Prosseguia em sua caminhada, quando encontrou antigo servidor da propriedade paterna.
O velhinho, de cabelos brancos, seguia dificilmente, suportando pequeno fardo às costas.
Como não recordar-se dele? Era Ricardo, precioso auxiliar em todos os serviços domésticos. Demonstrava cansaço e velhice, mas nunca lhe faltava boa vontade. Em razão disso, o papai de Leonardo aproveitava-lhe os préstimos em atividades mais leves.
Nesse dia, mostrava-se mais pálido, mais trêmulo, tropeçando frequentes vezes.
Leonardo aproximou-se. Notando-lhe a presença, o ancião rogou, confiante:
— Meu bom rapaz, ajude-me, por favor! Venho do moinho de seu pai, onde recebi o farelo que devo entregar ao vizinho…
Creio, porém, que meu velho corpo não está funcionando bem… A cabeça anda-me à roda, tenho as pernas doridas, receio cair a qualquer momento…
Fez pequeno intervalo e acrescentou, humilde:
— Quer auxiliar-me a levar a carga?
A voz dele era triste e chorosa, mas o menino não se comoveu. Pensou consigo mesmo que o velho era simples empregado e que não devia diminuir-se, prestando-lhe colaboração. Dominado por essa ideia, pôs as mãos nos bolsos, deu uma gargalhada e falou:
— O senhor acha que sou seu criado? Arrebente-se como puder.
A resposta revelava dura ingratidão. O velhinho, contudo, não disse mais nada e seguiu em silêncio.