Até nos corpos inanimados se encontra vida — Leibnitz e os seus princípios.
PEDRO LEOPOLDO, 19 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Entre as consultas apresentadas a Chico Xavier, algumas há que lhe foram trazidas pessoalmente pelo consulente.
Estão neste grupo as que enviamos hoje e foram entregues ao médium à tarde, por um estudioso de Física e Química.
Esse consulente recebia as respostas pouco mais tarde, ao início da noite.
A consulta, feita naturalmente com a intenção de teste, parte de pontos os mais simples, para estudantes daquelas ciências, até alguns já bem mais complexos.
As perguntas foram as seguintes:
— “É a química uma ciência?”
— “Não será a química apenas uma parte da física?”
— “Será a reação química apenas manifestação de energias físicas?”
— “Que se passa na natureza íntima da matéria, durante uma reação química?”
Nas suas respostas, Emmanuel, como que desejando, por sua vez, acompanhar a linha ascendente das perguntas — do simples ao complexo — parte, também, de uma singela afirmativa para, no salto da síntese, chegar até às mônadas de …
E foram as seguintes as respostas psicografadas por Chico Xavier, que, conforme os nossos leitores certamente se recordam, já foi uma vez o
— “É a química uma ciência?”
Resposta:
— “Sem dúvida”.
— “Não será a química apenas uma parte da física?”
Resposta:
— De fato, a física e a química apresentam grandes afinidades entre si. Seus fenômenos, porém, são bastante especificados para que ambas se confundam em uma só, na esfera das ciências.
Enquanto a primeira tem por finalidade o estudo dos fatos naturais, apresentados pelos corpos quando estes não sofrem modificação alguma, a segunda analisa os fenômenos que transformam a natureza íntima dos corpos.
Enquanto a química estuda a constituição dos corpos, suas propriedades e a lei de suas combinações e decomposições, a física examina as leis que tendem a transformar o movimento e o estado desses corpos, sem lhes alterar a estrutura.
Todavia, em todos os fenômenos que regem a vida da matéria em geral, a física e a química estão intimamente associadas.
— “Será a reação química apenas manifestação de energias físicas?”
Resposta:
A reação química e a energia física têm suas afinidades dentro das ciências que lhes dizem respeito, sem serem, todavia, pura manifestação uma da outra.
Consideremos, sobretudo, o seguinte: a vida é universal. Toda a matéria está cheia de movimento e de vida, apresentando os fenômenos físico-químicos em todos os graus de complexidade.
Sobre todos esses fatos, porém, há uma força vital, grandiosa na sua autonomia, controlando os mínimos acontecimentos, em sua generalidade, e que implica a existência de causas inteligentes. Sobre todos os fenômenos físico-químicos, portanto, predominam fatores de ordem espiritual que somente compreendereis com a expansão do progresso futuro. [v. ]
Como se vê na “química” dos desencarnados, a matéria pura, a chamada inanimada, aparece acrescida de um elemento novo, o “fator de ordem espiritual”, o que torna a resposta de Emmanuel coerente com , em que Berthelot nos fala do “filamento imponderável que une o finito ao infinito, o visível ao invisível”.
Residirá nisso certamente toda a divergência que porventura se observe na noção que, dos fenômenos físico-químicos, tenham os “vivos” e os “mortos”.
Passemos à pergunta seguinte:
— Que se passa na natureza íntima da matéria, durante uma reação química?
Resposta: — O que se passa na natureza íntima da matéria durante uma reação química é um fenômeno natural resultante da ação que lhe foi infligida.
O que necessitam considerar, quantos se entregam à decifração dos enigmas da matéria é que a vida é universal. Nas menores partículas do Universo observam-se os fenômenos vitais; a matéria foi dividida em inanimada e organizada pela ciência. Contudo, essa divisão implica apenas um jogo de palavras, já que se encontram na considerada matéria morta, fatos de vida, como os fenômenos do mundo mineral.
Toda a matéria está associada ao movimento, e os acontecimentos íntimos que determinam as modificações na sua estrutura estão, em sua maior parte, fora de todas as vossas possibilidades de observação, problema solúvel dentro da insuficiência sensorial. Eles, contudo, não estão submetidos a forças cegas e sim às leis transcendentes que imperam entre as mônadas espirituais [v. Mônada celeste, mônada espiritual, mônada fundamental ou simplesmente mônada em “Outras referências ao tema ”].
Depois de já psicografada essa resposta, o guia fez uma no primeiro período onde tinha sido escrito: “… da ação que foi infligida”.
Essa referência à mônada, aquela espécie de alma sem janelas, de , nos faz lembrar que o inatismo do filósofo alemão, como o de , admitindo que os conhecimentos todos já existem, embora de modo confuso, em nosso Espírito, nos tornaria também compreensível, em caso como o do médium de Pedro Leopoldo, mesmo quando puséssemos de parte a hipótese espírita da comunicação com os mortos, ou o dogma, como querem os seus adeptos.
É verdade que a teoria Leibnitziana já foi longamente negada pelos remanescentes escolásticos, embora reconhecesse, na alma, o poder de operar sobre as energias da natureza material…