Mensagens de Inês de Castro

Palavras do Coração



A partir da 18ª edição, Mensagens de Inês de Castro está com nova capa e acrescida de um novo capítulo sobre Chico Xavier, além de algumas fotos de locais muito caros a Inês e Pedro, personagens da inesquecível história de amor do século XIV.

Esses recantos marcaram o início dos dez anos felizes que o casal viveu desde o retorno de Inês de Castro a Portugal, na primavera de 1346, após o exílio em Castela. Situam-se próximos a Moledo, na estremadura portuguesa.

A capa fala por si, e o novo capítulo compõe uma trilogia referente a Isabel de Aragão (), trazendo na sequência: a biografia da rainha santa, a descrição de sua visita ao Chico em 1927 e o encontro, que ambos tiveram no Plano Espiritual, pouco antes da reencarnação de Francisco Cândido Xavier.

Mensagens de Inês de Castro, nesta nova edição, volta-se inteiramente ao amor medieval e às consequências espirituais do doloroso martírio de Inês de Castro.

É impossível não nos emocionarmos, sabendo que Inês, horas antes de seu derradeiro infortúnio, ao despedir-se de Pedro, que partia para uma caçada nos primeiros albores da manhã fria de inverno, intuía no fundo da alma que se tratava de definitiva despedida.

Nas cartas que o Chico me entregou, você, caro leitor, conviverá com fatos ocorridos em época tão distante.

Trata-se de um período da Idade Média assolado por guerras, pestes, pelos rigores do frio, com suas longas noites escuras, pelo difícil cotidiano da vida sem expectativas, tudo isso apanágio do ser medieval.

Temia-se a morte, que levaria ao Céu inabordável ou ao Inferno, mais duro e vingativo que o das tradições mitológicas gregas.

Vamos às mensagens de Inês de Castro.



São Bernardo do Campo, junho de 2011.




O Chico que conheci



O tempo passa, as vidas se sucedem e com elas os reencontros.

Apesar de tê-lo conhecido nos idos de 1959 e de densa convivência nas décadas de 1960 e 1970, nosso reencontro efetivo se deu em meados de dezembro de 1976, quando Chico convalescia de um distúrbio cardíaco.

Meu pai Rolando, o amigo Roberto Montoro e eu chegamos a Uberaba para visitá-lo. Naquele fim de manhã, encontramo-nos na sala de almoço de sua casa, e, após os cumprimentos, pedi ao Chico alguns poucos minutos para uma conversa mais reservada.

Ficamos, então, na soleira da porta do seu quarto, ao lado da sala de refeição, ambiente físico do conhecimento de quem com ele conviveu.

Após responder rapidamente ao que lhe expus, para surpresa minha, começou a falar das responsabilidades que me competiam na atual existência. A conversa, melhor dizendo, o agradável monólogo não terminava… Decorridos cerca de 40 minutos, voltamos à presença do meu pai e de Roberto Montoro.

Senti-me diferente, como que flutuando, envolvido em uma sensação de paz e harmonia, que, a despeito das lutas da vida, nos momentos essenciais, sempre permaneceu comigo.

Pouco tempo depois, no início de 1977, estive com meu pai no Rio de Janeiro, em Tarde de Autógrafos do Chico, no grupo espírita do Jorge Gaio, em Bonsucesso.

O Chico ainda convalescia do problema cardíaco, e esperávamos, em sala contígua ao local em que repousava após leve refeição, o início das atividades, quando me chamou para conversar. Num átimo estava junto dele.

Novamente foram instantes mágicos, interrompidos pela necessidade do início da Tarde de Autógrafos, de que participaria público inumerável e que avançaria noite adentro.

Foi uma continuação de nossas conversas do dezembro anterior.

Transportei-me, enquanto Chico falava, para algum local que até hoje procuro, dado o envolvimento espiritual e afetivo daqueles longos momentos vividos com o coração.

Entendo hoje que aqueles dois encontros serviram de preparação, para que eu pudesse receber do Chico, ao longo de 1977, as mensagens de Inês de Castro a ele transmitidas.

Naquela época, quando Chico completava 50 anos de mediunidade, meu pai e todos nós do GEEM vivíamos momentos difíceis.

Talvez em função disso, o saudoso benfeitor tenha começado a preparar-me espiritualmente para o adequado suporte ao meu genitor, verdadeiro leão na defesa da causa doutrinária e incondicional amigo de Chico Xavier.

