Loja de Alegria

Capítulo XXII

Imprevisto



A sessão seguia calma.

Harmonia e precisão.

Antonico orientava

A justa doutrinação.


Pelo médium Gabriel,

Um Espírito incorporado,

Demonstrando imensa dor,

Passou ao próprio recado:


— Meus irmãos, sou um infeliz,

As culpas me custam caro,

Os meus erros foram muitos,

Imploro perdão e amparo…


Prejudiquei muitos órfãos,

Muitas viúvas lesei,

Fui um ladrão, às ocultas,

Tentando enganar a lei…


Mandei matar inimigos,

Não sei como agi assim,

Agora, desencarnado,

Minha angústia não tem fim…


Ante a pausa que se fez,

Disse Antonico, à vontade:

— E você queria o Céu

Depois de tanta maldade?


A vida que você conta

É tão imunda e tão feia,

Que não quero vê-lo aqui,

Ladrão mora é na cadeia…


O Espírito, em choro alto

Desfez-se em longo lamento:

— Meu amigo, tenha dó

De meu grande sofrimento!…


Antonico replicou:

— Não me venha rogar prece;

Quem é você que procura

Aquilo que não merece?


Clamou o comunicante:

— Infeliz do homem que cai…

Você pergunta quem sou?!…

Antonico, eu sou seu pai.