— Como compreender a afirmativa de Jesus aos judeus: — “Sois deuses”? (Jo
— Em todo homem repousa a partícula da divindade do Criador, com a qual pode a criatura terrestre participar dos poderes sagrados da Criação.
O Espírito encarnado ainda não ponderou devidamente o conjunto de possibilidades divinas guardadas em suas mãos, dons sagrados tantas vezes convertidos em elementos de ruína e destruição.
Entretanto, os poucos que sabem crescer na sua divindade, pela exemplificação e pelo ensinamento, são cognominados na Terra santos e heróis, por afirmarem a sua condição espiritual, sendo justo que todas as criaturas procurem alcançar esses valores, desenvolvendo para o bem e para a luz a sua natureza divina.
— Qual o sentido do ensinamento evangélico: — “Todos os pecados ser-vos-ão perdoados, menos os que cometerdes contra o Espírito Santo”? (Mc
— A aquisição do conhecimento espiritual, com a perfeita noção de nossos deveres, desperta em nosso íntimo a centelha do espírito divino, que se encontra no âmago de todas as criaturas.
Nesse instante, descerra-se à nossa visão profunda o santuário da luz de Deus, dentro de nós mesmos, consolidando e orientando as nossas mais legítimas noções de responsabilidade na vida.
Enquanto o homem se desvia ou fraqueja, distante dessa iluminação, seu erro justifica-se, de alguma sorte, pela ignorância ou pela cegueira. Todavia, a falta cometida com a plena consciência do dever, depois da bênção do conhecimento interior, guardada no coração e no raciocínio, essa significa o “pecado contra o Espírito Santo”, porque a alma humana estará, então, contra si mesma, repudiando as suas divinas possibilidades.
É lógico, portanto, que esses erros são os mais graves da vida, porque consistem no desprezo dos homens pela expressão de Deus, que habita neles.
— Qual o espírito destas letras: — “Não cuides que vim trazer paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada”? (Mt
— Todos os símbolos do Evangelho, dado o meio em que desabrocharam, são, quase sempre, fortes e incisivos.
Jesus não vinha trazer ao mundo a palavra de contemporização com as fraquezas do homem, mas a centelha de luz para que a criatura humana se iluminasse para os Planos divinos.
E a lição sublime do Cristo, ainda e sempre, pode ser conhecida como a “espada” renovadora, com a qual deve o homem lutar consigo mesmo, extirpando os velhos inimigos do seu coração, sempre capitaneados pela ignorância e pela vaidade, pelo egoísmo e pelo orgulho.
— A afirmativa do Mestre: — “Porque eu vim pôr em dissensão o filho contra seu pai, a filha contra sua mãe e a nora contra sua sogra” — como deve ser compreendida em espírito e verdade? (Mt
— Ainda aqui, temos de considerar a feição antiga do hebraico, com a sua maneira vigorosa de expressão.
Seria absurdo admitir que o Senhor viesse estabelecer a perturbação no sagrado instituto da família humana, nas suas elevadas expressões afetivas, mas, sim, que os seus ensinamentos consoladores seriam o fermento divino das opiniões, estabelecendo os movimentos materiais das ideias renovadoras, fazendo luz no íntimo de cada um, pelo esforço próprio, para felicidade de todos os corações.
— “E tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis” — Esse preceito do Mestre tem aplicação, igualmente, no que se refere aos bens materiais? (Mt
— O “seja feita a vossa vontade”, da oração comum, constitui nosso pedido geral a Deus, cuja Providência, através dos seus mensageiros, nos proverá o Espírito ou a condição de vida do mais útil, conveniente e necessário ao nosso progresso espiritual, para a sabedoria e para o amor.
O que o homem não deve esquecer, em todos os sentidos e circunstâncias da vida, é a prece do trabalho e da dedicação, no santuário da existência de lutas purificadoras, porque Jesus abençoará as suas realizações de esforço sincero.
