PEDRO LEOPOLDO, 14 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Muitas são as consultas que em nada vão além de preocupações puramente terrenas. E isso já nos serviu a observar como os Espíritos, no caso, falando pela palavra de Emmanuel, procuram sempre fugir àquele exclusivismo material, conseguindo, não raro, estabelecer uma relação entre os problemas humanos que estejam inteiramente à margem de sua vida espiritual e as cogitações que pairam e os remédios que possam vir dos altos Planos onde, segundo a doutrina, vivem os Amigos do espaço.
Tal constatação parece-nos bastante significativa para os que convictamente lutam entre as contingências da Terra, pois vem de certa forma, enobrecer um pouco certos detalhes mais tipicamente terreno da existência, os quais tanto desdém merecem de certos credos, apesar do muito de dores que deles, detalhes, às vezes resultam para os homens.
E isto sempre conforta um pouco aos campeadores convictos da vida em que estamos, da única que percebemos sem nenhuma dúvida, vindo afinal de contas sempre dar um sentido mais digno àquilo que Fradique chamou “a escura disparada para a morte” e que, para o personagem de , não passaria de uma história tola contada por um idiota…
A pergunta e a resposta que damos a seguir enquadram-se, sem dúvida, nas nossas considerações de acima.
Indagara o missivista:
— As nações estão vivendo um momento angustioso no terreno econômico. Qual a causa dessa crise que avassala o mundo?
Emmanuel respondeu assim:
— Estão certos, no seu julgamento, quantos encontram, nas crises atuais, as modalidades várias de uma crise única — a de ordem espiritual.
Há por todo o canto, o fermento revolucionário. Falece à política autoridade para organizar um programa que corresponda aos anseios gerais. A ciência, a cada passo, se encontra num turbilhão de perplexidades. As religiões criaram um Deus antropomórfico, pondo de lado o “Reino do Céu” para alcançarem, por quaisquer meios, o “Reino da Terra”.
A alma humana, dentro dessas vibrações antagônicas, perde-se num emaranhado de conjecturas e de sofrimentos.
Essa inquietação geral, a ausência de paz nos corações, estabelecem a crise avassaladora que abrange todos os domínios da atividade humana.
As classes são dominadas pelos desvios de toda a ordem; vícios do pensamento, vícios dos costumes, vícios da alimentação. Que se poderia fazer para que a ordem se restabelecesse, para que o bem-estar social se efetivasse?
Far-se-ia mister pirogravar, no coração de cada homem, .
Observa-se, em todos os setores dos trabalhos do mundo, uma luta tenaz dos anseios do Espírito que almeja paz e libertação.
Há quase dois milênios, quando a civilização, simbolizada no poderio romano, se entregava a todos os desregramentos e desvarios, fez-se ouvir a voz consoladora do Mestre, o Salvador esperado por muitos séculos de ansiedade e profecias.
Sob a sua divina influência, uma transformação radical se operou dentro da civilização trabalhada pelos hábitos perniciosos. A sua vida sacrificada foi legada ao homem como o sublime modelo; sua palavra foi deixada no mundo como a lei áurea de liberdade das almas.
Passado, porém, o arrebatamento da fé, novamente os abusos da maldade humana se fizeram sentir por toda a parte, e dos quais se observa, na atualidade, a culminância.
Todavia ainda é para Jesus que os homens necessitam voltar os seus olhos. A missão do moderno espiritualismo é trazer a chave dos conhecimentos acerca dos seus grandes e inolvidáveis ensinamentos. Enquanto não compreenderem os homens os seus deveres de fraternidade cristã, não há possibilidade de se evitar as crises que assoberbam o mundo.
A guerra continuará amortalhando os corações; os artigos de primeira necessidade serão destruídos pela falsa diretriz econômica de alguns países, quando muitos choram a falta de pão; a confusão prosseguirá dentro de todos os seus matizes, até que a crise espiritual seja solucionada pelo esforço do homem, a fim de que a luz se faça no seu coração. O que se depreende, pois, do confusionismo hodierno, é que os homens necessitam mais de verdade que de dinheiro, de mais luz espiritual que de pão.
Do arquivo do médium retiramos hoje, mais alguns versos. Trazem ao pé o nome de Antero de Quental e foram psicografadas a 19 de novembro de 1934:
Passam na Terra, como as ventanias Ou como agigantadas nebulosas Provindas de cavernas misteriosas, Essas compactas legiões sombrias; Turbas de alma escravas de agonias, Com que andei entre queixas dolorosas, Ao palmilhar estradas escabrosas. Entre as noites mais lúgubres e frias! Oh! visões de martírios que apavoram, Miseráveis Espíritos que choram, Sob os grilhões de rude sofrimento! Orai por eles, bons trabalhadores, Que estais colhendo sobre a Terra as flores De um doce e temporário esquecimento. |
Essa reportagem foi publicada primeiramente em 1935 pela LAKE e é a 6ª da 3ª Parte do livro “”
“Estão acertadas, no seu julgamento, quantas encontram, nas crises atuais,” Embora a frase esteja absolutamente correta, porque diz respeito “às pessoas” alteramo-la para: “Estão certos, no seu julgamento, quantos encontram, nas crises atuais,” K.J.
Essa mensagem foi publicada originalmente em 1931 pela FEB e é a 13ª do 10º capítulo do livro “”