Dona Elenice é quem nos conta.
“Aproximei-me do Espiritismo ainda criança, por volta dos 12 anos. Residíamos em Pinhal, cidade do interior paulista.
No colégio em que eu estudava fiz amizade com uma garota, Flávia Gaetta e, através dessa amizade, nossas famílias também estreitaram os laços.
D. Helena Gaetta, tia dessa companheira, trazia o dom da mediunidade. Participava de reuniões espíritas kardecistas, que me fascinavam. Com isso passei a frequentar algumas reuniões, das quais fui adquirindo algum conhecimento da Doutrina.
Sempre tive verdadeira adoração por tudo o que se relacionasse com Chico Xavier.
Quando havia oportunidade de vê-lo ou ouvi-lo, lá estava eu me acomodando frente às televisões ou reuniões onde sua presença era marcada.
Com a desencarnação de Ivan, motivada por um aneurisma cerebral fulminante, quando se preparava para sair, na mesma semana manifestei o desejo de procurar o Chico e, acertando com o meu marido um jeito para nossa viagem, rumamos para Uberaba.
Através de uma cunhada chegamos a ele pela primeira vez.
Pensávamos ser fácil o nosso contato, mas quão difícil foi.
O número de pessoas era imenso. Mas, com a ajuda de Deus, conseguimos. Recebemos a comunicação do Ivan antes de completar-se dois meses de sua partida.
Foi uma bênção, uma alegria.
Uma força começou a nos impulsionar para a vida. A confirmação da verdade da vida após a morte do corpo.
Para meu marido, que descria de tudo, foi o bálsamo que oxigenou o ar de sua vida e continuou a viver, pois a desolação em seu coração inquietava-me.
O tempo se projetou no tempo e viemos a conhecer Dona Yolanda Cezar que nos amparou em nossa dor. Com paciência, amor e a sua experiência adquirida também pela dor, abriu-nos um campo de trabalho para preenchermos na caridade cristã.
Hoje estamos vivendo com a resignação e a certeza de que eles estão lá esperando, de cada família enlutada pela dor, compreensão de que a misericórdia de Deus não falha. Que estão mais vivos e atuantes do que nunca, apenas aguardando a nossa aceitação ante o irremediável, que os vejamos como eles são agora, espíritos que continuam no seio de cada família, ajudando a desvencilhar-nos dos problemas da Terra.
Que as lamentações não criem espaços em nossas vidas, que o otimismo se faça presente e a esperança seja o sinônimo crescente de nossa fé em Deus.
Esta certeza que agora trazemos, faz-nos ver a lisura e a autenticidade desta mensagem do Ivan como prova irrefutável, pois sequer tínhamos falado com Chico Xavier. Faço questão de, com vênia da Editora, publicar a foto do túmulo do Cel. Teotônio Negrão [Ver foto no livro impresso à pág. 67]. Este senhor, quando citado na mensagem, causou-nos estranheza. Não o conhecíamos.
Em outras viagens Chico sempre nos solicitava notícias, se havíamos descoberto quem era e nós não sabíamos de nada até que, na tarde do dia de Finados daquele mesmo ano de 1986, em seu crepúsculo, parentes vários, em diversas visitas ao Cemitério, descobriram em Bariri, numa área de túmulos abandonados, o do citado Coronel Teotônio Negrão.”
IVAN ANTONELLI FAKAIB: Nascimento: 07 de outubro de 1964 — Desencarnação: 26 de junho de 1986 — Idade: 22 anos
PAIS: Abrahão Fakaib e Elenice Antonelli Fakaib. — Rua Maquerobi, 106 São Paulo, SP.
IRMÃOS: Márcio e Fábio Antonelli Fakaib.
VÔ ABRAHÃO: Bisavô paterno e desencarnado em 1916, na Síria.
TIA YOLANDA: Tia de Dona Elenice, falecida aos 49 anos, no dia 05.02 1978, em Mongaguá, na Praia Grande, SP. Esta tia, segundo nosso Chico, esteve ao lado de Dona Elenice, meses antes da desencarnação do Ivan, preparando-a para a partida do filho.
VÓ MIQUELINA: Avó paterna, está encarnada com 89 anos.
MÃE MARIA: Esta senhora criou todos os oito filhos de Dona Miquelina, avó do Ivan. O pai do Ivan tinha muito carinho por ela. Seu nome Maria José Alves Berti. Desencarnada em 13
VICENTE ALTO: O Vicente é filho adotivo da Maria. Ele é sobrinho, ficou órfão ao nascer. Maria criou-o com muito amor. Conhecido como Vicentão devido a sua estatura.
LUIZ: Marido de Maria José Alves Berti, encarnado.
CEL. TEOTÔNIO NEGRÃO: Nascido em 1855 e desencarnado em 1905. Pessoa citada e desconhecida dos pais de Ivan. Com a chegada de familiares de Bauru, e aproveitando o dia de Finados, depois de várias visitas ao Cemitério, no final da tarde, ao fazerem preces junto aos túmulos aparentemente abandonados, descobrem o desse Coronel.
.: Antecipamos os nomes de pessoas ou fatos, para melhor identificação na leitura da mensagem espiritual.
Querida mãezinha Elenice ou querida mamãe Nice, estou contente ao vê-la com o papai Abrahão e me alegro ao pedir-lhes para que me abençoem.
Devo satisfazer aos nossos desejos mútuos, no sentido de esclarecer o que me ocorreu na liberação do corpo físico. Isso pode servir, diz-nos a querida tia Yolanda, para auxiliar a outras mães e pais que perderam a convivência de filhos queridos, de maneira inesperada.
