Ensinando o amor para com os inimigos (Mt
Em circunstância alguma o vemos a derramar-se, louvaminheiro, encorajando os que se mantinham no erro deliberado, mas sim renovando sempre o processo de auxiliar com esquecimento de toda injúria.
Diante da turba que o preferia a Barrabás, o delinquente confesso, não se entrega ao elogio da multidão, mas guarda dignidade e silêncio, tolerando-lhe a afronta.
Perante Pilatos, o juiz inseguro, não lhe beija as mãos lavadas, mas sim, pela conduta de vítima irreprochável, lhe devolve ao espírito inconsequente a noção de responsabilidade precisa.
Em plena rua, cambaleante sob o madeiro, não se volta para sorrir aos ingratos que lhe cospem no rosto, mas ora por todos eles, confiando-os ao tempo que é o julgador invisível da Humanidade.
Na cruz infamante, não toma a palavra para agradecer a inconstância de Pedro ou a fraqueza de Judas, nem faz voto festivo aos sacerdotes que lhe insultam a Doutrina de Amor, mas a todos contempla, sem mágoa, pedindo o perdão para a ignorância de quantos lhe impunham a humilhação e a morte…
E olvidando os verdugos e adversários, ei-lo que torna ao convívio das criaturas, em pleno terceiro dia depois do túmulo em trevas, a fazer ressurgir para a Terra enoitada a divina mensagem de eterna luz…
Desculpar aos que nos ofendem não será, portanto, comungar-lhes a sombra, mas sim esquecer-lhes os golpes e seguir para a frente, trabalhando e aprendendo, ajudando e servindo sempre, na exaltação do bem, para que o mundo em nós outros se liberte do mal.
(Reformador, março 1959, página 68)