Luz na Escola

Capítulo XIV

Nos tempos tormentosos



Na do mundo, o homem espiritual confere os seus valores mesquinhos para compreender a extensão de seus desequilíbrios. O homem físico galgou culminâncias. Perquiriu a estratosfera, investigou o íntimo dos mares. A civilização do século XX é sua filha dileta. Ataviando-se com todos os adornos falsos de uma sabedoria aparente, ela exibe os mais assombrosos espetáculos de realização material e de poderes maravilhosos. O homem da radiotelefonia transformou o planeta em uma sala confortável, onde as fronteiras foram eliminadas para o exame da possibilidade de consecução do mais elevado idealismo fraterno. O avião e o transatlântico são traços de união, confortáveis e poderosos, com a mesma lição da natureza para que as criaturas se unam na edificação de um fraternismo perfeito.

Em ciência, o homem físico adiantou-se. As mais formosas realizações foram levadas a efeito no campo fisiológico. Todos os segredos anatômicos dos corpos foram devassados. Com exceção da biologia, onde a luz misteriosa e sagrada do Espírito ainda tem muito a fornecer no caminho das investigações puramente materiais dos estudos terrestres, quase todos os círculos científicos, no capítulo de perquirições da matéria, trazem os seus quadros de conhecimento quase integrais e puramente completos.

As ciências jurídicas evoluíram igualmente com as mais extraordinárias equações, no campo do direito e das relações internacionais. Noções elevadas felicitaram as suas estradas à luz da razão humana. De todo esse acervo de edificações das ciências conjugadas, na esfera planetária, nasceram filosofias salvacionistas, onde formosas concepções de bondade iluminaram ou tentaram iluminar os corações. Tudo isso, todo esse patrimônio profundo de riquezas fizeram do homem físico um soberano senhor de todas as possibilidades da vida planetária.

Nababo, vivendo nas extravagâncias bizarras de seu castelo de riquezas transitórias, esse homem, porém, padece a fome esmagadora da paz, a sede dolorosa do amor, apesar de todas as teorias da salvação que o mundo engendrou, subvertendo, porém, a genuína lição daquele Cordeiro de Deus que ensinou às criaturas o verdadeiro caminho.

Desse lamentável esquecimento de Jesus, desse olvido criminoso de nossas almas, porque nós também, os desencarnados, integramos a humanidade militante dessa indiferença triste, dizemos nós, derivou-se o quadro angustioso da atualidade do mundo, em que quase toda a ciência foi compelida a submeter-se aos postulados da força, em que os nossos mais elevados princípios filosóficos se converteram no veneno dos extremismos políticos, em cujas vibrações antagônicas parecem os homens-fantasmas penosos de ambição e de ódio, de egoísmo e de dor, atormentados nos círculos aterradores de um inferno novo.

É nesta hora, não nos cansemos de repetir, que o Espiritismo vem desempenhar o papel de Consolador prometido, restaurando os valores da fé, na sua grandeza divina e imponente. Sobre a paisagem melancólica do mundo atormentado, ele é a voz que fala novamente daquele fermento divino e eterno. Abrem-se os sepulcros e as vozes daquele país, onde localizáveis as sombras, esclarecem as novas verdades. As leis de benefícios mútuos se executam na senda da boa vontade e do amor. Há uma surpresa maravilhosa no íntimo das criaturas. Os Espíritos mais pobres e empedernidos podem ridicularizar e sorrir. Entretanto, eles também são convidados para a sublime contemplação. Deus é o Pai de todos. Todos os seres são irmãos. Não mais o ódio e a separação, mas o ideal de unir para que a substância do Cristo viva perene em todos nós. As verdades celestiais, de alguma sorte, se deslocam dos templos de pedra e do círculo particular do sacerdócio. São aqueles que partiram do mundo, os que já se despiram do envoltório material, que regressam alvoroçados de alegria das regiões da morte e cooperam com todos os irmãos de boa vontade e exclamam num só júbilo: “Deus existe! Não morremos jamais!…” Os séculos de experiências e de lutas purificadoras nos identificam as aspirações, através de existências numerosas. Encontrar-nos-emos, além, onde todos os conceitos irreais das fantasias humanas desaparecem, no glorioso Plano imortal!

E a nossa mensagem felicita os que estavam caídos no deserto das sensações amargas e inquietantes do mundo. Um novo exército de trabalhadores se arregimenta, em toda parte. Para ele, os governos podem modificar todas as disposições e todas as estruturas dos estados humanos. A tirania ou a força só poderão apressar a execução de sua tarefa sublime, porque o seu esforço é de perfeição de cada um para as grandezas imortais de um só reino com Jesus Cristo no coração e no espírito de todos.

É por isso, amigos, que aceitando o concurso das demonstrações científicas ou das especulações filosóficas da Terra, o Espiritismo, em sua essência, é o Cristianismo redivivo, a palavra e a promessa do Cristo vividas nos homens e pelos homens. Enquanto as inquietações religiosas e políticas do século formam, a cada dia, novas correntes de pensamento e novas teorias sociais, de consequências imprevisíveis para a existência organizada dos povos terrestres, os discípulos humildes de Jesus trabalham com devotamento e amor pela edificação do homem espiritual para que este se dignifique, se eleve, se redima, se ilumine e salve com o Evangelho, socorrendo o homem físico mergulhado na sombra de conhecimentos que se tornaram mesquinhos e perversos na movimentação de todos os processos de morticínio e de destruição.

Desejando-vos, pois, muita paz, essa paz desconhecida do mundo e que constitui o tesouro do Espírito que se uniu à verdade real na redenção, rogo a Jesus que nos faça dignos do bom trabalho, sob as bênçãos do seu amor e sob a providência misericordiosa de Deus.