Evangelho por Emmanuel, O – Comentários ao Evangelho Segundo Mateus

Capítulo CXVIII

Conceito do bem



“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos Céus.” — JESUS (Mt 5:48)


“O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza.” —


Toda vez que ouças alguém se referindo ao bem ou ao mal de alguém, procura discernir.


Conheces o amigo que escalou a eminência econômica.

À vista da facilidade com que maneja a moeda, há quem o veja muito bem situado, nas vantagens materiais; no entanto, via de regra, se lhe radiografasses os sentimentos, nele encontrarias um escravo da inquietação, detido em cadeias de ouro.


Assinalas o homem que alcançou a respeitabilidade política.

Tão logo surge no vértice da administração, há quem o veja muito bem colocado nos interesses do mundo, mas, frequentemente, se lhe fotografasses as telas do espírito, nele surpreenderias um mártir de cerimoniais e banquetes, constrangido entre as necessidades do povo e as exigências da lei.


Admiras o companheiro que venceu as próprias inibições elevando-se à direção do trabalho comum.

À face da significativa remuneração que percebe, há quem o veja muito bem posto na esfera social; contudo, na maioria das vezes, se lhe observasses as mais íntimas reações, nele acharias um prisioneiro de sufocantes obrigações, sem tempo para comer o pão que assegura aos dirigidos de condição mais singela.


Elogias o cientista que fornece ideias de renovação e conforto.

Ao fitá-lo sob os lauréis da popularidade, há quem o veja muito bem classificado na galeria da fama; no entanto, quase sempre, se lhe tateasses a alma por dentro, nele surpreenderias um atormentado servidor do progresso, clamando ansiosamente por simplicidade e repouso.


Reajustemos, assim, o conceito do bem, diante da vida.

Em muitas circunstâncias, o dinheiro suprime aflições, a autoridade resolve problemas, a influência apara dificuldades e a cultura clareia o caminho…

Por isso mesmo, toda pessoa que obtém qualquer parcela mais expressiva de responsabilidade e destaque, mostra-se realmente muito bem para combater o mal e liquidá-lo; entretanto, caso venha a utilizar-se dos bens com que a vida lhe enriquece as mãos, apenas para cuidar do bem de si mesma, sem qualquer preocupação na garantia do bem devido aos outros, seja onde seja, semelhante criatura estará simplesmente bem mal.




(Reformador, janeiro de 1963, p. 4)