Por vezes, tanto empeço na estrada, Que indagas, coração, de alma desencantada, Por que meios humanos prosseguir… Entretanto, ergue a fronte, ao vasto firmamento, Da nuvem mais pesada ou do céu mais cinzento Uma luz há de vir… Deus a ninguém esquece… Ante a sombra noturna, Sem bússola na selva imóvel e soturna, O viajor se detém, sem coragem de agir; Pára, pensando em Deus… A névoa se condensa… Mas a oração lhe diz, além da sombra imensa: Uma luz há de vir… Abate-se na mina a sinistra barragem, Pedras, detrito e lama impedem a passagem, Vozes clamam, no fundo, a gemer e a pedir; Eis que a prece se eleva e, ao socorro da Altura, Gritam vozes de irmãos, promovendo a abertura: Uma luz há de vir… É noite. Sobre o mar, há bulcões em batalha, Relâmpagos relembram fogo de metralha No trovão a rugir; O barco, aos vagalhões, treme, estremece, estala Pequena multidão, ora, espera e se cala… Uma luz há de vir… Desse modo, igualmente, alma fraterna, Quando a prova por sombra te governa, Qual noite que te oculta as visões do porvir, Quando tudo pareça escuridão que avança, Trabalha, serve, crê e ouve a voz da esperança: Uma luz há de vir… |