Lua cheia… Na choça a que se apega, Morre Vital, velhinho, olhando o morro… Por prece, escuta a arenga do cachorro, Ganindo nas touceiras da macega. Pobre amigo!… Agoniza sem socorro, Chora lembrando o milho na moega… Oitenta anos de lágrimas carrega Na carcaça jogada ao chão sem forro. Suando, enxerga um moço na soleira . — “Eu sou leproso…” — avisa em voz rasteira, Mas diz o moço, envolto em luz dourada: — “Vital, eu sou Jesus! Venha comigo!…” E o velho sai das chagas de mendigo Para um carro de estrelas da alvorada. |
Frases do jazigo escuro: — Jaz aqui Gil de Muquém. Era tão puro, tão puro, Que não viveu com ninguém. Li num sepulcro de pedra: — Aqui jaz Maria Gaza. Era mendiga na rua, Com cinco milhões em casa. |
Paixão que vem de outras vidas Pede cuidado a quem ama. Brasa guardada na cinza, Soprada, crepita em chama. Reencarnação!… Vejo agora O suplício de João Nava… Renasceu filho da nora, Mulher que ele detestava. |
[As poesias destacadas com o texto em cor diversa do negro são devidas à psicografia de Francisco Cândido Xavier, e as outras à de Waldo Vieira.
“Despedida de Vital” é a 54ª lição do livro “Antologia Mediúnica do Natal”, editado pela FEB em 1966.]