Evangelho por Emmanuel, O – Comentários ao Evangelho Segundo Mateus

Capítulo CCCXXXIII

A retribuição



“Pedro disse-lhe: e nós que deixamos tudo e te seguimos, que receberemos?” — (Mt 19:27)


A pergunta do apóstolo exprime a atitude de muitos corações nos templos religiosos.

Consagra-se o homem a determinado círculo de fé e clama, de imediato: — “que receberei?”

A resposta, porém, se derrama silenciosa, através da própria vida.


Que recebe o grão maduro, após a colheita?

O triturador que o ajuda a purificar-se.


Que prêmio se reserva à farinha alva e nobre?

O fermento que a transforma para a utilidade geral.


Que privilégio caracteriza o pão, depois do forno?

A graça de servir.


Não se formam cristãos para adornos vivos do mundo e sim para a ação regeneradora e santificante da existência.

Outrora, os servidores da realeza humana recebiam o espólio dos vencidos e, com ele, se rodeavam de gratificações de natureza física, com as quais abreviavam a própria morte.

Em Cristo, contudo, o quadro é diverso. Vencemos, em companhia d’Ele, para nos fazermos irmãos de quantos nos partilham a experiência, guardando a obrigação de ampará-los e ser-lhes úteis.

Simão Pedro, que desejou saber qual lhe seria a recompensa pela adesão à Boa Nova, viu, de perto, a necessidade da própria renúncia. Quanto mais se lhe acendrou a fé, maiores testemunhos de amor à Humanidade lhe foram requeridos. Quanto mais conhecimento adquiria, à mais ampla caridade foi constrangido, até o sacrifício extremo.

Se deixaste, pois, por devoção a Jesus, os laços que te prendiam às zonas inferiores da vida, recorda que, por felicidade tua, recebeste do Céu a honra de ajudar, a prerrogativa de entender e a glória de servir.