Alguém, um dia, Perguntou a Michelangelo Enquanto ele esculpia: — Senhor, por que razão Martelar, martelar Esta pedra indefesa? Não seria mais justo Deixá-la em paz No coração da natureza? O escultor, entretanto, Respondeu simplesmente, Sem alterar a voz: — Um anjo mora preso Neste bloco maciço E tenho o compromisso De trazê-lo até nós. E batendo e cortando, Aresta sobre aresta, Aparando e brunindo O mármore que entesta, Vê, afinal, o instante Em que ele próprio exulta… A obra-prima que jazia oculta Aparece, soberana: É um anjo que sorri quase que em filigrana, Uma pedra, por fim que se transforma Com prodígios de forma, Em requintes de luz e de beleza humana… Assim também, alma querida, Quando a dor te ameace ou te amarfanhe a vida, Não grites maldições, Nem fabriques labéus… A prova é a força que te aperfeiçoa, A dor nasce de Deus por dom profundo Que te arranca do mundo Para brilhar nos Céus. |