Evangelho por Emmanuel, O – Comentários ao Evangelho Segundo Marcos

Capítulo LXIV

A criança é o futuro



No quadro de renovações imediatas do mundo, problemas angustiosos absorverão naturalmente os sociólogos mais atilados.

A civilização enferma requisita recursos salvadores, socorros providenciais, em face do transcendentalismo da atualidade. Organismo devastado por moléstias indefiníveis, a sociedade humana está compelida a examinar detidamente as questões mais dolorosas, tocando-lhes a complexidade e a extensão. Tão logo regresse à paisagem pacífica, reconhecerá a necessidade da reconstrução salutar.

Entretanto, a desilusão e o desânimo serão inevitáveis no círculo dos lutadores.

Por onde recomeçar:

As experiências amargas terão passado, rumo aos abismos do tempo, substituindo nas almas o anseio justo da concórdia geral, todavia, é razoável ponderar a preocupação torturante a se fazer sentir, em todos os planos do pensamento internacional.

As noções do direito, os ideais de justiça econômica, as garantias da paz, surgirão, à frente das criaturas, solicitando-lhes o concurso devido, para a total extinção das sombras da violência, mas, no exame das providências de ordem geral é imprescindível reconhecer que a reconstrução do planeta é iniciativa educacional.

É quase incrível, no entanto, que o problema seja, ainda, de orientação infantil, objetivando-se horizontes novos.

A criança é o futuro.

E, com exceção dos Espíritos missionários, os homens de agora serão as crianças de amanhã, no processo reencarnacionista.

O trabalho redentor da Nova Era há de começar na alma da infância, se não quiserdes divagar nos castelos teóricos da imaginação superexcitada. É lógico que a legislação será sempre a casa nobre dos princípios que asseguram os direitos do homem, entretanto, os governos não poderiam realizar integralmente a obra renovadora sem a colaboração daqueles que hajam sentido a verdade e o bem com Jesus Cristo.

A crise do mundo não estará solucionada com a simples extinção da guerra.

O quadro de serviço presente é campo de tarefas esmagadoras que assombram pela grandeza espiritual.

Pede-se a paz com a vitória do direito e ninguém contesta a legitimidade de semelhante solicitação. Mas é indispensável organizar o programa de amanhã. A sociologia abrirá as possibilidades que lhe são próprias, por restituir ao mundo o verdadeiro equilíbrio de sua evolução ascensional.

Não nos esqueçamos, porém, de que a psicologia do homem comum ainda se enquadra na esfera de análise devida à criança.

É por isto, talvez, que Jesus, por mais de uma vez, deixou escapar o sublime apelo: “Deixai vir a mim os pequeninos”. (Mt 19:14) Não observamos aqui, tão somente, o símbolo da ternura. O Mestre não demonstrava atitude meramente acidental, junto à paisagem humana, aureolada de sorrisos infantis. Aludia, sim, à tarefa bem mais profunda no tempo e no espaço. Sabia Ele que durante séculos a grande questão das criaturas estaria moldada em necessidades educativas. E com muita propriedade o Cristo exclama — “deixai vir a mim” — e não simplesmente — “vinde a mim”. Sua exortação divina atinge a todos os que receberam a mordomia da responsabilidade espiritual nos quadros evolucionários da Terra, para que não impeçam à mente humana o acesso real às suas fontes de verdades sublimes.

Constituindo a infância a humanidade futura, reconhecemos ao seu lado a região de semeadura proveitosa. E, reconhecendo, nós outros, que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida, não encontraremos outra senda de redenção, estranha aos fundamentos de sua doutrina de verdade e de amor.

Desse modo, a par do esforço sincero de quantos cooperam pelo ressurgimento da concórdia no mundo, voltemo-nos para as crianças de agora, cônscios de que muitos de nós seremos a infância do porvir. Organizemos o lar que forma o coração e o caráter, e a escola que iluminará o raciocínio.

Estejamos igualmente atentos à verdade de que educar não se resume apenas a providências de abrigo e alimentação do corpo perecível.

A Terra, em si mesma, é asilo de caridade em sua feição material. Governantes e sacerdotes diversos nunca esqueceram, de todo, a assistência à infância desvalida, mas são sempre raros os que sabem oferecer o abrigo do coração, no sentido de espiritualidade, renovação interior e trabalho construtivo.

Em nutrindo células orgânicas, não olvideis a alimentação espiritual imprescindível às criaturas.

No quadro imenso da transformação em que vossas atividades se localizam atualmente, a iniciativa de educação é de importância essencial no equilíbrio do mundo.

Cuidemos da criança, como quem acende claridades no futuro. Compareçamos, em companhia delas, à presença espiritual de Cristo e teremos renovado o sentido da existência terrestre, colaborando para que surjam as alegrias do mundo num dia melhor.




— Referência ao final da 2ª Grande Guerra, em 1945.