OPÚSCULOS

Capítulo V

Opúsculo 5



Você vai agora conhecer SABINA e seu Natal de rua,

SABINA — uma vida sem lua quase sem palavras entre cores e imagens, e nunca mais, leitor, você terá um só Natal com desamor.

SABINA — sofrida, desconsolada, se arrasta na vida com trapos e dor, com força de AMOR.

Palavras poucas, mas cores muitas, luzes sem conta e imagens loucas.

Natal sem SABINA, leitor, ah! Nunca mais…

SABINA — conquista você pelo olhar, pelo coração, pela mão, por não sei mais quê.

Ler SABINA é sofrer, é ver, é também viver — branco e preto, cores a flux, sombra e luz e depois JESUS.

Tudo é SABINA e sua sina…


A EDITORA




PÁGINA DE GRATIDÃO


Leitor amigo:

Francisca Clotilde não é apenas a irmã que veneramos no Mundo Espiritual.

É igualmente a mestra e amiga que nos conquistou pelo coração.

Colecionadora de informes, episódios, ocorrências e anotações, em torno dos contatos de Jesus conosco, as criaturas da Terra, oferece-nos neste livro luminosa dádiva dos conhecimentos e lembranças que lhe enriquecem a vida. Mensagem de consolação e esperança que dispensa apresentação.

Confiamo-lo a você, dentro da emoção e da alegria com que recolhemos as instruções da generosa Autora, a quem devotamos amor e reconhecimento na maior expressão.

Creia. Entregando-lhe este brinde da alma, agimos com o respeito e o carinho de quem transmite uma bênção.



Uberaba, 19 de Março de 1973.




I


NATAL!… A cidade vibra.

Desde muito anoiteceu.

Ouvem-se vozes cantando:

“Hosanas!… Jesus nasceu!…”


Rodam carros apressados,

Muitos grupos vão a pé…

A alegria, em toda parte,

Traduz esperança e fé.


Enfeites! Guirlandas! Lojas!…

Cores de todo matiz…

Quantas mães falando em Deus!…

Quanta criança feliz!…


Estrelas lembram na Altura

Alampadários em flor

Descendo em bandos à Terra

Para uma festa de AMOR.


Em meio a tanto brilho,

Quase de rastros no solo,

Sabina passa na rua

Com trapos a tiracolo.


Andrajos cobrem-lhe o corpo;

Na face desconsolada

Traz ainda o pó viscoso

Do leito sobre a calçada.


Abeira-se de uma casa,

Pede pão, diz que tem fome,

Afirma-se fatigada,

Há dois dias que não come…


Um senhor enraivecido

Ataca de rosto em brasa:

— “ O hospício fica mais longe,

Afaste-se desta casa…”


Sabina toma outro rumo,

Pede bolo à padaria,

Vem um rapaz e responde

Com manifesta ironia:


— “Não vê que está na cachaça?

Não nota que cambaleia?

Saia daqui, saia agora!…

Peça bolo na cadeia!…”


A pobrezinha se arranca,

Procura, em travessa ao lado,

Antiga caixa de esgoto

Num recanto abandonado.


Em torno, a cidade brilha,

Toda envolvida de luz!…

Deitada no chão de pedra,

Sabina pensa em JESUS…


II


Onde nascera Sabina?

Vivia, afinal, com quem?

Era inútil perguntar,

Ninguém sabia, NINGUÉM…


Lavava roupa em fazendas,

Capinava milharais;

Depois, ficara doente…

Ninguém a queria mais.


Tivera um filho, o Antoninho,

Que lhe fora apoio à vida…

Morrera aos oito de idade,

Com febre e tosse comprida.


Desde a morte do menino,

Fazia em tudo supor,

Abatida e desgrenhada,

Que enlouquecera de dor…


Era triste, desleixada,

Andava, de déu em déu,

Se parava era somente

A fim de fitar o céu.


Nessa noite de alegria,

Embora sem entende-las,

Enfraquecida e cansada,

Sabina olhava as estrelas.


Parecia o firmamento

Um campo da primavera…

Onde estaria no Alto

O filho que Deus lhe dera?


Em lágrimas, recordava

O Natal de antigamente,

O barraco improvisado,

O bule de café quente…


Revia, a fel de saudade,

Os sorrisos de Antoninho,

Ao despejar-lhe nas mãos

As dádivas do vizinho…


Restava-lhe, unicamente,

Depois do filhinho morto,

Doença, frio, abandono,

Sofrimento, desconforto…


III


Nisso, alguém lhe surge à frente,

Homem moço em largo manto,

Por tudo e em tudo irradia

Incomparável encanto.


— “Sabina — falou o estranho —

Em que pensa, triste assim?

Não vê que a cidade inteira

É um luminoso jardim?”


Ela explica: — “Não, senhor,

Nada vejo, em derredor,

Quando é Noite de Natal,

Meu sofrimento é maior…”


— “Que quer você? — disse o jovem —

Dinheiro? Roupas de renda?

Um tanque para lavar,

Um milharal de fazenda?!…


— “Ah! Senhor — clamou a pobre,

Tremendo na ventania —

Se o Céu me escutasse agora,

Nada disso pediria…


“Como sempre, rogo em prece,

Enferma e só como estou,

O filho que Deus me deu

E a morte me arrebatou…”


— “Sua oração foi ouvida…” —

Ele informa, face em luz.

— “Quem ouço?… — indaga Sabina.

Ele diz: — “Eu sou JESUS!…”


Do manto Dele um pequeno

Sai envolto em doce brilho…

Clama o garoto: — “MAMÃE!…”

Sabina grita: — “Ah! meu filho!…”


Encontro, surpresa, bênção,

Júbilo imenso depois…

SABINA beijava o filho,

JESUS abraçava os dois!…


Naquelas pedras de rua,

Que a luz do Céu banha e doura

Clarões pintavam em prata

Lembranças da Manjedoura.


Logo após, os três partiam

Ouvindo canções ditosas,

Em nave feita de estrelas

Emolduradas de rosas.


Em toda parte, as legendas

Que o mundo nunca esqueceu:

— “Glória a Deus!… Paz sobre a Terra!…

Hosanas!… Jesus nasceu!…”


No outro dia, cedo ainda,

Uma senhora na estrada,

De longe, enxerga Sabina

Como a dormir, recostada…


A dama quase supõe

Na pobre que conhecera

Um retrato da alegria

Numa escultura de cera.


Volta à casa… Traz um caldo,

Quer saber se a reconforta.

Chama Sabina, de leve,

Mas Sabina…estava morta.


Francisca Clotilde


O livro Natal de Sabina foi composto entremeando textos e imagens representativas, que poderão serem apreciadas consultando o original impresso em papel.