“Envio-lhe mensagem de nosso caro Emmanuel recebida em reunião pública. Nossa casa estava com grande número de irmãs e irmãos que se referiam a lutas e problemas com os filhos casados.
Opiniões diversas se entrechocavam. Aberta a nossa reunião, as questões números
Depois de comentários diversos da parte de muitos dos nossos irmãos que integravam a reunião, Emmanuel escreveu, por nosso intermédio, a página que os amigos presentes solicitaram fosse enriquecida com seus estudos e comentários destinados às nossas reflexões e aos nossos diálogos em torno dos ensinamentos de Allan Kardec.”
Tema que provavelmente se nos afigurará corriqueiro, mas sempre da mais alta importância nas questões de relacionamento — os filhos casados.
Muito comum na Terra, quando na mordomia do lar, esquecermo-nos de que os nossos filhos cresceram em tamanho físico e em responsabilidades espirituais. E quase sempre, conquanto involuntariamente, passamos a influenciá-los, de modo negativo, para lá da órbita do apreço que lhes devemos. Reflitamos nisto, aprendendo a liberá-los de nossas exigências fantasiadas de amor.
Estejamos decididos a auxiliá-los, doando-lhes a oportunidade de serem eles mesmos nas escolhas que façam e nas experiências que busquem.
É preciso recordar que nem sempre conseguirão afinar-se com as nossas inclinações e propósitos.
Desejarão outras companhias e outros hábitos. Estimarão tentar outro tipo de existência, diverso daquele em que nos acostumamos a trabalhar e a viver.
Decerto que nos amam, tanto quanto os amamos, entretanto, aspiram a seguir por vias diferentes das nossas.
Agradeçamos àqueles que se harmonizem conosco, reconfortando-nos com a ternura da presença constante, mas saibamos agradecer também o esforço daqueles outros que procuram ser bons e retos sem nós. Muitas vezes, quando alguns deles se nos afastam da convivência é porque permanecem atendendo a dificuldades e provas, nas quais a nossa intervenção resultaria simplesmente em ação indébita, complicando as questões em foco ao invés de resolve-las.
Compadece-te de teus filhos casados, procurando respeitá-los na desvinculação de que necessitem para serem felizes.
O amor verdadeiro não cria problemas.
Recordemos, nós todos, os Espíritos encarnados ou desencarnados, que os nossos filhos no mundo, qual nos ocorre, são, acima de tudo, filhos de Deus e precisam, tanto quanto nós, de apoio na liberdade para conseguirem efetivamente viver.
A questão 203 de O Livro dos Espíritos () coloca em termos espirituais o problema das linhagens familiares. Pensamos geralmente que a herança biológica é a determinante dos temperamentos e caracteres. O Espiritismo nas mostra que a natureza humana é espiritual e não material. Assim, o que determina a condição do homem é a sua essência e não a sua forma, o seu Espírito e não o seu instrumento de manifestação corpórea. As famílias são aglomerados de Espíritos afins que estabelecem, nas encarnações sucessivas, a linha da hereditariedade biológica.
Cada espírito que se encarna traz em si mesmo a sua personalidade já formada em encarnações anteriores. As semelhanças de características psíquicas e morais entre pais, filhos e outros descendentes não provêm da carne, mas do Espírito. Cada ser humano é o que ele é por si mesmo. Há, portanto, um paralelismo cartesiano entre hereditariedade e afinidade. Admitindo-se isso, que hoje é considerado com atenção em grandes centros de pesquisas científicas, é fácil compreendermos a necessidade de independência não apenas social, mas também afetiva, para os filhos que se emanciparam e especialmente para os que constituíram a sua própria família.
As afinidades espirituais não implicam dependência e sujeição, porque cada Espírito é o responsável direto pela sua evolução. Os pais são responsáveis pelos filhos no tocante à orientação que lhes fornecem pelos exemplos e pela educação. Mas não podem querer sujeitá-los às suas ideias e formas de vida.
Afinidade não quer dizer identidade. Gostamos de nos reunir com pessoas afins porque nos entendemos melhor com elas, mas nem por isso pensamos e vivemos exatamente da mesma maneira. Se assim fosse, a evolução teria de estagnar. Nossos filhos mais afins, mais ligados a nós podem tomar caminhos diferentes do nosso. E devemos respeitar-lhes o desejo de novas experiências, sem que isso importe em rompimento conosco. Cada Espírito deve ter a jurisdição de si mesmo.
É por isso que Emmanuel nos lembra o amor sem apego, sem intenções de sujeição, para que não criemos problemas à liberdade de ação e de experiências dos filhos casados. Devemos ampará-los, auxiliá-los e não torturá-los com as nossas exigências egoístas.