Em uma das reuniões de nosso Grupo surgiu a inexplicável questão da Eterna Criação. Infelizmente não podemos deixar de analisar os problemas do Espírito, senão com o uso da razão, compatível com o nosso nível evolutivo. Assim, aplicando o conceito de vantagem em relação ao tempo, afiguram-se-nos desiguais as oportunidades dadas a todos os [seres] criados, porquanto os que foram criados há milênios, gozam e gozarão sempre maior tempo de vida consciente em razão do “handicap” (vantagem) que levam sobre os que estão sendo criados agora e os que serão no futuro. Como devemos estudar esta questão?
Somos de parecer que as gotas da pia irmanadas na profunda tranquilidade do oceano, indenes do ruidoso alarido de sua marcha, sobre o corpo ciclópico da Terra, integram-se na perfeita comunhão da estabilidade total. Valemo-nos do símbolo para afirmar a nossa convicção de que, um dia, quando perdermos as antigas e insistentes arestas da personalidade, repousaremos no mar da integração com a Sabedoria divina, livres, enfim, de qualquer consideração angustiosa de espaço e tempo.
Rogamos, contudo, ao nosso irmão Henrique, devotado trabalhador da inteligência, que não nos considere senhores da última palavra nas questões científicas e filosóficas que lhe preocupam a tarefa.
A desencarnação não é investimento de sabedoria. E porque um cooperador de boa vontade procure contribuir na plantação do bem, tornando ao mundo, depois da morte física, isso não expressa a liberação dele quanto a velhos impedimentos e limitações que nos inutilizam apaixonados impulsos de pesquisa, em torno da verdade.
Somos, apenas, meu amigo, irmãos e servidores e, desse modo, respondemos as suas perguntas, nos dando vênia para exprimir o nosso modo atual de sentir, ver e crer sem a menor pretensão de assumir a responsabilidade de orientadores. Somos companheiros de trabalho e dessa condição nos regozijamos por identificar-lhe o amor pela revelação divina, esperando no Senhor que o seu esforço se coroe das mais valiosas edificações para benefício de nossos círculos de serviço, hoje na luta mais árdua sobre a Terra e, amanhã, na jornada mais animadora, na direção da Gloriosa Imortalidade.
Como interpretar as razões determinantes dos fenômenos teratológicos [malformação orgânica], na esfera animal sub-humana, e no campo vegetal, uma vez que, a nosso ver, essas formas de vida estão submetidas às leis evolutivas da seleção e da influência do meio, sem o carma oriundo do livre-arbítrio? Como estudá-los, se não há no caso o fator pensamento, vontade, moral etc.… como elementos de interferência na livre manifestação da vida?
Meu amigo, a natureza é um reservatório de experiências, no qual prevalecem os pensamentos do homem responsável na organização da luta para si mesmo e os pensamentos da inteligência superior que, na pessoa dos Espíritos prepostos do Senhor, nos serviços de supervisão das formas, orienta o progresso e o aprimoramento dessas mesmas formas, através de inúmeras observações, das quais podem surgir, provisoriamente, sem os fenômenos da dor-resgate, certas irregularidades quase que instantaneamente corrigidas pelos poderes de ordem superior.
Perguntou Pilatos ao Cristo “QUID EST VERITAS?” e, segundo estudos recentes a resposta estava contida na própria pergunta, com a inversão das letras desta mesma indagação em curioso anagrama, ou seja, “EST VIR QUI ADEST”. Sabemos que o acaso não existe e, em vista disso, alguns aspectos da passagem do Cristo pela Terra, POR FALTA DE MAIORES ESCLARECIMENTOS, assemelha-se a uma representação com todas as minúcias previamente estudadas, tudo para, cumprindo as profecias, obedecer à lei do determinismo. Não está claro que a ignorância de Pilatos não lhe possibilitaria outra atitude e que a ninguém cabe o direito de condenar a Pilatos?
Também de nossa parte, não nos sentimos com bastante coragem para penetrar no centro de elaboração mental do Juiz romano, agora que vamos escalando, pouco a pouco, novos degraus de conhecimento de acordo com a nossa capacidade humilde de assimilação e retenção. Continuemos agindo e aprendendo na construção do bem e as nossas experiências mais vivas, no terreno da Boa Nova aquietar-nos-ão a alma indagadora com o fruto abençoado de nossa verdadeira maturação espiritual.
A Grande Síntese [de Pietro Ubaldi] nos esclarece bem que o determinismo é mais atuante e rígido quanto mais inferior for a espécie. Isso, entretanto, no que diz respeito à sua seqüência evolutiva. Como poderemos compreender, sem atribuir injustiça à divina lei do determinismo, a atitude de criaturas como Judas, por exemplo, que contribuiu para o cumprimento das profecias? Se não fosse ele, outro seria. Não compreendemos como pode o determinismo escalar alguém para a prática de um ato nefando, cujas consequências imprevisíveis para o praticante, lhe causarão profundos e prolongados sofrimentos?
