Novamente em Casa

Capítulo V

Francisco Eduardo de Oliveira Morais



Filho de Crescencio Moraes e de D. Aida de Oliveira Moraes, Francisco Eduardo, estudante de Engenharia, faleceu, tragado pelas águas do Rio Grande, quando junto com amigos se dedicava a uma pescaria. Contava 21 anos.

Era o primeiro de seis irmãos, sendo os outros, Ana Beatriz, Paulo Fernando, Maria Olívia (Olivinha), Cláudia Regina, e Luiz Henrique, por ele lembrados na mensagem.

Seu pai assim expressou-se a respeito da mensagem mediúnica:




TESTEMUNHO DO PAI DE FRANCISCO EDUARDO


Com a mensagem recebida e posteriores contatos que tivemos com o nosso querido filho, nada mais nos falta para comprovar a certeza da continuação da vida no Além.

Mesmo antes de recebermos a mensagem, as pequenas notícias que o Francisco Eduardo nos enviava, através do Chico, quando de nossas idas a Uberaba, muito nos fortaleceram e fizeram com que eu e meus familiares despertássemos para um novo conceito a respeito da Vida; o de que ela existe aqui e no Plano Espiritual.

Gostaria de destacar ainda um pormenor muito significativo:

Numa das entrevistas com Chico Xavier, ele nos disse que no Além, entre alguns familiares que ajudavam Francisco Eduardo em seu refazimento, havia uma senhora de nome Ana.

De momento, não nos lembramos de alguém no círculo familiar com esse nome. Voltando a Barretos, falei com meu pai que a identificou como minha bisavó, há muito falecida, e de quem jamais tivera notícias.





Querida mãezinha Aida e querido papai Crescencio, peço para me abençoarem.

Por muito se queira parecer homem forte em momentos como este, a verdade é que a gente aparece na condição da criança que se é por dentro.

Vejo a nossa Gilsela, a nossa Olivinha e a tela familiar como que se alonga na direção de Barretos para que me veja ao lado de todos os familiares queridos.

Pai, perdoe-me pelo domingo sem proveito, no qual o passeio sem significação me transportou para a vida diferente em que me encontro.

A vovó Ambrozina e o vovô João Rodrigues da Cunha, aqui comigo, me declaram que não me cabe dizer o domingo sem proveito, porque o dia da desencarnação igualmente pertence a Deus.

Reajusto o que disse e desejo falar-lhes que o barco cedeu sobre as águas e as águas que tínhamos a ideia de estar dominando acabaram por dominar a mim e ao Tadeu, que perdemos as forças.

De momento, lembro-me do Luizinho e do Murilo a chamar-nos com aflição. Queridos e bons amigos, como devem ter sofrido por nossa causa. Desejava, de minha parte responder a eles, mas me reconheci tonto e sem iniciativa…

Sem que eu conseguisse julgar os movimentos que fazia inconscientemente me perdi num sono violento, como se alguém me houvesse ministrado um anestésico irresistível…

Não vi mais detalhe algum. Despertei num lugar de tratamento sobre vasta mesa, na qual um homem, compreensivelmente um médico para mim, me aplicava certas massagens, qual se me obrigasse a uma ginástica incômoda que não conseguia entender.

Mais tarde, fui informado que se tratava do médico Dr. Urbano de Brito, que me auxiliava na volta ao meu estado natural de consciência…

Querida mãezinha Aida, saber que não me achava mais no corpo físico me apavorou o coração, a princípio…

Queria tanto haver ficado, no entanto, o meu avô João, mais tarde acompanhado por meu avô Crescencio, me solicitam compreensão e paciência. Gilsela, a nossa querida Gilsela, estava em meu coração, como a me pedir, junto da mamãe para que voltasse…

Confesso que me fiz menino novamente e chorei sem que ninguém me pudesse acalmar…

Agora, mais forte na fé em Deus, venho dizer à querida Gilsela, aqui à minha frente, que se não posso ser o noivo, posso ser o irmão e companheiro que tudo fará para que ela seja feliz.

Diz-me a vovó Ambrozina que não me seria permitido vir até aqui conversar com os queridos pais e com a querida noiva do coração, se ainda estivesse apegado a paixão possessiva.

Compreendo hoje, querida Gilsela, que você não deve cultivar qualquer traço de tristeza improdutiva por minha causa. Recorde que a vida se renova sempre, outras flores desabrocharão no jardim de nossos sonhos e serei feliz com todas as alegrias que o Céu lhe enviar.

Quanto estiver em minhas mãos cooperarei para que o futuro sorria para você com o lar iluminado de bênçãos de que farei parte em espírito, amando a todos que o seu coração venha a querer bem.

Tantos esportes praticamos no plano físico, a resistência nos remos, a agilidade no futebol, a força no salto, a energia nas corridas a pé; entretanto, agora reconheço que estou aprendendo um esporte mais importante, o esporte da renúncia, no qual devo entender que você é uma valorosa menina de Deus e não propriamente minha.

Peço-lhe não veja em minhas afirmações qualquer falta de amor, é que o amor subiu muito em meu coração e presentemente amo a você com uma visão diferente da vida.

Querida Gilsela, rogo a você viver feliz para auxiliar a todos aqueles que os Céus nos concederam para os caminhos do mundo. Nossas esperanças cresceram e se transformaram em estrelas que clarearão as nossas estradas ante os dias melhores que virão…

E peço igualmente ao papai Crescencio e à mamãe Aida para que vivam sempre alegres por se reconhecerem cada vez mais úteis. Em casa não era eu unicamente o filho a requisitar-lhes presença e carinho…

A Olivinha, a Cláudia, a Beatriz, o Paulo e o Luiz Henrique são também filhos e maravilhosos irmãos em nosso amor. Deus nos auxiliará.

Sei que o amigo Tadeu prossegue amparado, tanto quanto eu, em nossa situação, mas não veio até aqui em minha companhia.

Pais queridos, querida Gilsela e querida Olívia, agora devo terminar.

Perdoem-me, se algo expressei que não devia; ainda não estou tão senhor de mim próprio que possa criticar ou corrigir a mim mesmo, mas saibam que lhes deixo aqui, com as lembranças da vovó Ambrozina, o coração inteirinho do filho e irmão, companheiro e servidor que está aprendendo a orar, rogando a Deus por nossa felicidade e por nossa paz.

Sempre afetuosamente.


10/4/1981



Olivinha, irmã, e Gilsela, na época, noiva de Francisco Eduardo.


Avós já desencarnados.


Antônio Ribas Tadeu Freitas Baston, companheiro que faleceu no mesmo acidente.


Amigos que se encontravam com Francisco Eduardo e com Tadeu na pescaria, naquela manhã de 31 de agosto. Ambos salvaram-se do afogamento.


Médico da família, já no Plano Espiritual.