Mamãe, — pergunta a pequena. Contemplando a sementeira, Por que razão há marmelos Ao lado da pimenteira? É verdade, Manoelita. — Responde a mãe carinhosa, — A natureza é cartilha Da lição silenciosa. A origem de cada coisa Pertence à sabedoria D’Aquele que fez o Sol, A Noite, o Luar, o Dia. Mas notemos no canteiro A sugestão que ele encerra Duas plantas diferentes, Nascidas da mesma terra. A pimenta, muitas vezes, Fere a boca descuidada; Ao passo que agrada sempre O gosto da marmelada. E, enquanto a menina ouvia, Refletindo, atenciosa, A palavra maternal Concluía, generosa: — Nossa existência no mundo, Em todos os seus minutos, É como o solo amoroso Sempre disposto a dar frutos. Paz, fortaleza, alegria, Desencantos e aflição Dependem da sementeira Na terra do coração. |