Filho de Geraldo José Bernardo e Aparecida Bicheri Bernardo, Zezinho, como era chamado, faleceu aos 21 anos em Itanhaém, no litoral paulista.
Cursava o terceiro ano colegial e especializava-se em Programador IBM. Deixou uma irmã, Therezinha Bernardo.
Assim se manifestou o genitor, a respeito de sua mensagem:
Ao recebê-la, não dormimos a noite toda, chorando, rindo, ao mesmo tempo. Trouxe muita paz em nossas vidas.
Não fosse a mensagem, não sei o que iria acontecer, pois, nosso sofrimento era muito grande.
Querida mãezinha Aparecida, peço a sua bênção de paz e amor.
Venho até aqui de modo imprevisto. Aliás, trouxeram-me. A vovó Júlia e o vovô Bicheri me disseram que isto era necessário, a fim de pedir-lhes para considerar-me ausente e não morto.
Mamãe, as suas lágrimas são estrelas que me iluminam; entretanto, quando essas estrelas refletem a inconformação e desespero, as luzes que se derramam delas me queimam o coração.
Mãe querida, não pense que Deus nos abandonou, estamos juntos. Tantas semanas já se desdobraram sobre a ocorrência de Itanhaém que estou saudoso mas, de algum modo pacificado, pela fé viva no Poder Maior que nos governa.
Não foi um afogamento que me afastou do corpo. O coração parou repentinamente, lembrando-me um relógio do qual a corda ficou esquecida.
Colapso aparece também na gente jovem, e porque a gente jovem não pensa em coronárias doentes, o desenlace de que me vi objeto se transformou para nós todos num acontecimento infeliz de praia.
As águas, porém, não tomaram a mínima interferência em meu caso, caí sem forças para não mais erguer-me, senão em outro lugar muito diferente, depois de breve travessia de um pesadelo em que me sabia inconsciente.
A senhora e meu pai com a nossa Valquíria comandaram meus pensamentos, quando me identifiquei por aqui e não preciso descrever o que para nós é passado, e passado que se deve esquecer.
Venho particularmente rogar-lhe tranquilidade e conformação, compreendendo que para as mães não existem filhos crescidos ou transformados. Para todas elas somos as crianças queridas que não se lhes afastam do coração…
Entendo mãezinha, tudo o que já vencemos em matéria de angústia e de indagação, mas peço-lhe retomar a sua fé em Deus. Tão simples e tão viva como no tempo que eu, menino ainda, aprendia em seu colo a pronunciar o nome bendito de Deus.
Reconheço que no íntimo nada de nós se modificará, mas, precisamos recolher as telas de nossa felicidade no aposento cenado de nossa união mais profunda e esperar pelo tempo em que consigamos alinhar de novo os quadros de nossa perfeita alegria.
Se posso rogar-lhe alguma coisa, além do muito que sempre recebi de seu carinho, peço-lhe não conservar recordações minhas, a não ser os nossos retratos, porque os retratos em qualquer ocasião se fazem testemunha de nossas alterações.
Mamãe querida, ore com fervor, com o fervor que a perda de um ente amado não pode empalidecer. Sinto-me vivo ao seu lado, auxiliando-a a reformar-se em sua paz.
Querida mãezinha, a senhora e meu pai possuem outros filhos que considero como irmãos. Auxiliem quanto possível aos rapazes menos favorecidos e creiam que me encontro neles todos.
A bondade iluminada é uma oficina de bênçãos inesgotáveis, pelas quais a criatura estará sempre recebendo, quando julgar doar de si o melhor de que dispõe.
Felizmente vou melhor. As saudades não faltam, mas vejo por aí tantas saudades atiradas na penúria que me animo a pedir-lhe conservarmos as nossas, na certeza da vitória com o reencontro numa vida maior e mais feliz.
Se me fosse possível, estimaria entretecer novas considerações em derredor de nossos assuntos, mas devo terminar.
Nossa querida Valquíria está em meus pensamentos, e pedindo a Jesus faça descer sobre o seu coração querido e sobre o meu querido papai uma chuva de rosas sem espinhos, em que o perfume reine sobre os nossos caminhos para sempre.
Peco-lhe receber a alma toda de seu filho, sempre mais seu,
31/8/1979
Júlia Teófila da Conceição e Luiz Bicheri, já falecidos.
Sua noiva.