“Se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda…” — assim falou o Senhor. (Mt
É importante indagar porque não teria o Mestre recorrido a outros símbolos.
Jesus poderia ter destacado a grandeza da fé, buscando quadros mais sugestivos.
A beleza do Hermon…
A poesia do lago de Genesaré…
O esplendor do firmamento galileu…
A riqueza do Templo de Jerusalém…
Todos esses primores da paisagem que o circundava ofereciam temas vivos para a exaltação da sublime virtude.
Entretanto, o Benfeitor Celeste toma a semente minúscula da mostarda, como a dizer-nos que sem o reconhecimento de nossa própria pequenez à frente do Eterno Amor e da Eterna Sabedoria não conseguiremos amealhar o tesouro do entendimento e da confiança que a fé consubstancia em si mesma.
A semente microscópica desaparece, em verdade, no seio da Terra, qual se fora inútil ou desprezível, todavia, não se abandona à inércia, por sentir-se relegada ao abandono aparente.
Confia-se às leis que nos regem e, na dinâmica da obediência construtiva, desvencilha-se dos envoltórios inferiores que a encarceram; germina, vitoriosa, e cresce para produzir, não para si mesma, mas, para benefício dos outros, num eloquente espetáculo de bondade espontânea, ante a majestade da natureza.
Possa o nosso coração, no solo das experiências humanas, copiar-lhe o impulso de simplicidade e serviço e a nossa existência será testemunho insofismável da magnificência divina cuja sublimidade passaremos então a refletir.
Assim, pois, cessemos nossas indagações descabidas e busquemos na Criação o justo lugar que nos compete.
Nem com o brilho do diamante, nem com a cintilação do ouro, nem com a sedução da prata, nem com a aristocracia do mármore, em que tantas vezes temos procurado simplesmente a ilusão do poder que a morte arrebata e modifica, mas, sim com a humildade viva do grão de mostarda que, arrojado à solidão da Terra, sabe vencer, desabrochar, florir e cooperar na extensão da glória de Deus.
(Reformador, agosto 1957, p. 192)