Sabemos que determinismo e livre-arbítrio coexistem no espaço e no tempo em que se nos amplia o tônus vibratório na atualidade de nossos valores evolutivos.
Todos os dias encontramos o “fantasma do ontem” nas circunstâncias que nos cercam e, diariamente, cultivamos o campo das causas para a colheita de experiência amanhã.
Consideramos, porém, que se o determinismo nos quadros mais baixos da vida é mais constringente e mais pesado, nos círculos mais elevados, esse determinismo alcança mais altos graus de sutileza.
Nesse aspecto, tomamos a liberdade de observar respeitosamente a posição de , no colégio apostólico, abstendo-nos, entretanto, de qualquer comentário tendente a examinar-lhe o mundo íntimo, o que constituiria atividade menos construtiva de nossa parte.
Alguns historiadores esclarecem que Judas não traiu, o que nos parece razoável, mas, apenas entregou o Cristo. Entretanto, como se pode interpretar o significado da passagem que diz “melhor fora que ele (Judas) não houvesse nascido”, atribuída ao Cristo? Previamente, portanto, sabia-se da atitude de Judas e essa presciência, na impossibilidade de ser desmentida, não cancelava a Judas uma outra atitude?
Peçamos ao Senhor suficiente luz para o estudo metódico do Evangelho. De nossa parte, não possuímos, ainda, senão boa vontade para concorrer com os nossos amigos na aquisição do conhecimento sublime da Boa Nova, mas confessamo-nos, com sinceridade, ainda longe de poder opinar com segurança quanto ao drama de treva e esplendor, de amargura e esperança que marcou a retirada do Mestre Divino de seu divino apostolado na Terra.
Frente a partenogênese não será lícito que se confirme a tese de que “a fecundação é feita pelo Espírito”, ao qual se subordinam espermatozoides e óvulos, cromossomos, genes e gametas etc.… Ainda aqui, não será aplicável que leis superiores, para as quais caminham as criaturas dentro da evolução, podem superar as leis do Plano atual, como precursoras de uma nova fase?
Meu amigo, Jesus nos abençoe. O assunto é realmente fascinante e convida ao estudo e à meditação. Esperamos poder, mais tarde, partilhar as reflexões que ele suscita. Aguardemos.
No capítulo 90 de o livro A Grande Síntese (Trad. de Mário Corbiolli) diz o seguinte: “… Mas lembrai-vos de que a quantidade nunca poderá criar a qualidade; de que o valor supremo do homem não está no abandonar-se, irresponsável, à função animal da procriação, mas está no enfrentar, consciente e responsável, a função de educar. De outra forma, o número degradará a raça”. Seguindo o que está aí, o homem consciente de sua missão, poderá limitar o número?
Cremos que a procriação é responsabilidade no homem consciente e cremos igualmente que a vida na Terra não guarda a função de criar o gozo transitório e inútil da alma na romagem da carne, e sim a finalidade de aperfeiçoar sempre.
Cada semeador responderá pela plantação que houver estabelecido.
Admitimos, assim, que os efeitos bons ou maus de nossa lavoura espiritual no mundo constituirão caminho de acesso a Espiritualidade Superior ou causa de cativeiro ou estacionamento nas regiões inferiores do Planeta.
Não nos cabe, pois, segundo cremos, ditar regras ou determinações no círculo do assunto e sim recordar que, em qualquer tempo ou em qualquer setor de evolução “receberemos segundo as nossas próprias obras” (Sl
Que dizer da não limitação, menos realmente, por fidelidade a lei do “crescei e multiplicai-vos”, (Gn
Não podemos, nem devemos encarecer outra face do problema, senão a de que o homem e a mulher são responsáveis pela condução e educação dos filhos que convocarem ao círculo do lar que estabeleceram como pouso de reconforto na Terra.
Sendo o poder de Deus tão indescritivelmente grande, e sendo suas leis imutáveis, será justo falarmos que a limitação da prole, burla ou contraria essas mesmas leis? Que dizer dos casos em que, embora havendo a ação limitadora do homem, existe, à revelia desse a procriação? E se a ação do homem prevalecer, não será justo julgarmos que essa ação tem o beneplácito das leis e, que, de alguma forma, contribui para o equilíbrio do todo?
Acreditamos que por fidelidade aos princípios morais que nos orientam para a vida superior, não devemos criar qualquer impedimento à expansão da família numerosa no Planeta e sim colaborar no serviço da fraternidade verdadeira, a fim de que os Espíritos renascentes encontrem condições cada vez mais seguras e mais nobres ao aprimoramento moral de que necessitam.
