O Espírito de Cornélio Pires - capa

O Espírito de Cornélio Pires

Capítulo XVII
Ilustração tribal

Nhá Bela



Nhá Bela jaz ferida na barraca.

Em vão fora pedir gotas de arnica,

Pois o moço dissera na botica:

— “Não atendo gamboa na ressaca.”


Tem febre alta… O corpo tremelica…

Sozinha, encontra o chão por leito e maca…

Perde sangue… Delira… Está mais fraca…

Lavadeira de tanta gente rica!…


Chora na noite escura que a regela,

Mas alguém rompe a sombra e diz: “Nhá Bela!”

E a pobre clama: “Oh! filho, dá-me luz!…”


Brilha o zinco da choça de repente

E na morte que a beija, docemente,

Deslumbrada, Nhá Bela vê Jesus!


Compaixão inoportuna

Onde o crime se concentre,

Lindo cavalo de Troia

Com novos crimes no ventre.


As pessoas preguiçosas,

Conforme o senso comum,

Querem sempre algum trabalho

E estão sem tempo nenhum.


Discernimento e bondade

São em si diversos dons.

Caridade sem justiça

É um mel que sufoca os bons.


Invejoso inteligente?

Ninguém aceite esse engano.

Inveja esmaga o talento

Como a traça rói o pano.




[As poesias destacadas com o texto em cor diversa do negro são devidas à psicografia de Francisco Cândido Xavier, e as outras à de Waldo Vieira.]