Juntos Venceremos

Capítulo XI

A surpresa



Aquela preocupação por fortuna fácil já era mania no irmão Teodoro Pancrácio.

Experimentava a loteria, topava grandes apostas, frequentava leilões de antiguidades e, entre amigos, confessava-se apaixonado por moeda grande.

Por isso mesmo, fitou com avidez a maleta encastoada de prata que, naquela manhã, alguém esquecera num dos bancos da Praça da República, em São Paulo.

Um pequeno esforço e sentou-se junto do achado. Queria que os transeuntes tivessem a impressão de que ele era dono do objeto que lhe conquistara o irresistível interesse.

Transcorridos alguns minutos, empalmou a maleta com naturalidade e tomou o ônibus, no qual iniciaria a viagem de retorno à própria residência.

Acomodou sobre as próprias pernas aquela caixa esculpida em madeira, com a chave dependurada num dos bordos e passou a fantasiar altas perguntas…

Que conteria aquele estojo de que se apropriara? Respondia a si mesmo, excitado e otimista… Possivelmente, estaria conduzindo um tesouro de joias ou, quem sabe, ali estariam encerrados milhares de cruzeiros?

Trocando várias conduções, chegou à periferia onde morava.

Dirigiu-se a um terreno baldio, quase rente à própria casa, já que se sabia aguardado pela família.

Ansioso, manobrou a chave, no entanto, apavorado notou que, de dentro da mala pequena, saltou uma grande cascavel que, de imediato, se armou contra ele, agitando o chocalho. Pancrácio clamou por socorro e chegou muita gente.

Os vizinhos auxiliaram-no a recolocar a serpente enorme no recinto da caixa que foi novamente fechada.

E, depois de muitas providências, apareceu no dia seguinte a informação exata em torno da curiosa surpresa.

O ofídio pertencia a um fazendeiro de Minas que se aproveitara da visita a São Paulo, a fim de oferecê-lo para estudos no Instituto Butantã.




(Psicografia de Francisco C. Xavier)