Em teus dias de dor, Recorda, alma querida, Que a dor é para a vida Aquilo que o buril severo e contundente, Entre as mãos do escultor, É para o mármore sem forma… Golpe aqui, golpe ali, outro mais e mais outro, Um corte de outro corte se aproxima, E o bloco se transforma Em celeste beleza de obra-prima. Que seria da pedra abandonada, ao chão, Triste, bruta, singela, Se a vida não traçasse para ela Planos de construção? Que destino o da argila esquecida e vulgar, Sem a temperatura desumana, Que deve suportar Para ser porcelana? Enxergaste, algum dia, Fora das leis da natureza, O trigo que não fosse triturado Para ser pão à mesa? Se alguém te fere e humilha, ama, entende, perdoa E agradece ao trabalho, a angústia e a prova, Em que a vida imortal se nos renova, No anseio de ascensão que nos guia e abençoa… Alma querida, escuta!… Para seguir à frente, Em plena elevação Sempre mais alta e linda, Quem não chora, não serve e nem padece ou luta, Parece tão somente Um ser espiritual em formação Que não nasceu ainda… |