Evangelho por Emmanuel, O – Comentários ao Evangelho Segundo Mateus

Capítulo CCXVIII

Tentações



O êxito dos falsos profetas, em nossa vida, surge na proporção de falsidade que ainda abrigamos em nosso próprio Espírito.

O ouro tenta o homem, mas não move o interesse do corvo. Os detritos atraem o corvo, mas apenas provocam a repugnância do homem.

Somos tentados invariavelmente de acordo com a nossa própria natureza.

A perturbação não lançaria raízes no solo de nossa alma, se aí não encontrasse terreno adequado.

Não nos libertaremos, assim, das forças enganadoras que nos cercam, sem a nossa própria libertação dos interesses inferiores.

O ouvido que oferece asilo à calúnia, é cultor da maledicência.

A boca que se detém na resposta ao insulto, naturalmente estima a produção verbal de crueldade e sarcasmo.

Quem muito se especializa na contemplação do charco, traz o pântano dentro de si.

Quem se consagra sistematicamente à fuga do próprio dever, aceita a comunhão com criaturas indisciplinadas como se convivesse com mártires e heróis.

Quem apenas possui visão para a crítica, encontra prazer com os censores inveterados e com os incuráveis pessimistas, que somente identificam a treva ao redor dos próprios passos.

Tenhamos cautela em nós mesmos, a fim de que a nossa defensiva contra a mentira e contra a ilusão funcione, eficiente.

Não seríamos procurados pelos adversários da Luz se não cultivássemos a sombra.

Jamais ouviríamos o apelo às nossas vaidades se não vivêssemos reclamando o envenenado licor da lisonja ao nosso próprio “eu” enfermiço.

Procuremos as situações e os acontecimentos, as criaturas e as coisas pelo bem que possam produzir, nunca pelo estímulo ao nosso personalismo desregrado, e os problemas da tentação degradante estarão resolvidos em nossa marcha.

“A árvore é conhecida pelos frutos” ensina o Senhor, (Mt 7:16) e seremos queridos e admirados pelos Espíritos que nos rodeiam, de acordo com os nossos próprios pensamentos e as nossas próprias obras.

Sejamos fiéis ao Senhor, na prática do amor puro, em qualquer confissão religiosa a que nos afeiçoemos, e as forças infiéis à verdade não encontrarão base em nossa vida, de vez que a Vontade Divina, e não o nosso capricho, será então a luz santificadora de nossos próprios corações.




(Reformador, dezembro de 1953, página 279)