Evangelho por Emmanuel, O – Comentários ao Evangelho Segundo Mateus

Capítulo CCXIX

Tais quais somos



“Nem todo o que me diz: Senhor! Senhor! entrará no Reino das Céus mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus.” — JESUS (Mt 7:21)


“Será bastante trazer a libré do Senhor para ser-se fiel servidor seu? Bastará dizer: Sou cristão, para que alguém seja um seguidor de Cristo? Procurai os verdadeiros cristãos e as reconhecereis pelas suas obras.” —


Declaras-te no sadio propósito de buscar evolução e aprimoramento, luz e alegria, entretanto, em várias ocasiões, estacas, recusando a estação de experiência e resgate em que ainda te vês.

Deitas aflitivo olhar para fora e, frequentemente, cobiças sem perceber, as condições de amigos determinados, perdendo valioso tempo em descabidas lamentações.


“Se eu contasse com mais saúde…” — alegas em tom amargo.

Em corpos enfermos, todavia, há Espíritos que entesouram paciência e coragem, fortaleza e bom ânimo, levantando o padrão moral de comunidades inteiras.


“Se eu conseguisse um diploma distinto…” — afirmas com menosprezo a ti próprio.

Não te é lícito desconhecer, porém, que o dever retamente cumprido é certificado dos mais nobres, descerrando-te caminho às conquistas superiores.


“Se eu tivesse dinheiro…” — reclamas, triste.

Mas esqueces-te de que é possível socorrer o doente e abençoar o próximo, sem acessórios amoedados.


“Se eu possuísse mais cultura…” — asseveras, mostrando verbo desapontado.

E não te aplicas ao esmero de lembrar que nunca existiram sábios e autoridades, sem começos laboriosos e sem ásperas disciplinas.


“Se eu alcançasse companheiros melhores…” — dizes, subestimando o próprio valor.

Entretanto, o esposo transviado e a esposa difícil, os filhos-problemas e os parentes complicados, os colaboradores incipientes e os amigos incompletos são motivos preciosos do teu apostolado individual, na abnegação e no entendimento, para que te eleves de nível, ante a Vida Maior.


Errados ou inibidos, deficientes ou ignorantes, rebeldes ou faltosos, é necessário aceitar a nós mesmos, tais quais somos, sem acalentar ilusões a nosso respeito, mas conscientes de que a nossa recuperação, melhoria, educação e utilidade no bem dos semelhantes, na sustentação do bem de nós mesmos, podem principiar, desde hoje, se nós quisermos, porquanto é da Lei que a nossa vontade, intimamente livre, disponha de ensejos para renovar o destino, todos os dias.

Ensinou-nos Jesus que o Reino de Deus está dentro de nós. (Lc 17:20)

Fujamos, pois, de invejar os instrumentos de trabalho e progresso que brilham na responsabilidade dos outros. Para superar as dificuldades e empeços de nossos próprios limites, basta abrir o coração ao amor e aproveitar os recursos que nos enriquecem as mãos.




(Reformador, fevereiro de 1963, p. 40)