fumaça saindo do túmulo foi verificar o que ocorria e estupefato viu o Sr. Abrahão recostado dentro do jazigo. A partir dessa noite, o pai do Wadyzinho, por precaução, não mais fumou no cemitério…
De outra feita, sendo novamente surpreendido teve de dar satisfações à Rádio-Patrulha chamada para atender a singular ocorrência.
As visitas continuavam, a tristeza pairava sobre o conjunto familiar e a filha Axima se desdobrava em cuidados para devolver aos pais a paz de espírito enterrada com o filho.
Amigos da família sugeriram a Axima que levasse os pais até Chico Xavier, o que, de princípio, Axima considerou difícil por serem os pais católicos, sem qualquer conhecimento de Espiritismo. Ocasionalmente, dois meses após a morte de Wadyzinho, Francisco Cândido Xavier visitou o Centro Espírita Perseverança, próximo à Água Rasa e dirigido pela Srª Guiomar de Oliveira Albanese. Axima convidou o pai para conhecer o Chico, naquela oportunidade.
Os cumprimentos foram rápidos e superficiais, devido à multidão que se aglomerava na Casa.
Sensibilizado pela bondade de Francisco Cândido Xavier a irradiar-se de suas palavras atenciosas para com todos que o procuravam, o Sr. Wady se animou a ir até Uberaba e conversar com o médium, fazendo-o em novembro de 1973 — 6 meses após a desencarnação do filho. Impôs como condição aos familiares que ninguém se abrisse com o Chico, para que uma eventual revelação fosse realmente verdadeira.
Reunião de sexta-feira prestes a terminar, com o Chico Xavier atendendo a um grupo de pessoas que dele se despediam, participando dessa fila a família Abrahão que não tivera ainda a oportunidade de cumprimentá-lo. Súbito, Chico começa a falar em voz alta: — Axima, Axima, Axima!!!
Axima e os familiares se aproximaram do Chico, adiantando-se na fila e D. Jandira disse-lhe:
— Sr. Francisco, Axima é minha filha. Viemos aqui porque perdi meu filho, ao que o Chico retrucou:
— Não, a senhora não perdeu o filho. Seu filho é um apóstolo de Jesus. Não disse mais nada, além de convidá-los para a reunião mediúnica da manhã seguinte.
E, na manhã seguinte, 24 de novembro de 1973, a família se completava com a volta do filho querido que escreveu pelas mãos de Francisco Cândido Xavier longa mensagem de reencontro, seis meses após sua morte.
Como já dissemos, o livro de páginas brancas que se abriu com o falecimento do jovem seria agora preenchido com as suas candentes palavras, voltando para o passado as páginas umedecidas pelas lágrimas da saudade.
Veja-se a propósito a crônica “As Horas”, do livro “Lagartas e Libélulas” de Humberto de Campos — 4ª Edição — 1939 — Livraria José Olímpio Editora.