Se houve alguém com suficientes obstáculos, no apostolado do Evangelho, para render-se irremediavelmente ao desânimo, esse alguém foi o próprio Jesus.
Descendo da Esfera superior, a benefício do mundo, não recebe no mundo senão uma estrebaria para acolher-se.
Criança de vida humilde e pobre, é obrigado a fugir para resguardar-se.
Portador da maior mensagem do Céu à Terra, não encontra cientistas e filósofos que o ouçam.
Iniciando o seu ministério, surpreende a desconfiança a seguir-lhe a rota, inclusive da parte do próprio João Batista que, das algemas do cárcere, manda saber se em verdade era Ele, o esperado Filho de Deus.
Distribuindo reconforto e consolação, não dispôs de uma pedra onde repousasse a cabeça.
Desdobrando o roteiro do bem, foi categorizado à conta de malfeitor.
Sem culpa, padeceu o insulto e a prisão.
Entre os discípulos que amara não conseguiu contar com demonstrações de imediato entendimento ou de pronta fidelidade. Alguns deles dormiram no Horto, quando as lágrimas lhe calcinavam o espírito.
Judas, fascinado pela dominação política, não vacilou em acusá-lo injustamente.
Pedro, enfraquecido, negou-o três vezes.
Todos os beneficiários de suas mãos, totalizando cegos que voltaram à luz e leprosos que reconquistaram a limpeza, loucos que tornaram ao equilíbrio e paralíticos que recuperaram os movimentos, desapareceram na hora em que seus olhos doridos reclamavam amor.
Com exceção do carinho e da lealdade de algumas piedosas mulheres no grande testemunho, em torno do Senhor, não identificamos senão desprezo e indiferença, amargura e solidão.
Entretanto, depois da crucificação e da morte, vemo-lo de retorno aos amigos e seguidores com o mesmo sorriso de compreensão e bondade, confiando neles, convertendo-lhes a fragilidade em fortaleza e o pessimismo em renovada esperança, exclamando otimista: — “Ide e exemplificai!” (Mt
Quando padeceres aflição e cansaço, lembra-te dele… Não admitas que o desalento te imobilize os braços e enregele o coração.
Recorda que hoje como ontem e amanhã como sempre, Jesus permanecerá conosco, orientando-nos o passo para a divina alegria e para a suprema vitória.
(Reformador, março de 1958, página 68)