Realmente, não experimentara antes qualquer mal-estar. Tudo certo comigo.
Havia até mesmo prometido ao pai retomar o caminho de volta a ele para colaborar, de algum modo, no trabalho habitual. Passei ao banheiro para a revisão da roupa, quando me senti subitamente sem forças. Não consegui movimentar-me, nem falar.
Algo se desarticulara por dentro de mim, sufocando-me o pensamento. E caí, sem meios de me proteger contra qualquer obstáculo e um escuro se me fez na cabeça. Mais nada.
O que aconteceu nos momentos que se seguiram somente depois me foi mostrado pelo vovô e por outros amigos. Ainda não sei quantos dias estive naquela ausência de mim próprio.
Sono, apenas sono absoluto. Creio que me aplicaram alimentos enquanto me achava naquela inconsciência difícil de descrever.
Voltei a mim mesmo, devagar. Primeiramente, pareceu-me sonhar num entendimento tarjado de neblina grossa. Observava que mãos amigas me socorriam, com massagens e até mesmo com injeções de substância curativa e nutriente.
Até que despertei. As perguntas eram minhas. Os petitórios foram meus.
Não me admitia morto. A vida estava comigo, com o mesmo calor de sempre. O raciocínio funcionava na base do discernimento.
Foi o vovô Abrahão quem me elucidou, pouco a pouco.
Ao reconhecer-me em outra vida ou na continuação da existência que tivera, era natural me afligisse pelos pais queridos.
Aquela alma caridosa e bendita a quem chamamos por Mãe Maria me conduziu ao nosso recanto doméstico e chorei com as lágrimas da mamãe e com a tristeza molhada de pranto que via em meu pai.
Foram instantes difíceis para mim. Tudo sucedera muito de imprevisto e lamentava, de minha parte, tudo houvesse acontecido assim. Abracei os irmãos queridos, Márcio e Fábio, com aquela ânsia de ficar, pois ainda não havia aprendido que a libertação do corpo físico me ofereceria novas oportunidades de trabalho. Estejam certos, porém, os pais queridos que, a breve tempo, me transformei, no alicerce de uma compreensão melhor. Os nossos familiares me esclareceram que atravessara a iminência de uma parada cardíaca, sem possibilidade de retorno à normalidade orgânica.
Efetuada a ruptura de certos vasos, viriam as complicações circulatórias. O músculo cardíaco, assediado de problemas, faria pausa em seu trabalho e, então, seria uma longa série de provações para nós todos, das quais a Bondade de Jesus, por seus Mensageiros nos livrou a tempo.
Tudo se processou do melhor modo para nós todos, porque, especialmente para mim, seria muito amarga a imobilidade no leito por meses e meses.
A nossa Mãe Maria me auxiliou de maneira eficiente nessa quadra inicial de minha readaptação à Vida Espiritual. Comecei a trabalhar acompanhando-a quando possível, em suas tarefas de socorro.
Desejei viajar até Bariri e, por lá, pude exercitar a prece no Lar Vicentino, o antigo Lar, reconfortando irmãos sofredores, e conheci muitos amigos desencarnados e um benfeitor dedicado ao bem dos semelhantes, conhecido no Mundo Espiritual pelo nome de Teotônio Negrão que me disseram ser pessoa de muita dedicação à nossa família.
Eu vou deslanchando em serviço, para em futuro breve, retomar meus estudos a fim de ser mais útil.
Querido papai, vi com a nossa irmã e benfeitora algumas crises de sofrimento no filho dela, o Vicente Alto, e notei como chora o pai Luiz, com a incapacidade de suprimir-lhe a dura prova.
Compreendi melhor o bem que recebêramos sem avaliar a extensão das bênçãos que nos visitaram e, por isso, venho pedir-lhes para que a nossa saudade não se agrave com alguma queixa inoportuna, porquanto, em verdade, somente vista e analisada do ponto em que presentemente me vejo, é que a vida deixa de ser o lado avesso da Criação Divina.
Ali no mundo estamos na condição de alunos internados num grande educandário. O corpo é o uniforme, essencialmente, igual para todos, com os estragos ou com os processos de conservação que nós mesmos fizemos, com o título de usuários desse benefício. Tudo emprestado a tempo justo.
E, em meu caso, querida mamãe, deveria seu filho tudo restituir nos primeiros tempos do estágio transitório. Creio estar explicando, com minudências, quanto me sucede para tranquilidade dos meus.
Peço ao querido pai alimentar-se, encorajar-se e reviver.
A morte não existe. Tanto não existe que ninguém à frente de uma pessoa querida que parte, admite haja adeus para sempre.
Auxiliem-me, renovando a própria alegria. Não só meus irmãos precisam disso, quanto eu mesmo. E, com esse entendimento novo, seguiremos nós para uma vida renovada. Confiemos em Deus.
A nossa querida Mãe Maria, junto de nós, avisa que vem efetuando o possível no auxílio à vó Miquelina, agora mais doente e menos segura.
Querida mamãe Elenice, sei que o seu coração e o coração do papai estão aptos a me compreender com mais clareza. Não me suponham ausente. Estamos agora mais juntos, embora não pareça.
Um abraço aos irmãos queridos e para os dois um beijão do filho que, apesar das muitas saudades, vive pleno de esperança, porque me sinto agora integrado na fé viva em Deus e na 5ida Imperecível.
Recebam o carinho imenso e a gratidão do filho que lhes pertence pelo coração.