Evangelho por Emmanuel, O – Comentários ao Evangelho Segundo Mateus

Capítulo CLXIV

Amigo e servo



“Ninguém pode servir a dois senhores…” — JESUS (Mt 6:24)


“Difunde, em torno de ti, com os socorros materiais o amor de Deus, o amor do trabalho, a amor do próximo. Coloca tuas riquezas sobre uma base que nunca lhes faltará e que te trará grandes lucros: a das boas obras.” —


Consulta o dinheiro que encostaste por disponível e analisa-lhe a história por um instante!

É provável tenha passado pelos suplícios ocultos de um homem doente, que se empenhou a gastá-lo em medidas que não lhe aplacaram os sofrimentos; terá rolado em telheiros, onde mães desvalidas lhe disputaram a posse, nos encargos de servidão; na rua, foi visto por crianças menos felizes que o desejaram, em vão, pensando no estômago dolorido; e conquistado, talvez, por magro lavrador nas fadigas do campo, visitou-lhe apressadamente a casa, sem resolver-lhe os problemas…

Entretanto, não teve o longo itinerário somente nisso. Certamente, foi compelido a escorar o ócio das pessoas inexperientes que desertaram da atividade, descendo aos sorvedouros da obsessão; custeou o artifício que impeliu alguém para a voragem de terríveis enganos; gratificou os entorpecentes que aniquilam existências preciosas; e remunerou o álcool que anestesia consciências respeitáveis, internando-as no crime.

Que farias de um lidador prestimoso, que te batesse à porta, solicitando emprego digno? de um cooperador humilhado por alheios abusos, que te rogasse conselho, a fim de reajustar-se e servir?

O dinheiro de sobra, que nada tem a ver com as tuas necessidades reais, é esse colaborador que te procura, pedindo orientação.

Não lhe congeles as possibilidades no frio da avareza, nem lhe escondas as energias no labirinto do monopólio. Acata-lhe a força e enobrece-lhe os movimentos, na esfera de obrigações que o mundo te assinalou.

Hoje mesmo, ele pode obter, com teu patrocínio, a autoridade moral do trabalho para o companheiro, impropriamente julgado inútil; o revigoramento do lar que a privação asfixia; o livro edificante que clareie as trilhas dos que se transviam sem apoio espiritual; o alento aos enfermos desprotegidos; ou a tranquilidade para irmãos atenazados pelos aguilhões da penúria que, frequentemente, lhes impõem o desequilíbrio ou a morte, antes mesmo de serem amparados no giro da mendicância.

Dinheiro de sobra é o amigo e servo que a Divina Providência te envia para substituir-te a presença, onde as tuas mãos, muitas vezes, não conseguiu chegar.

Sim, é possível que, amanhã, outras criaturas venham a escravizá-lo sob intenções inferiores, mas ninguém apagará o clarão que acendeste com ele para a felicidade do próximo, porque, segundo as leis inderrogáveis que governam a vida, o bem que fizeste aos outros a ti mesmo fizeste.