Maria Dolores

Capítulo XIII

Estudo no lar



Indagas, muitas vezes, de alma aflita,

Onde, na Terra, a fórmula bendita

De conquistar a paz, nas trilhas do dever;

Entretanto, no mundo, alma querida,

Tudo aquilo que nutre ou que engrandece a vida

É trabalho do bem que procura esquecer.


Ninguém pode olvidar as instruções das cousas,

Fita o abrigo doméstico onde pousas

Num momento qualquer de silêncio ou lazer;

Do piso ao teto ou do alimento à mesa,

Pensa nas formações da natureza,

Que te apoiam no lar, procurando esquecer.


As pedras do alicerce que se esconde,

Não te pedem aplauso e nem te explicam onde

Quereriam, por si, permanecer;

Aceitam suportar-te a casa, instante a instante,

Lembrando humildes mãos, resguardando um gigante,

Esquecidas no chão, procurando esquecer.


A porta que te guarda a segurança,

Seja em madeira ou não, jamais se cansa

De amparar-te, gastar se e obedecer;

Água corrente e limpa em teu próprio aposento,

Praticando humildade e ajudando, a contento,

É a fonte que se dá procurando esquecer.


A lâmpada a teu lado, o armário, o leito amigo,

O livro que conversa a sós contigo,

Doando-te consolo e ensinando-te a ver,

A roupa que te veste, o prato fume e atento,

— Isso tudo é valor em movimento,

Agindo em teu favor, procurando esquecer.


Assim também, no mundo, alma querida e boa,

Para reter a paz, ama, luta e abençoa,

Não te doa ajudar, nem te importe sofrer…

Dores e inquietações? Alegra-te ao vencê-las,

Do subsolo ao chão e do chão às estrelas,

Deus nos pede servir, trabalhar e esquecer.