Na Era do Espírito

Capítulo XIV

Os temas da prece




“Em nossa reunião pública dedicada às comemorações do nascimento do nosso benemérito amigo Dr. Bezerra de Menezes, a lição de O Evangelho Segundo o Espiritismo () trazida a estudo foi o item 22 do capítulo XXVII.

A nossa Instituição recebia, nessa noite, a visita de mais de uma centena de irmãos de várias cidades e os temas da prece animaram vivamente todos os comentários. Quase todas as explanações versaram sobre a maneira de pedir ou de agradecer, sobre o que devemos rogar aos céus e como dialogar com a Espiritualidade Maior.

Encerrando as tarefas da noite, a nossa benfeitora espiritual Maria Dolores, por nosso intermédio, escreveu a página “Petição a Jesus” que nos comoveu muito. Prometi à maioria dos companheiros que faria ao caro Professor a remessa dessa oração de nossa irmã, na ideia de tê-la enriquecida com os seus apontamentos.”



Maria Dolores

Senhor!

Perante os que se vão

Sob nuvens de pó e rajadas de vento,

Dá-me o dom de sentir

No próprio coração

A chaga e o sofrimento

Que carregam consigo

Por fardos de aflição…

Faze, Divino Amigo,

Ante a dor que os invade,

Que eu lhes seja migalha de conforto

Na travessia da necessidade.


Agradeço-te os olhos: que me deste,

Espelhos claros com que me permites

Fitar fontes e flores

Ante o céu sem limites…

Mas rogo-te, Senhor,

Ajuda-me a estender a luz em que me elevas

Cooperando contigo, embora humildemente,

No socorro constante aos que jazem nas trevas.


Rendo-te graças pela minha voz

Que te pode louvar

E engrandecer-te sem qualquer barreira

De inibição, de forma, de lugar…

Entretanto, Jesus, aspiro a estar contigo,

Em singela tarefa que me dês

No apostolado com que recuperas

Nossos irmãos atados à mudez.


Agradeço os ouvidos

Em que o discernimento se me apura

Ao escutar o verbo e a música da vida

Na ascensão à cultura.

Consente-me, porém, o privilégio

De repartir o amor com que me assistes

Revigorando a quantos se fizeram

Retardados ou tristes.


Agradeço-te as mãos que me cedeste

Para dar-me ao trabalho que te peço

Na atividade do cotidiano

Em demanda ao progresso.

Aprova-me, no entanto, o propósito ardente

De partilhar contigo o serviço fecundo

Com que amparas a todos os enfermos

Que vivem sob a inércia entre as provas do mundo!


Agradeço-te o lar que me descansa

No calor da ternura em que me aqueço,

Meu veludoso ninho de esperança,

Meu tesouro sem preço…

Mas deixa-me seguir-te, lado a lado,

No concurso espontâneo, dia a dia,

A fim de que haja abrigo a todos os que passam

Suportando sem teto a chuva e a noite fria!


Rendo-te graças, incessantemente,

Por tudo o que, em teu nome, o caminho me traz,

— A compreensão, a luz, o estímulo, o consolo,

O apoio, a diretriz, a experiência, a paz…

Não me largues, porém, no exclusivismo vão

De tudo o que me dês, ajuda-me, Senhor,

A dividir também com os outros que te esperam

A mensagem de fé e a presença de amor!




“As condições da prece foram claramente definidas por Jesus”, escreveu Kardec no capítulo XXVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo. () E para prová-lo transcreveu os trechos dos Evangelhos de Mateus (Mt 6:5), de Marcos (Mc 11:25) e de Lucas (Lc 18:9) que a seguir comentou. No item 22 desse capítulo () inseriu uma comunicação mediúnica do pastor protestante Monod intitulado “Modo de orar”.

Nessa comunicação Monod adverte: “O primeiro dever de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar o seu retorno à atividade diária é a prece. Vós orais, quase todos, mas quão poucos sabem realmente orar!” E passa a discorrer sobre a oração e a melhor maneira de faze-la, acentuando: “Pedi, antes de tudo, para vos tornardes melhores e vereis que torrentes de graças e consolações se derramarão sobre vós”.

Nas reuniões com Chico Xavier várias pessoas são convidadas a falar sobre o tema de estudos da noite. Esses temas são escolhidos pelos Espíritos que dirigem os trabalhos, pois o livro é aberto ao acaso e cai sempre um tópico referente às preocupações dominantes no recinto. Lido o texto, passa-se aos comentários e no final o médium recebe uma comunicação psicográfica.

Todas as explicações já haviam sido dadas, todos os comentários já haviam sido feitos quando Maria Dolores trouxe, através do médium, o seu aparte do Além. E preferiu faze-lo em forma de exemplo. Ao invés de dar uma nova explicação, fez a sua prece a Jesus. Essa prece corresponde exatamente às condições definidas por Monod. É um agradecimento espontâneo pelas graças recebidas e um pedido para maior atividade no campo da fraternidade e do amor. As condições da prece e a maneira de faze-la estão bem claras nesse poema em que a inspiração da poetisa confirma, em versos, as lições do Evangelho.