Chico Xavier nos conta como surgiu o assunto, durante a peregrinação que faz semanalmente aos lares dos amigos menos afortunados do bairro em que reside, sempre acompanhado por visitantes de outras cidades:
“Enquanto realizávamos a nossa visita fraterna a companheiros de nosso bairro, estava conosco uma estudiosa caravana de irmãos das cidades de São José do Rio Preto, Mirassol, Votuporanga e Ribeirão Preto. Durante todo o percurso a nossa conversação foi um debate amistoso sobre assuntos do lar. Ao todo, com os amigos de outras cidades, éramos nada menos de oitenta pessoas.
As perguntas e respostas entre nós mostravam as nossas preocupações. Como observar a família e a reencarnação? De que modo os Espíritos amigos consideram o casamento? Porque tantas lutas entre parentes? Estarão os Espíritos luminares submetidos aos controles anticoncepcionais inventados pelos homens? Porque sonham os noivos com tanta felicidade para o lar e porque tantas dificuldades enfrentam eles em muitos casos, depois que se instalam no casamento?
Perguntas como estas e muitas outras foram debatidas. E quando nos reunimos para a concentração das tarefas da noite, diversos amigos espirituais, trovadores amigos, escreveram as ligeiras mensagens em versos que lhe envio para os nossos estudos.”
Anotação clara e simples Que nos obriga a pensar: Surge o lar dentro do mundo Sem que o mundo seja o lar. Os namorados são sonhos Entre a verdade e a ilusão, Se chegam ao matrimônio, O lar revela o que são. Para quem sofre no Além Sob a culpa em choro inglório O regresso ao lar terrestre É a bênção do purgatório. Família e reencarnação, Deus as fez buscando a paz, Não levam mágoas à frente Nem deixam contas atrás. Cartório faz união E começa o lar a dois, O amor constrói amizade, Casamento vem depois. De quaisquer provas na Terra A que mais amansa a gente: Inimigo reencarnado Sob a forma de parente. Quando um sábio das Alturas Necessita reencarnar Ninguém consegue impedir Nem adianta evitar. Casamento é um laço em luz Da Vida Superior, Mas o lar desgovernado É a sepultura do amor. Toda civilização Cresce em tudo sábia e bela Tão-somente, em qualquer parte, Porque o lar sofreu por ela. Não adianta fugir Do débito que se atrasa, Reencarnação chega logo Cobrando dentro de casa. Todo lar que se levanta Como for, seja onde for, É sempre uma sementeira Para a colheita do amor. Lar e Mãe — a dupla simples Que a força da vida encerra, Guardam consigo, ante Deus, Toda a grandeza da Terra. |
A verdade é o pão do espírito. Sobre a mesa de Chico Xavier, cercada de amigos que vieram de longe para o banquete, os Trovadores do Além lançaram suas rodelas de pão. Cada um deles foi poeta na Terra e continua a cantar depois da morte, porque a criatura de Deus não morre — apenas troca de roupa. Fizeram um rodeio de trovas e cada trova é. uma síntese pessoal da visão coletiva da verdade. Cada trova responde a determinadas perguntas dos homens.
Os temas se desenvolvem através das trovas. O lar surge no mundo para humanizá-lo, graças ao sonho do namoro em que as almas procuram-se no anseio de amar. A convivência vai revelar que elas não são o que sonhavam, mas o purgatório do lar é uma bênção para libertar do inferno do passado. A família terrena permite o reajuste através da reencarnação, dissolvendo as mágoas e liquidando as contas. O casamento não se faz no cartório, mas no lar, e nele é que o inimigo transformado em parente acaba por nos amansar.
Os Espíritos Superiores não estão sujeitos ao controle humano da natalidade — nascem quando querem, pois conhecem e dominam as leis naturais melhor do que os homens. Um lar desgovernado, desprovido de orientação, vira sepultura do amor. Entretanto, é o lar a fonte e a base de todas as civilizações, acertando as contas do passado dentro de casa e melhorando as criaturas. Resulta daí a colheita do amor, graças à ação de duas forças simples, naturais, que se conjugam para construir a grandeza da Terra: os laços familiais orientados pela ternura materna, pela presença da Mãe.
Pouco a pouco, através das trovas, a verdade se corporifica,. E os trovadores nos dão assim a lição da fraternidade e da colaboração. Fizeram um mutirão para responder às perguntas dos homens. Cada qual deu o seu pedaço e o pão da verdade apareceu sobre a mesa do médium para saciar a fome dos espíritos. É esse o processo da Revelação. Desde que o mundo é mundo a verdade flui para os homens através da mediunidade.