“Em uma de nossas reuniões públicas foi ventilada a questão de nossas homenagens aos irmãos desencarnados. Como se sentem eles com as nossas comemorações e lembranças?
Em torno dessa pergunta foram entretecidos comentários numerosos. E quando no início de nossas tarefas O Livro dos Espíritos () nos deu para estudo a questão n.° 323 que se vincula ao assunto, as explanações dos companheiros presentes foram as mais diversas.
No término da reunião o nosso caro Emmanuel escreveu a página que lhe envio. É uma prece que nos sensibilizou e nos fez recordar a todos o Dia de Finados.”
NOTA — O problema das comemorações do Dia de Finados, bem como dos funerais e de homenagens prestadas aos mortos, mereceu um tópico especial do capítulo VI de O Livro dos Espíritos. () A posição doutrinária, ao contrário do que geralmente se pensa, é favorável a essas homenagens, desde que sinceras e não apenas convencionais. Os Espíritos, respondendo a perguntas de Kardec a respeito, mostraram que os laços de amor existentes entre os que partiram e os que ficaram na Terra justificam esses atos. E declararam que no Dia de Finados os cemitérios ficam repletos de Espíritos que se alegram com a lembrança dos parentes e amigos.
Senhor Jesus!…
Enquanto os irmãos da Terra procuram a nós outros — os companheiros desencarnados — nas fronteiras de cinza, rogando-te amparo em nosso favor, também nós, de coração reconhecido, suplicamos-te apoio em auxílio de todos eles, principalmente considerando aqueles que correm o risco de se marginalizarem nas trevas!…
Pelos que perderam a fé, recusando o sentido real da vida, e jazem quase mortos de desespero;
pelos que desertaram das responsabilidades próprias, anestesiando transitoriamente o próprio raciocínio, e surgem quase mortos de inanição espiritual;
pelos que se entregaram à ambição desmesurada a se rodearem sem qualquer proveito dos recursos da Terra, e repontam do cotidiano quase mortos de penúria da alma;
pelos que se hipertrofiaram na supercultura da inteligência, gelando o coração para o serviço da solidariedade, e aparecem quase mortos ao frio da indiferença;
pelos que acreditaram na força ilusória da violência, atirando-se ao fogo da revolta, e se destacam quase mortos de angústia vazia;
pelos que se perturbaram por ausência de esperança, confiando-se ao desequilíbrio, e se revelam quase mortos de aflição inútil;
pelos que abraçaram o desânimo por norma de ação, parando de trabalhar, e repousam quase mortos de inércia;
e pelos que se feriram ferindo aos outros, encarcerando-se nas Cadeias da culpa, e estão quase mortos de arrependimento tardio!…
Senhor!… Para todos os nossos irmãos que atravessam a experiência humana quase mortos de sofrimentos e agravos, complicações e problemas criados por eles mesmos, nós te rogamos auxílio e bênção!…
Ajuda-os a se libertarem do visco de sombra em que se enredaram e traze-os de novo à luz da verdade e do amor, para que a luz do amor e da verdade lhes revitalize a existência a fim de que possam encontrar a felicidade real contigo, agora e para sempre.
A morte só existe para os que querem morrer. A necrofilia ou o amor da morte — no sentido negativo da palavra — é uma doença mental e psíquica, uma tendência mórbida de certos temperamentos, hoje bem definida em Psicologia. Não se trata da aberração sexual a que se aplicava a palavra tempos atrás, mas daquela “aberração da inteligência”, a que se referia Kardec, que leva o indivíduo a negar a sua própria capacidade de viver e de sentir a vida.
Todo aquele que gosta de destruir e se destrói a si mesmo, aniquila as suas próprias forças vitais e mata as esperanças de vida que os outros acalentam e defendem, é necrófilo. Sabemos que a morte não existe, porque nada se acaba, tudo se transforma. O aniquilamento total do ser pelo simples fenômeno da morte -— um fenômeno biológico de mutação — não pode mais ser admitido por uma pessoa ilustrada, pois o avanço atual do conhecimento positivo superou de muito as ilusões negativas do materialismo.
Apesar dessa inegável realidade nova os necrófilos se apegam à ideia da morte como aniquilamento total do ser. E por isso se desesperam, entregando-se à própria destruição, apressando a própria morte “no visco de sombra em que se enredaram”, segundo a expressão de Emmanuel. E entregando-se ao ceticismo autodestruidor compram a morte por antecipação, no crediário “do desespero e das aflições inúteis”. São esses os “quase mortos” pelos quais os “mortos”, no Dia de Finados, oram do lado de lá da vida.
A oração de Emmanuel pelos “quase mortos” não é uma peça de efeito religioso ou literário. É um sinal dos tempos, revelando-nos que, do outro lado da vida, aqueles que em nossa ignorância chamamos de mortos velam pelos “quase mortos” da Terra e pedem a Deus por eles. O verdadeiro morto não é o que deixou o seu corpo no túmulo, mas o que se serve do corpo para viver na Terra como um morto ambulante. Que essa oração nos lembre, neste Finados, as palavras de Isaías: “Os teus mortos viverão!”. (Is