— Por que disse Jesus que “o escândalo é necessário, mas ai daquele por quem o escândalo vier”? (Mt
— Num Plano de vida, onde quase todos se encontram pelo escândalo que praticaram no pretérito, é justo que o mesmo “escândalo” seja necessário, como elemento de expiação, de prova ou de aprendizado, porque aos homens falta ainda aquele “amor que cobre a multidão dos pecados”.
As palavras do ensinamento do Mestre ajustam-se, portanto, de maneira perfeita, à situação dos encarnados no mundo, sendo lastimáveis os que não vigiam, por se tornarem, desse modo, instrumentos de tentação nas suas quedas constantes, através dos longos caminhos.
— As palavras de Jesus: — “A luz brilha nas trevas e as trevas não a compreenderam”, tiveram aplicação somente quando da exemplificação do Cristo, há dois mil anos, ou essa aplicação é extensiva à nossa era? (Jo
— As palavras do apóstolo referiam-se à sua época; todavia, o simbolismo evangélico do seu enunciado estende-se aos tempos modernos, nos quais a lição do Senhor permanece incompreendida para a maioria dos corações, que persistem em não ver a luz, fugindo à verdade.
— Em que sentido devemos interpretar as sentenças de João Batista: — “A quem pertence a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que com ele está e ouve, muito se regozija por ouvir a voz do esposo. Pois este gozo eu agora experimento; é preciso que ele cresça e que eu diminua”? (Jo
— O esposo da Humanidade terrestre é Jesus-Cristo, o mesmo Cordeiro de Deus que arranca as almas humanas dos caminhos escusos da impenitência.
O amigo do esposo é o seu precursor, cuja expressão humana deveria desaparecer a fim de que Jesus resplandecesse para o mundo inteiro, no seu Evangelho de Verdade e Vida.
— A transfiguração do Senhor é também um símbolo para a Humanidade? (Mt
— Todas as expressões do Evangelho possuem uma significação divina e, no Tabor, contemplamos a grande lição de que o homem deve viver a sua existência, no mundo, sabendo que pertence ao Céu, por sua sagrada origem, sendo indispensável, desse modo, que se desmaterialize, a todos os instantes, para que se desenvolva em amor e sabedoria, na sagrada exteriorização da virtude celeste, cujos germens lhe dormitam no coração.
— Qual o sentido da afirmativa do texto sagrado, acerca de Jesus: — “Não tendo Deus querido sacrifício, nem oblata, lhe formou um corpo”? (Hb
— Para Deus, o mundo não mais deveria persistir no velho costume de sacrificar nos altares materiais, em seu nome, razão por que enviou aos homens a palavra do Cristo, a fim de que a Humanidade aprendesse a sacrificar no altar do coração, na ascensão divina dos sentimentos para o seu amor.
— Como interpretar a afirmativa de João: — “Três são os que fornecem testemunho no Céu; o Pai, o Verbo e o Espírito Santo”? (1Jo
— João referia-se ao Criador, a Jesus, que constituía para a Terra a sua mais perfeita personificação, e à legião dos Espíritos redimidos e santificados que cooperam com o Divino Mestre, desde os primeiros dias da organização terrestre, sob a misericórdia de Deus.
— Como entender a bem-aventurança conferida por Jesus aos “pobres de espírito”? (Mt
— O ensinamento do Divino Mestre referia-se às almas simples e singelas, despidas do “espírito de ambição e de egoísmo”, que costumam triunfar nas lutas do mundo.
Não costumais até hoje denominar os vitoriosos do século, nas questões puramente materiais, de “homem de espírito”? É por essa razão que, em se dirigindo à massa popular, aludia o Senhor aos corações despretensiosos e humildes, aptos a lhe seguirem os ensinamentos, sem determinadas preocupações rasteiras da existência material.
