Luz no Lar

Capítulo XX

Filho que não nasceu



Fui trazido ao teu colo e sussurro, baixinho:

— “Mãe, eu serei na carne o sonho de teu sonho!…”

Depois, em prece ardente, em ti meus olhos ponho,

Pássaro fatigado ante a úsnea do ninho.


Abraço-te. És comigo a esperança e o caminho…

Em seguida — oh! irrisão —, eis que, num caos medonho,

Expulsas-me a veneno, e, bruto, me empeçonho,

Serpe oculta a ferir-te em silêncio escarninho.


Já me dispunha a dar o golpe extremo, quando

Surge alguém que me obriga a deixar-te dançando

Em formoso salão onde o prazer fulgura.


Passa o tempo. Hoje volto… É o amor que em mim arde.

Mas encontro-te, oh! mãe, a gemer, triste e tarde,

Sombra que foi mulher, enjaulada à loucura…




Este soneto foi publicado em 1962 pela FEB e encontra-se na 10ª lição da 3ª Parte do livro “”