O Espírito de Cornélio Pires - capa

O Espírito de Cornélio Pires

Capítulo XIII
Ilustração tribal

Notícia da avareza



Era um patrão danado o João Cazeca,

Tomava o milho e a cana do meeiro,

Exigia serviço o dia inteiro

E deitava no ronco e camoeca.


Bebia jeribita de caneca,

Avarento, bilontra, farofeiro…

Contava tanto os maços do dinheiro

Que já sentia calos na munheca.


João cai doente e ruim… Chegando a morte,

Pede remédio, auxílio e reza forte,

Mal podendo mover os gorgomilos…


E morto o corpo, João, de suadouro,

Ficou anos gemendo em prata e ouro,

Trancado numa burra de cem quilos.


Se a prece não me auxilia

A ser de todos o irmão,

Se a fé não me purifica,

Para que religião?


Deveres nas provações,

Constrangimentos fatais.

Quanto se sofre ao cumpri-los!

Mas não cumpri-los dói mais.


Há casamento de prova

Lembrando a canga de bois,

Bendito quem se renova

Nesse resgate de dois.


Não julgues a vida errada

Pela sombra que ela tem.

Raio que cai na chapada

Cai na avenida também.




[As poesias destacadas com o texto em cor diversa do negro são devidas à psicografia de Francisco Cândido Xavier, e as outras à de Waldo Vieira.]