Na Era do Espírito

Capítulo XV

Em torno da liberdade




“Envio-lhe a página que o nosso caro Emmanuel escreveu, em torno da liberdade, em resposta às indagações e aos comentários havidos numa de nossas reuniões públicas.

Jovens e adultos se referiam aos assuntos de independência, com as opiniões mais diversas, antes da realização de nossas tarefas.

No início das atividades programadas O Livro dos Espíritos () nos ofereceu a questão número 825. E o nosso amigo espiritual, na fase terminal da reunião, nos deu as suas impressões na mensagem “Honrarás a liberdade”.

Crendo possa o tema estudado servir igualmente às nossas reflexões, faço a remessa da página referida ao generoso apoio de suas mãos.”




Honrarás a liberdade, não para voltar às brumas do passado em cujos desvarios já nos submergimos muitas vezes, e que te impeliram a tomar novo corpo no Plano físico, mas, frequentemente para resgatar as consequências infelizes dos atos impensados.

Estimarás a liberdade para cultivar a consciência tranquila pelo exato desempenho dos compromissos que esposaste.

Muitos companheiros da Humanidade se farão ouvir, diante de ti, alinhando teorias brilhantes em se referindo a independência e progresso, quase sempre para justificar o desgovernado predomínio do instinto sobre a razão, como se progresso e independência constituíssem retorno ao primitivismo e à animalidade.

Ouvirás a todos eles com tolerância e bondade, observando, porém, as ciladas que se lhes ocultam sob o luxo verbalístico, à maneira de armadilhas recobertas de flores, e seguirás adiante de coração atento à execução dos encargos que a vida te reservou.

Sabes que a inteligência, quando se propõe desregrar-se no esquecimento dos princípios que lhe ditam comportamento digno, inventa facilmente vocábulos cintilantes, de modo a disfarçar a própria deserção.

Aceitarás o trabalho no grupo doméstico ou na equipe de ação edificante aos quais te vinculas, na produção do bem geral, doando o melhor de ti mesmo em abnegação aos companheiros que te compartilham a experiência, na certeza de que unicamente nas lutas e sacrifícios em que somos obrigados a viver e a conviver, uns à frente dos outros, é que conseguiremos a carta de alforria no cativeiro que nos aprisiona aos resultados menos felizes das existências passadas.

Orarás e vigiarás, segundo os ensinamentos de Jesus, e honrarás a liberdade qual ele mesmo a dignificou, amando aos semelhantes sem exigir o amor alheio e prestando auxílio sem pensar em recebê-lo.

Serás, enfim, livre para obedecer às Leis Divinas e sempre mais livre para ser cada vez mais útil e servir cada vez mais.




O princípio da liberdade é um anseio natural do homem e constitui o fundamento de todas as realizações duradouras. Sabemos que o homem é, na Terra, entre os seres visíveis que a povoam, o único realmente dotado de livre arbítrio. Mas a liberdade é condicionada pela responsabilidade, sendo que a responsabilidade, por sua vez, não pode existir sem liberdade. Estamos diante do que poderíamos chamar a dialética da autonomia. Da interação de liberdade e responsabilidade surge a síntese da independência, tanto em plano individual como no coletivo.

A questão 825 de O Livro dos Espíritos () é a seguinte: “Pergunta: Há posições no mundo em que o homem possa gabar-se de gozar de liberdade absoluta? — Resposta: Não, porque vós todos necessitais uns dos outros, assim os pequenos como os grandes”. Esse problema foi amplamente analisado por Kardec no estudo “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, publicado em Obras Póstumas. () Ali encontramos esta proposição: “Do ponto de vista do bem social a fraternidade figura em primeira linha, é a base. Sem ela não poderá haver igualdade nem liberdade verdadeiras. A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade é uma consequência das duas”.

Temos assim duas condições sociais para a liberdade, que são os princípios de igualdade e fraternidade, e uma condição moral que é a responsabilidade. A essas condições Emmanuel propõe os corolários da obediência e do serviço. Sem obediência às leis divinas, que nos mandam servir ao próximo por amor, não há liberdade. Por outro lado, a liberdade absoluta não existe, é apenas um sofisma. Vivemos no relativo e não no absoluto.

Mas o que são as leis divinas? Um código de moral escrito? Para o Espiritismo as leis divinas são as próprias leis naturais, criadas por Deus. Existem desde os Planos inferiores da Natureza. Os sofistas modernos pedem a liberdade dos instintos animais do homem, mas o Espiritismo nos adverte da existência dos instintos espirituais que constituem as exigências da consciência. E entre esses acentua a presença da lei de adoração que nos impulsiona a todos em direção a Deus.