Evangelho por Emmanuel, O – Comentários ao Evangelho Segundo Mateus

Capítulo XXVII

Nem todos os aflitos



A aflição é um desafio que poucos suportam, lição que raros aprendem e tesouro que não se recebe facilmente.

Depois de regulares períodos de paz e ordem, a alma é visitada pela aflição que, em nome da Sabedoria Divina, lhe afere os valores e conquistas.

Raros, porém, são aqueles que a recebem dignamente.

O impulsivo, quase sempre, converte-a em crime ou falta grave.

O impaciente faz dela a escura paisagem do desespero, onde perde as melhores oportunidades de servir.

O triste desvaloriza-lhe as sugestões e dorme sobre as probabilidades de autossuperação, em longas e pesadas horas de choro e desânimo.

O ingrato transforma-a em calhaus com que apedreja o nome e o serviço de companheiros e vizinhos.

O indiferente foge-lhe aos avisos como quem escapa impensadamente da orientadora que lhe renovaria os destinos.

O leviano esquece-lhe os ensinamentos e perde o ensejo de elevar-se, por sua influência, a planos mais altos.

O espírito prudente, contudo, recebe a aflição como o oleiro que encontra no fogo o único recurso para imprimir solidez e beleza ao vaso que o gênio idealiza.


Se a tempestade purifica e se o fel, por vezes, é o exclusivo medicamento da cura, a aflição é a porta de acesso ao engrandecimento espiritual.

Só aquele que a recebe por instrumento de perfeição consegue extrair-lhe as preciosidades divinas. É por isso que nem todos os aflitos podem ser bem-aventurados, (Mt 5:5) de vez que, somente aproveitando a dor para a materialização consistente de nossos ideais e de nossos sonhos, é que podemos atingir a divina alegria da esperança vitoriosa, na criação sublime de aprimoramento eterno, a que todos somos chamados pela vida comum, nas lutas de cada dia.




(Reformador, junho de 1954, p. 143)