Maurício desprendeu-se do Plano Físico, por acidente rodoviário, aos 21 anos.
Filho de Tranquilo Basso e de Anísia Lima Basso, partilhava o ambiente familiar com os seguintes irmãos: Maristela, Mariângela, Marícia e Marcos.
À época de sua desencarnação, Maurício estudava e trabalhava na capital paulista.
A seguir; antes da mensagem, publicamos o depoimento do genitor de Maurício.
A emoção, as lágrimas, foram tão grandes que eu não pude dizer nada, emudeci.
Agora relembrando esse quadro abençoado, ainda não me contenho e choro de emoção.
Minha esposa, que ia ao túmulo do Maurício diariamente levar flores e chorar, achando que o mundo acabara para ela, após a mensagem conformou-se, resignada, e ama a vida novamente.
Papai, ao senhor e mamãe estas palavras. Começo, rogando me abençoe, amparando-me com as vibrações da paciência e da paz.
Papai, eu sei que a sua presença é um apelo. O senhor pede notícias, as notícias de seu filho.
E, de muitos dias, escuto os seus pensamentos, formulando a ideia de buscar a esperança que tento lhes transmitir. Acompanhei a sua viagem até aqui. E tenho seguido os seus comentários com os amigos, quanto às notícias de pessoas queridas em outro mundo.
E o senhor e mãezinha pensam e repensam, buscando o filho… Como quisera exprimir-me de modo a lhes arrancar todas as dúvidas, entretanto, se esta for lida por seu coração mais do que por seus olhos, verá com mãezinha que o seu filho está pedindo socorro.
Um ano e meio com tantos dias de sobrecarga e estou na mesma, sem forças e sem recursos de refazer-me, porque todas as minhas energias são gastas experimentando achar em mim os recursos de falar-lhes.
Melhoro e restauro-me, de leve, precisando mais forças para consolidar-me de pé, mas quando isto acontece, ouço-lhes os chamados em casa, nas preces, nas lembranças, nos apontamentos domésticos e, até mesmo, naquele retângulo de paz em que o corpo se transformou para auxiliar-me a libertação…
Venho, por isso, rogar ao senhor e à mamãe não chorarem mais assim, com tanto peso no coração.
Deus não erra e se a morte não foi resultado de rebeldia de nossa parte, da rebeldia em que sempre erramos tanto, a morte vem das leis de Deus.
Não me suponham distante, inacessível, indiferente ou tão renovado que me esqueça do lar. Seria preciso arrasar o meu coração para que eu fosse outro. Estou vivo, meu pai, e peço a sua conformação.
Continuarei estudando aqui e realizarei o seu ideal. Trabalharei, também, para ser digno do amor que o senhor e mãezinha me puseram no espírito.
Ajudem-me, para que eu possa ajudá-los. Não me recordem caído na estrada ou naqueles gemidos quando me despedia da Terra no hospital de Catanduva.
Estou melhor, quase bom mesmo, se não estivesse encharcado de lágrimas. Digo assim, papai, porque quando choram fitando o meu retrato ou recompondo os meus objetos não consigo estancar o pranto que me verte do peito, complicando as melhoras que obtenho e perco, que consigo e destruo, que levanto e atiro no chão da inutilidade.
Aí em casa, os meus queridos se afligem por mim e aqui me arrebento por eles, querendo comunicar-lhes o meu novo modo de ser com absoluta impossibilidade para fazer isso.
Vovô Caetano me trouxe. Ele tem muitos amigos da nossa família Basso que nos auxiliam. Ele também lhes pede paciência e serenidade.
Naquela manhã de Finados, logo após a meia noite, quase que já me sentia em casa. O companheiro e eu conversávamos sobre os dias feriados juntos que nos possibilitariam remover saudades e descansar a cabeça longe de muitos livros.
Embora aqueles trinta e três dias no abençoado hospital de Catanduva, até hoje não sei o que sucedeu. Tudo se verificou de improviso e ainda não posso deter-me em muitas recordações, porque, se o faço, noto o cérebro alterado como se estivesse com a cabeça rodopiando. É preciso repousar para reviver. Tanto venho aprendendo aqui.
Alguns amigos julgaram que nós no carro estivéssemos abusando no trânsito ou menos competentes para guiar, com sentidos talvez alterados por alguma droga qualquer. Mas isso não é verdade. Estávamos claramente lúcidos e seguros de nós mesmos e, por isso, rogo-lhes confiança.
Não sei se foi a noite que houvesse atrapalhado a nossa visão ou a visão do motorista que desconheço, mas posso dizer, pelo que vou aprendendo aqui, que as Leis de Deus se cumpriram. Nada temos para reclamar e nem nos será lícito acusar ninguém.
Papai, ao senhor e à mãezinha rogo a paz de que necessito. Pensem no Marcos que aí ficou em meu lugar e pensemos nos outros que sofrem muito mais do que nós.
Vivam, meus queridos país. Vivam para fazer o bem. Quando os seus recursos estiverem amparando outros rapazes, podem crer, o senhor e mamãe, que estão ajudando a mim.
Hoje tenho sede de mais fraternidade e mais vida. Ajudem-me, auxiliando aqueles que puderem amparar.
Abracem o Marcos por mim e agradeça a nossa Adélia as orações com que me auxiliou e ainda auxilia. Daqui faço votos para que ela seja feliz. Nada de tristeza ou desolamento. O amor vence a morte e o amor é uma luz que segura e ilumina, alimenta e abençoa a todos os que se amam.
Adélia é sempre a estrela de bondade e compreensão que conhecemos e Jesus construirá para ela o céu em que a nossa querida companheirinha merece brilhar.
Papai, com o vovô Caetano e nossa querida Tia vou me despedir… Queria escrever-lhe mais, muito mais, entretanto, nossos benfeitores que me apoiam aqui afirmam que é preciso terminar.
Agradeça aos nossos médicos em Catanduva e em nossa querida terra de Tanabi quanto fizeram por mim. Eles fizeram tudo para me recolocarem de pé, mas o tempo era mesmo de mudança e mudei-me…
Papai, meu querido papai, não chorem mais. Peço-lhes, se as lágrimas aparecerem, que elas sejam de alegria, por estarmos juntos e por sabermos que não existe a morte como a imaginávamos.
Não conservem tantas lembranças minhas. Aquilo que tiver utilidade para os outros, que os outros as desfrutem. Estou quase feliz pois estou confiante agora.
Vovô lhe pede: — Meu filho, meu filho, você e a nossa Anísia não chorem mais. Tenhamos fé em Deus.
E eu, querido papai, beijando-lhes as mãos, digo-lhes até logo, com uma prece a Deus para que os recompense ao senhor e à minha querida mãezinha, aos quais devo tudo o que sou e tudo o que posso pensar de bom.
Muita saudade, muito carinho no abraço de seu filho reconhecido,
25/1/1974
Caetano Basso, avô paterno.
Marcos, irmão caçula.
Adélia, noiva do Maurício, quando de sua desencarnação.
Irmã de Tranquilo Basso, já falecida há muito tempo. Chico citou-lhe o nome no rápido contato que tivera com o pai do Maurício, antes da recepção da mensagem.