Logo em seguida, ocorreu o terceiro encontro, nos idos de março de 1977, quando de uma visita do Chico à casa de meus pais, em São Paulo. Então, desdobrou-se-me claramente ao espírito toda a sua grandeza d’alma.

À pequena assembleia que fora, a convite de meu pai, recepcioná-lo, falou durante cerca de uma hora, mostrando ao grupo as nossas responsabilidades na divulgação, em língua portuguesa, da mensagem de Jesus sob a vestimenta espírita.

Como dissera muitas coisas interessantes, vinculando o grupo a passado remoto de mais de 600 anos, às despedidas, pedi-lhe que contasse mais…

Chico olhou-me com firmeza e indagou:

— Você quer mesmo saber?

— Sim, anuí algo atônito.

— Então aguarde-me o telefonema no domingo à meia-noite.

Era uma quinta-feira, lá pelas 22 horas. Nessa época, eu residia em São Bernardo do Campo, município vizinho a São Paulo.

À meia-noite do domingo, ao atendê-lo, ouvi a inconfundível voz do querido amigo. Após os cumprimentos habituais, Chico perguntou:

— Posso ler?!!!

Pensei com os meus botões: meu Deus, ler o quê?

Contudo, incontinenti, respondi:

— É evidente, Chico.

Foram sessenta minutos de uma leitura clara, pausada, entremeada de lágrimas.

Foi difícil, pela emoção, continuar conversando, mas pude dizer-lhe:

— Amanhã estarei com você aí em Uberaba, Chico.

De fato, no dia seguinte, lá pelas seis da tarde, após horas de viagem, chegava à sua casa, e conversamos até alta madrugada, apenas interrompendo nosso colóquio, quando os galos já ensaiavam os primeiros cantos, porque o Chico me observou cansado.

Na manhã seguinte, o diálogo se estendeu até o meio-dia, e voltei para São Bernardo do Campo, portando comigo o texto que ele me lera por telefone.

Foi o início de uma série longa de visitas, que eu lhe fazia a cada três semanas.

Algumas vezes, ao voltar para São Paulo, o Chico vinha junto comigo. Nas longas horas de viagem, atentamente eu o ouvia.

Desde aquela noite de domingo, de março de 1977 até o fim do ano, por telefone, conversávamos diariamente cerca de hora e meia, sempre após a meia-noite, à exceção das sextas e sábados, devido às reuniões públicas com sua presença em Uberaba.

A cada telefonema, ele me lia uma mensagem de Inês de Castro, reunindo os textos, para que eu os pegasse a cada retorno à sua casa. E assim foi durante todo 1977…

É claro que, a partir de 1978, os contatos continuaram, mas com frequência menor, porque sabiamente o saudoso amigo percebeu que, a continuar naquele ritmo, eu não daria conta dos afazeres, na época numerosos. Conversávamos numa de suas salas de trabalho, ao som de música suave. Algumas vezes, nas noites estreladas, dirigíamo-nos ao jardim de sua casa, permanecendo próximos a uma gardênia solitária.

Nesses colóquios, o tempo deslizava com conselhos, ponderações, narrativas e relatos comoventes, que denotavam sua veneração por Isabel de Aragão, a Rainha Santa.

Assim fui conhecendo, por dentro, a luminosa alma que nos deu tudo de si, na sua vida de lutas acérrimas, sem nada exigir.

Passaram-se trinta anos.

Mais amadurecido, com o espírito asserenado, voltei a pensar naquele acervo que o Chico me entregara — embora nunca o tivesse esquecido.

Lembro-me, com imensa saudade, de que o Chico, ao passar-me às mãos a primeira mensagem mediúnica de Inês de Castro, disse-me:

— Caio, estas páginas lhe pertencem, como lhe pertencerão as futuras que Inês eventualmente escrever. Faça delas o uso que sua intuição no devido tempo sugerir.

Muito interessante é o fato de constar em destaque, sempre no início de cada capítulo do texto recebido pelo Chico, o seguinte título: Livro Mensagens de Inês de Castro.

Em nossos encontros, o Chico falava com muito carinho sobre o tema central das mensagens, que mergulha na 1dade Média de Portugal, especialmente no período da dinastia dos reis afonsinos.

A distribuição do texto, a rara beleza de seu conteúdo e o cuidado do nosso saudoso amigo em transmitir com a própria letra as informações espirituais comoveram-me muito.

Parecia claro que o valioso acervo espiritual não me fora destinado por acaso.

Algo me dizia que deveria transformá-lo em um livro que contasse a história de Inês, enriquecida com as informações do Plano Espiritual.

