Meus filhos, não somos peixes E a comida não é isca. Leiamos juntos a história Do pobre Juca Lambisca. |
Uberaba, 17 de maio de 1961.
Rabugento e malcriado, Esperto como faísca, Era um menino guloso O nosso Juca Lambisca. Toda hora na despensa, Pé macio e mão ligeira, O maroto parecia Um rato na prateleira. No instante das refeições, Afligindo os próprios pais, Ele comia depressa Repetindo: — Quero mais! Gritava: — Quero mais peixe! Quero mais leite e mais pão! Quero mais sopa no prato, Mais arroz e mais feijão! D. Nicota falava, Ao vê-lo sobre o pudim: — Meu filho, escute! Você Não deve comer assim. Mas o Juca respondão Gritava, erguendo a colher: — A senhora nada sabe; Eu como quanto eu quiser. Na escola, Juca furtava Pastéis, bananas, pepinos, Tomando à força a merenda Das mãos dos outros meninos. A vida do nosso Juca Era comer e comer… Mas foi ficando pesado, E a barriguinha a crescer… Gabriela, a companheira Da cozinha e do quintal, Falava, triste: — Ah! meu Juca, A sua vida vai mal! Não valiam bons conselhos Do papai ou da vovó, Fugia de todo estudo, Queria a panela só… Espíritos benfeitores, No lar em prece, ao seu lado, Preveniam, caridosos: — Meu filho, tenha cuidado. Mas, depois das orações, O nosso Juca, sem fé, Comia restos de prato Na terrina ou no cuité. A todo instante aumentava A grande comedoria, Sujava a cozinha e a copa, Procurando papa fria. Um dia, caiu doente, E o doutor João do Sobrado Receitou: — Este garoto Precisa comer regrado. Mas alta noite ele foge… E, mais tarde, a Gabriela Viu que o Juca estava morto Debruçado na gamela. Muito triste o caso dele… Coitado? Embora gordinho, O Juca morreu cansado De tanto comer toucinho. |
Desencarnado, o Lambisca, Na vida espiritual, Estava do mesmo jeito E o barrigão tal e qual. Acorda num campo lindo … E agora, que não mais dorme, Vê muita gente a sorrir Por vê-lo de pança enorme. Tem a impressão de trazer O peso de um grande bumbo. Quer levantar-se, porém A pança cai como chumbo. Juca xinga nomes feios… Faz birra, choro e escarcéu E pede com gritaria: — Eu quero subir ao Céu! Deu-lhe as mãos e disse: — Filho, Levante-se, cale e ande… Ninguém sobe à Luz Divina Com barriga assim tão grande… Mas o Juca, revoltado, Ergue os punhos pesadões Contra tudo e contra todos, A murros e pescoções. Depois berra: — Esta barriga É grandona, mas é minha! Eu quero comer no tacho, Quero morar na cozinha! Multidões surgem a ver O menino barulhento. E o Juca, com pontapés, Aumentava o movimento. Um sábio aparece e fala: — O Lambisca não regula, Enlouqueceu de repente De tanto cair na gula. Foi preciso, então, prendê-lo… Amarrado e furioso, O pequeno parecia Um cachorrinho raivoso. Os Protetores, após. Guardá-lo em corda segura, Oravam, dando-lhe passes, Com bondade e com doçura… Viu-se logo o olhar do Juca Fazer-se brando, mais brando… O menino foi dormindo E a barriga foi murchando… Os amigos decidiram, Assim como um grande povo, Que o Juca a fim de curar-se Devia nascer de novo. Lambisca a dormir, coitado, Ele — tão forte e mandão, Renasceu, muito pequeno, Um simples bebê chorão. E para esquecer a gula Cresceu doente e magrinho… Só bebia caldo leve, Sem feijão e sem toucinho. |
Dentro das tarefas que o Espiritismo nos impõe, uma delas avulta pela importância e significação com que se destaca no presente para a garantia do futuro de nosso trabalho regenerativo e santificante.
Referimo-nos à imprescindível assistência espiritual que a criança exige de nós, a fim de que não estejamos descuidados no erguimento das colunas vivas do Reino do Senhor, na Terra.
Não levantaremos um edifício, sem assegurar a firmeza dos alicerces.
Não escreveremos um livro, sem antes penetrar o sentido do alfabeto.
Não chegaremos a produzir uma sinfonia, sem abordar os segredos primários das notas simples.
Não colheremos em seara feliz, sem sacrifícios na sementeira.
Como esperar o aprimoramento da humanidade, sem a melhoria do homem, e como aguardar o homem renovado sem o amparo à criança?
O menino de agora dominará depois.
Na urna do coração infantil, reside a decifração dos inquietantes enigmas da felicidade sobre o mundo.
Façamos de nossos templos de fé espírita-cristã não somente santuários de socorro às aflições e aos problemas da experiência humana, mas também lares de adestramento espiritual, com vistas à plantação do bem, onde nossos filhos encontrem a primeira escola de comunhão com o Senhor e com o próximo.
A recuperação da mente infantil para o equilíbrio da vida planetária é trabalho urgente e inadiável, que devemos executar, se nos propomos alcançar o porvir com a verdadeira regeneração.
Na criança, ergue-se o amanhã.
Talvez, por isso mesmo, à frente da multidão aflita, proclamou o nosso Divino Mestre: — Deixai vir a mim os pequeninos… (Mt
Dirijamo-nos para o Cristo, conduzindo conosco os tenros corações das criancinhas e, mais cedo que possamos esperar, a Terra encontrará o caminho glorioso da paz imperecível.
Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier.
Página recebida pelo médium Waldo Vieira.
Texto publicado nas revistas Reformador, outubro 1953, p. 229 e Brasil espírita, janeiro 1953, p. 4, com a diferença na expressão experiência humana do , para madureza humana, que consideramos inadequada no parágrafo citado.