Não acreditamos que a coletividade humana esteja, por enquanto, habilitada, espiritualmente, a controlar o renascimento na Terra, sem prejudicar seriamente o desenvolvimento da lei de provas purificadoras, de vez que a mente humana, de coração ainda retardado no progresso da virtude, seria tentada a converter a existência em simples instrumento de mimoso prazer, comprometendo todas as atividades concernentes à sublimação da vida espiritual no Globo Terrestre.
Se, como descreveu André Luiz, a orientação do sexo de uma reencarnação foi orientada pelos Espíritos disso encarregados, e que para tal cancelaram o processo natural que determinaria um ser do sexo oposto ao desejado, sempre que houver necessidade de uma encarnação, não podem também os Espíritos incumbidos dessa missão, valendo-se das possibilidades de leis maiores, eliminar também os fatores químicos físicos e mentais… que estejam obstando essa concretização?
Sim, a Esfera superior, no estado evolutivo em que ainda se encontra o homem na Terra, pode influenciar em todos os fenômenos da procriação no mundo, com vista à execução dos compromissos assumidos pelas entidades reencarnadas ou reencarnantes no Plano Espiritual.
Levando em conta que a educação de uma criatura exige no Plano material recursos econômicos para a alimentação, o vestuário, a escola, a habitação, a medicação e todos os cuidados que a pessoa física requer para que o corpo possa ser sadio, da mesma forma, no Plano espiritual a criatura requer recursos como a moral, a ciência, a tolerância, a argúcia, o amor e etc.… Dado que no Plano material os recursos se dispersam pelo número, e que espiritualmente a quantidade, pelo cansaço, obriga um relaxamento de cuidados, não será mais razoável que cada um tenha o número de filhos condizente com as suas possibilidades materiais e espirituais?
Quando os pais terrestres se integram harmoniosamente na função de zeladores dos filhos que o Senhor lhes confia, entregando-se ao trabalho e à responsabilidade, à boa vontade e ao amor, não lhes faltam recursos adequados à proteção e à preparação dos filhos para a vida.
Os cuidados paternos no Planeta podem ser assumidos e conduzidos até certo ponto, isto é, até à zona em que a herança dos filhos se manifesta. Por isso mesmo, vemos pais aparentemente pobres de recursos materiais, guardando filhos equilibrados, robustos e felizes, ao lado de pais supostamente ricos pela fortuna amoedada de que são portadores, detendo crianças e jovens, doentes, desvairados ou infelizes de acordo com as dívidas que eles mesmos contraíram no passado próximo ou remoto.
O lar não deve ser uma instituição de medo sistemático onde, a nossa estreita personalidade seja louvada, mas sim um Templo de alegria, onde possamos atender à vontade de Deus.
É passível de censura a mãe ou o pai que, enfraquecidos fisicamente por qualquer doença, limitam sua prole ou a evitam totalmente, com o único pensamento de não transmitir aos filhos a sua doença? Do casal, economicamente pobre, e que sofre as privações dos filhos? Da mãe que, pelas condições atuais, muitas vezes é chamada a prestar serviço fora do seu lar, ficando assim inibida de prestar aos filhos a assistência contínua que uma mãe deve dar? Diante dessas questões, e muitas outras, como encontrar uma solução humana, realmente cristã?
A procriação é serviço de nossa responsabilidade moral diante da vida. Ninguém deve ser exonerado de suas obrigações, quando se manifeste naturalmente, desde que centralize as suas forças mentais no sexo, que, no fundo, é altar de Glorificação ao pensamento divino.
Se a Vida Superior nos julga dignos da procriação no mundo, não nos assiste o direito da fuga, de vez que em todas as obras de progresso da experiência edificante das almas na Terra, não passamos de meros instrumentos dos Divinos Desígnios, competindo-nos tão somente o mérito de aderir ao programa do Alto sem o receio inferior do sacrifício de nós mesmos, sacrifício esse que, em qualquer caso, será enriquecimento de nosso coração para a Vida Imortal.
— O conteúdo original desse livro (impresso) está divido em duas partes, a 1ª, psicografada por F. C. Xavier, sem referência de data, e a 2ª, por Wagner Gomes da Paixão; sem nenhum menosprezo pela obra mediúnica de nosso caro confrade Wagner, mas unicamente por uma questão de respeito ao Testamento Xavierirano, não pudemos incluir a 2ª parte do livro na Bíblia do Caminho, desde que tal parceria não pode ser concretizada por vontade expressa do médium F. C. Xavier enquanto encarnado; pelo que solicitamos a compreensão de todos pela omissão da 2ª parte do mesmo. K. J.
Quid est veritas? (Jo
Est vir qui adest. — É aquele que aqui está. v.