— Qual a maior lição que a Humanidade recebeu do Mestre, ao lavar ele os pés dos seus discípulos? (Jo
— Entregando-se a esse ato, queria o Divino Mestre testemunhar às criaturas humanas a suprema lição da humildade, demonstrando, ainda uma vez, que, na coletividade cristã, o maior para Deus seria sempre aquele que se fizesse o menor de todos.
— Por que razão Jesus, ao lavar os pés dos seus discípulos, cingiu-se com uma toalha? (Jo
— O Cristo, que não desdenhou a energia fraternal na eliminação dos erros da criatura humana, afirmando-se como o Filho de Deus nos divinos fundamentos da Verdade, quis proceder desse modo para revelar-se o escravo pelo amor à Humanidade, à qual vinha trazer a luz da vida, na abnegação e no sacrifício supremos.
— Aceitando Jesus o auxílio de Simão, o cireneu, desejava deixar um novo ensinamento às criaturas? (Mt
— Essa passagem evangélica encerra o ensinamento do Cristo, concernente à necessidade de cooperação fraternal entre os homens, em todos os trâmites da vida.
— A ressurreição de Lázaro, operada pelo Mestre, tem um sentido oculto, como lição à Humanidade? (Jo
— O episódio de Lázaro era um selo divino identificando a passagem do Senhor, mas também foi o símbolo sagrado da ação do Cristo sobre o homem, testemunhando que o seu amor arrancava a Humanidade de seu sepulcro de misérias, Humanidade a favor da qual tem o Senhor dado o sacrifício de suas lágrimas, ressuscitando-a para o sol da vida eterna, nas sagradas lições do seu Evangelho de amor e de redenção.
— Poderemos receber um ensinamento sobre a eucaristia, dado o costume tradicional da Igreja Romana, que recorda a ceia dos discípulos com o vinho e a hóstia? (Mt
— A verdadeira eucaristia evangélica não é a do pão e do vinho materiais, como pretende a igreja de Roma, mas, a identificação legítima e total do discípulo com Jesus, de cujo ensino de amor e sabedoria deve haurir a essência profunda, para iluminação dos seus sentimentos e do seu raciocínio, através de todos os caminhos da vida.
— Quem terá recebido maior soma de misericórdia na justiça divina: — Judas, o discípulo infiel, mas iludido e arrependido, ou o sacerdote maldoso e indiferente, que o induziu à defecção? (Mt
— Quem há recebido mais misericórdia, por mais necessitado e indigente, é o mau sacerdote de todos os tempos, que, longe de confundir a lição do Cristo uma só vez, vem praticando a defecção espiritual para com o Divino Mestre, desde muitos séculos.
— Que ensinamentos nos oferece a negação de Pedro? (Mt
— A negação de Pedro serve para significar a fragilidade das almas humanas, perdidas na invigilância e na despreocupação da realidade espiritual, deixando-se conduzir, indiferentemente, aos torvelinhos mais tenebrosos do sofrimento, sem cogitarem de um esforço legítimo e sincero, na definitiva edificação de si mesmas.
— Qual a edição dos Evangelhos que melhor traduz a fonte original?
— A grafia original dos Evangelhos já representa, em si mesma, a própria tradução do ensino de Jesus, considerando-se que essa tarefa foi delegada aos seus apóstolos.
Sendo razoável estimarmos, em todas as circunstâncias, os esforços sinceros, seja qual for o meio onde se desdobram, apenas consideramos que, em todas as traduções dos ensinamentos do Mestre Divino, se torna imprescindível separar da letra o espírito.
Podereis objetar que a letra deveria ser simples e clara.
Convenhamos que sim, mas importa observar que os Evangelhos são o roteiro das almas, e é com a visão espiritual que devem ser lidos; pois, constituindo a cátedra de Jesus, o discípulo que deles se aproximar com a intenção sincera de aprender encontra, sob todos os símbolos da letra, a palavra persuasiva e doce, simples e enérgica, da inspiração do seu Mestre imortal.