E resolvi envolver-me na redação deste livro, caro leitor. Os fatos históricos, que descrevo, são reais e remontam ao século XIV na Península Ibérica, de modo especial em Portugal, e coloquei-os como simples moldura das cartas mediúnicas.

E assim surgiu Mensagens de Inês de Castro em setembro de 2006.

Devo tudo ao Chico: a bela história, o carinho com que nela me introduziu, com ensinamentos inesquecíveis.

A ele, comovido, expresso minha gratidão nas simples palavras que dizem muito:

— Chico, obrigado por tudo!


São Bernardo do Campo, maio de 2009.



- Os textos de Inês de Castro, transmitidos por Chico Xavier, foram impressos na fonte Times New Roman, em estilo . [Nesse livro eletrônico com fonte diferençada]




Esclarecimento



O livro se inicia com a primeira mensagem do espírito de Inês de Castro, recebida pelo Chico no início de 1977. O querido amigo e benfeitor entregou-me, em março daquele ano, o longo texto que reproduzo a seguir.

Trata-se de impressionante depoimento, dos mais belos que conheci, inspirado no amor e escrito com as fibras vivas do coração.

Por respeito a pessoas encarnadas e seus familiares, o conteúdo das mensagens não foi colocado integralmente.

Desdobra-se, nas páginas seguintes, a saga de amor através dos séculos, que descrevo mesclando, numa sequência lógica e o quanto possível harmoniosa, o texto de minha autoria e os depoimentos de Inês transmitidos pelo Chico.





Prefácio de Luz



No prefácio de luz,

Quero dizer-lhe ao coração

Todo feito no amor que nos conduz

À paz e à elevação

Que você, rei amado,

Jamais está sozinho…

Que estamos nós em seu caminho

Para formar-lhe o séquito de amor…

Lutas, preocupações, ânsias, muralhas,

A sua mão poderosa há de vencê-las,

E o seu cetro de paz, acima das batalhas

Que tanta vez o mundo impõe à vida,

Refletirá na Terra o fulgor das estrelas…

Haja o que houver na estrada a percorrer,

Brilho, pesar; dor ou prazer

Não permita que sombra ou desalento

Possam trazer-lhe mágoa ou sofrimento.

Deus traçou seu caminho entre bênçãos e rosas

Que se lhe fazem sempre mais formosas

À medida em que avança

O seu carro triunfal de bondade e esperança.

Na Terra, a sua marcha é a de um gênio divino,

Sempre atento e fiel ao seu próprio destino…

Sigo-lhe, amado rei, a bela trajetória,

Agradecendo a Deus os louros da vitória,

Que lhe marcam a fé e os ideais…

É por isso que, hoje, aqui lhe peço:

Conserve o coração nas flamas da alegria,

Em seu reino de amor e de progresso.

Escute, amado soberano,

Toda a maravilhosa melodia

Que exalta o seu poder divino e humano…

O castelo do lar iluminado

De abençoadas alegrias,

Uma princesa generosa e boa

A proteger-lhe a vida

E três príncipes lindos que lhe guardam

A ternura e a nobreza.

E tantos companheiros de valor,

dos mais altos valores

Atualmente como outrora,

Que se esmeram, como sempre souberam se esmerar,

A espelharem novamente agora

Os seus feitos de luz

Transformados em novos resplendores…

E quanto a mim, querido soberano,

Sou, como sempre fui, como sempre serei,

A singela oração

Ao seu lado escondida,

Pedindo a Deus lhe guarde e exalte a vida

E lhe guarde a ventura

Sagrada para mim, como sempre será…


Fique feliz, sempre feliz,

Porque fico feliz, só de vê-lo feliz…

Nesta singela carta, é tudo o que lhe diz

Todo o meu coração, sempre seu coração,

Porque constantemente sou como sempre serei

Essa prece incessante,

Que pede a Deus, instante a instante,

Pela felicidade do meu rei.





Bibliografia







Posfácio



E assim foi. Ainda brilhavam as estrelas quando os membros da comitiva real percorreram as léguas que faltavam até à alcáçova de Coimbra e logo pouco tempo depois desceram para Santa Clara.

Abriam-se no céu os alvores do dia que faziam o espelho liso do Mondego brilhar como prata derretida, neste 7 de janeiro (…)


Seomara da Veiga Ferreira, ao descrever os derradeiros momentos que precederam a decapitação de Inês a 7 de janeiro de 1355. ()