Evangelho por Emmanuel, O – Comentários ao Evangelho Segundo Marcos

Capítulo LI

Nossas cruzes



“…Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” — JESUS (Mc 8:34)


“Rejubilai-vos, diz Jesus, quando os homens vos odiarem e perseguirem por minha causa, visto que sereis recompensados no Céu. Podem traduzir-se assim estas verdades: Considerai-vos ditosos, quando haja homens que, pela sua má vontade para convosco, vos deem ocasião de provar a sinceridade da vossa fé, porquanto o mal que vos façam redundará em proveito vosso. Lamentai-lhes a cegueira, porém, não os maldigais.” —


Julgávamos, antigamente, que nossas cruzes, as que devemos carregar, ao encontro do Senhor, se constituíam, unicamente daquelas dos exercícios louváveis mas incompletos da piedade religiosa. E perdemos, em parte, muitas reencarnações, hipnotizados por sentimentalismo enfermiço, ilhando-nos, sem perceber, nas miragens da própria imaginação para esbarrar, em seguida, com os pesadelos do tempo largado inútil.

Com a Doutrina Espírita, que nos revela o significado real das palavras do Cristo, aprendemos hoje que não bastam fugas e omissões do campo de luta a fim de alcançarmos a meta sublime.

Assevera Jesus que se nos dispomos a encontrá-lo, é preciso renunciar a nós mesmos e tomar nossa cruz. Essa renúncia, porém, não será semelhante à fonte seca. É necessário que ela demonstre rendimento de valores espirituais, em nosso favor e a benefício daqueles que nos cercam, ensinando-nos o desapego ao bem próprio pelo bem de todos.

À face disso, nossas cruzes incluem todas as realidades que o mundo nos oferece, dentro das quais somos convocados a esquecer-nos na construção da felicidade geral.

Os fardos que nos cabem transportar, a fim de que venhamos a merecer o convívio do Mestre, bastas vezes contêm as dores das grandes separações, as farpas do desencanto, as provações em família, os sacrifícios mudos, em que os entes amados nos pedem largos períodos de aflição, os desastres do Plano físico que nos cortam a alma, o abandono daqueles mesmos que nos baseavam todas as esperanças, o cativeiro a compromissos pela sustentação da harmonia comum, as tarefas difíceis, em cuja execução, quase sempre, somos constrangidos a marchar, aguardando debalde o concurso alheio.

Não nos enganemos. O próprio Cristo transportou o madeiro que a nossa ignorância lhe atribuiu, palmilhando senda marginada de exigências, injúrias, pancadas e deserções.

Ninguém abraça o roteiro do Evangelho para estirar-se em redes de fantasia. O cristão é chamado a melhorar e elevar o nível da vida e para quem efetivamente vive em Cristo, a vida é um caminho pavimentado de esperança e trabalho, alegria e consolo, mas plenamente aberto às surpresas e ensinamentos da verdade, sem qualquer ilusão.