João comia. João dormia. Tinha pouco o que fazer Passeava, andava e ria, Mas João queria morrer. Dizia que o mundo é falso, Despenhadeiro traidor, Senzala de crueldade, Toda cravada de dor. Por mais que o guia buscasse Despertá-lo para o bem, Tudo inútil. João clamava Xingando como ninguém. O mentor rogava calma No serviço meritório, João respondia que o mundo É um horrendo purgatório… Afirmava ouvir apenas Pragas, lamentos e ais. E rematava: — “Meu guia, Agora não posso mais… “Quero a sua companhia, Preciso mudar de sorte, Colaborar, ao seu lado, Na vida depois da morte…” E tanto pediu repouso Na chorança sem limite Que o pobre desencarnou, A toque de meningite. Sob os cuidados do guia, João acordou, foi tratado… O mentor, ao vê-lo forte, Anunciou-lhe, afobado: — “João amigo, eis o momento!… Você queria morrer, Agora venha comigo, Servir é o nosso dever” O moço que detestava Disciplina, horário e prova, Começou desapontado A imprevista vida nova. Seguindo os passos do guia, Entre surpresas crescentes, Passava, dias e dias, Doando força a doentes; Amparava hansenianos, Balsamizava feridas, Corria sempre em socorro De crianças desvalidas. Gastava nos hospitais, Às vezes, noites inteiras, Garantindo a vigilância De enfermeiros e enfermeiras. O protetor sem repouso Parecia não ter paz, Onde surgisse em auxílio, João devia vir atrás. Certo dia, João, cansado, Disse ao guia: — “Não aguento, Não mais aguento a pedreira De prisão e sofrimento…” Pede o guia : — “Fala, filho!…” E chorando gritou João: — “Eu quero viver na Terra, Prefiro a reencarnação…” |