“Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” — JESUS (Mt
“O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo.” —
Em tudo o que se refira à propriedade, enumera, acima de tudo, aquelas que partilhas, por dons inexprimíveis da Infinita Bondade, e que, por se haverem incorporado tranquilamente ao teu modo de ser, quase sempre delas não fazes conta.
Diariamente, recolhes, com absoluta indiferença, as cintilações da coroa solar a se derramarem, por forças divinas, no regaço da terra, transfigurando-se em calor e pão, no entanto, basta pequeno rebanho de nuvens na atmosfera para que te revoltes contra o frio.
Dispões das águas circulantes que, em mananciais e poços, rios e chuvas, te felicitam a existência, sem que te lembres disso, e, ante o breve empecilho do encanamento no recinto doméstico, entregas-te sem defesa a pensamentos de irritação.
Flores aos milhares, na estrada e no campo, convidam-te a meditar na grandeza da Inteligência Divina, conversando contigo pelo idioma particular do perfume e, em muitas circunstâncias, não hesitas esfacelá-las sob os pés, deitando reclamações se pequenino seixo te penetra o sapato.
Correntes aéreas trazem de longe princípios nutrientes, sustentando-te a vida e lhes consomes as energias, à feição da criança que se rejubila inconsciente e feliz no seio materno e se o vento agita leve camada de pó, costumas acusar desagrado e intemperança.
Possuis no corpo todo um castelo de faculdades prodigiosas que te enseja pelas ogivas dos sentidos a contemplação e a análise do Universo, permitindo-te ver e ouvir, falar e orientar, aprender e discernir, sem que lhe percebas, do pronto, o ilimitado valor, e dificilmente deixas de clamar contra os excedentes que assinalas no caminho dos semelhantes, sem refletir nos aborrecimentos e nas provas que a posse efêmera disso ou daquilo lhes acarreta à existência.
Não invejes a propriedade transitória dos outros.
Ignoras porque motivo a fortuna amoedada lhes aumenta a responsabilidade e requeima a cabeça.
Sobretudo, nunca relaciones a ausência do supérfluo.
Considera os talentos imperecíveis que já reténs na intimidade da própria alma e lembra-te de que transportas no coração e nas mãos os recursos inefáveis de estender, infinitamente, os tesouros do trabalho e as riquezas do amor.