“Nossa reunião pública do dia 4 de setembro de 1972 foi integrada por grande número de senhoras, sendo precedida por longo diálogo em que algumas delas formulavam perguntas em torno de crianças em dificuldades, conquanto filhas de pais ainda vivos na Terra.
Como agir diante dos pequeninos em tenra infância, sob o impacto das questões que aparecem na área dos casais desquitados? Como socorrer as criancinhas abandonadas pelos pais nas mãos abnegadas, entretanto em penúria, de mães largadas pelos companheiros?
Que fazer dos pequeninos nascidos de dedicadas mães solteiras em luta pela própria manutenção? Como agir a mulher diante dos filhinhos necessitados de proteção e assistência, quando os maridos ou companheiros se fazem alcoólatras inveterados?
Indagações quais essas foram feitas em grande número. E os argumentos alusivos ao assunto foram os mais diversos. Iniciadas as tarefas doutrinárias da noite, O Livro dos Espíritos () nos ofereceu a questão número 890 para estudos e comentários.
Ao término da reunião nosso caro Emmanuel escreveu a mensagem “Palavras às mães” que passo às suas mãos a pedido de várias das senhoras que estavam presentes.”
Se o Senhor te concedeu filhos ao coração de mulher, por mais difícil se te faça o caminho terrestre, não largues os pequeninos à ventania da adversidade.
É possível que o companheiro haja desertado das obrigações que ele próprio aceitou, bandeando-se para a fuga sob a compulsão de enganos, dos quais um dia se desvencilhará.
Não lhe condenes, porém, a atitude. Abençoa-o e, quanto possível, ampara os filhos inexperientes que te ficaram nos braços fatigados de espera.
Quem poderá, no mundo, calcular a extensão das forças negativas que assediam, muitas vezes, a criatura enfrascada no corpo físico, induzindo-a a transitório esquecimento dos encargos que abraçou? Quem conseguirá, na Terra, medir a resistência espiritual da pessoa empenhada ao resgate complexo de compromissos múltiplos a lhe remanescerem das existências passadas?
Se foste sentenciada à indiferença e, em muitas ocasiões, até mesmo à extremada penúria, ao lado de pequeninos a te solicitarem proteção e carinho, permanece com eles e, esposando o trabalho por escudo de segurança e tranquilidade, conserva a certeza de que o Senhor te proverá com todos os recursos indispensáveis à precisa sustentação.
Natural preserves a própria independência e que não transformes a maternidade em cativeiro no qual te desequilibres ou em que venhas a desequilibrar os entes amados, através do apego doentio. Mas enquanto os filhos ainda crianças te pedirem apoio e ternura, de modo a se garantirem na própria formação da qual consigam partir em demanda ao mar alto da experiência, dispensando-te a cobertura imediata, auxilia-os, quanto puderes, ainda mesmo a preço de sacrifício, a fim de que marchem, dentro da segurança necessária, para as tarefas a que se destinam.
Teus filhos pequeninos!… Recorda que as Leis da Vida aguardam do homem a execução dos deveres paternais que haja assumido diante de ti; entretanto, se és mãe, não olvides que a Previdência Divina, com relação ao homem, no que se reporta a conhecimento e convívio, determinou que os filhos pequeninos te fossem confiados nove meses antes.
Seria o amor materno uma virtude ou apenas um instinto que tanto se manifesta na Humanidade quanto nos animais? Kardec propôs essa questão aos Espíritos Superiores e podemos encontrá-la, com a resposta dada, na pergunta 890 de O Livro dos Espíritos. () Na reunião a que se refere Chico Xavier, aberto o livro ao acaso, foi essa a questão que caiu para os estudos.
Os Espíritos respondem que o amor materno é instinto nos animais e também na criatura humana, mas nos animais é limitado às necessidades de conservação e desenvolvimento da prole, desaparecendo em seguida. E acrescentam: “Na criatura humana persiste por toda a vida e comporta um devotamento e uma abnegação que constituem virtudes, pois sobrevivem à própria morte, acompanhando o filho além da tumba. Vede que há nele alguma coisa mais do que no animal”.
Nas sessões mediúnicas, quando nos defrontamos com Espíritos endurecidos, vemos quase sempre que eles são socorridos pelas mães que se desvelam no mundo espiritual a ampará-los e desviá-los do erro. É o amor materno acompanhando-os além da tumba. São fatos assim que nos dão a segurança da verdade espírita, pois de Kardec até hoje os princípios doutrinários são confirmados em todas as experiências sérias e bem dirigidas.
Na mensagem de Emmanuel temos também o problema do amor fraterno, que é essencial para a evolução humana. Esse amor, que abrange a todas as criaturas, depende da nossa capacidade de superação do egoísmo, de nos elevarmos acima de nós mesmos para podermos perdoar e aceitar os outros. É o caso da esposa abandonada pelo marido que a deixa em dificuldades para criar e educar os filhos. Emmanuel lembra a carga de forças negativas procedentes de existências anteriores e a fragilidade da criatura humana para vencê-las em certas circunstâncias. Daí aconselhar à mulher que não condene o trânsfuga, para não aumentar essa carga, auxiliando-o a vencê-la com os seus bons pensamentos e sentimentos de amor.
A mãe está biológica e espiritualmente mais ligada aos filhos do que o pai. Nela, portanto, o instinto natural e a virtude moral se conjugam de maneira mais profunda. Grande é a responsabilidade paterna pelos filhos, mas a responsabilidade materna é ainda maior.