Maria Dolores

Capítulo XV

Obreiros de Deus



Escuta, alma querida,

Se a força que orienta as construções da vida

Resolveu entregar-te

A comunicação do bem e da cultura

Pelos caminhos da arte,

Por maior seja a dor que te renova e apura,

Nunca te desanimes

No alto ministério em que te pões,

Sê fiel à missão em que te exprimes,

Criando e recriando gerações.


Mesmo de coração amarfanhado,

Perante o mundo desatento,

Não desistas da luta que te alcança,

Em amassando, a trigo de esperança,

O pão do pensamento.

Entre a imortalidade e as visões da beleza,

Contempla o mundo à frente,

Pensa no plano artístico esplendente

Em que se fundamenta a Natureza.


Onde o verde se alonga, anota nos caminhos

Aves lembrando intérpretes de sonhos

E equipes orquestrais nos troncos e nos ninhos.


Quando a tarde aparece sobre os campos

E a sombra se desata,

Fita a erva a surgir sob adornos de prata

Feitos na tênue luz dos pirilampos.


Vejamos nos jardins:

Cravos recordam belos arlequins

Dançando ao sol e ao vento,

Enquanto sob o azul do firmamento,

Quase concretizando músicas divinas,

No tecido aromal que os entretece,

Os lírios são pierrôs filosofando em prece

E as rosas são alegres colombinas.


Quando as nuvens no Espaço

Lançam granizos e clamores,

Em raios e trovões ameaçadores

Nos golpes da tormenta,

De estrondo a estrondo e estilhaço a estilhaço,

É uma tragédia que se representa.

Sem que as distâncias possam escondê-las

Quando a treva noturna tudo invade,

Olha o bailado e as luzes das estrelas

Com notícias dos Céus na 1mensidade!…


Assim também, alma querida,

Cumpre a missão que te engrandece a vida,

Educa, eleva, ampara, serve e ama…

Arte é divina chama, Realeza sem plebeus,

E artistas que se dão ao trabalho fecundo

De aliviar a dor e melhorar o mundo

São obreiros da paz com mensagens de Deus.