Evangelho por Emmanuel, O – Comentários ao Evangelho Segundo João

Capítulo II

I. — O Velho Testamento.



— “No princípio era o Verbo…” (Jo 1:1) — Como deveremos entender esta afirmativa do texto sagrado?

— O apóstolo João ainda nos adverte que “o Verbo era Deus e estava com Deus”. (Jo 1:1)

Deus é amor e vida e a mais perfeita expressão do Verbo para o orbe terrestre era e é Jesus, identificado com a sua misericórdia e sabedoria, desde a organização primordial do planeta.

Visível ou oculto, o Verbo é o traço da luz divina em todas as coisas e em todos os seres, nas mais variadas condições do processo de aperfeiçoamento.


— Por que razão a palavra das profecias parece dirigida invariavelmente ao povo de Israel?

— Em todos os textos das profecias, Israel deve ser considerada como o símbolo de toda a humanidade terrestre, sob a égide sacrossanta do Cristo.


— Deve-se atribuir ao Judaísmo missão especial, em comparação com as demais ideias religiosas do tempo antigo?

— Embora as elevadas concepções religiosas que floresceram na Índia e no Egito e todos os grandes ideais de conhecimento da divindade, que povoaram a antiga Ásia em todos os tempos, deve-se reconhecer no Judaísmo a grande missão da revelação do Deus único.

Enquanto os cultos religiosos se perdiam na divisão e na multiplicidade, somente o Judaísmo foi bastante forte na energia e na unidade para cultivar o monoteísmo e estabelecer as bases da lei universalista, sob a luz da inspiração divina.

Por esse motivo, não obstante os compromissos e os débitos penosos que parecem perpetuar os seus sofrimentos, através das gerações e das pátrias humanas no doloroso curso dos séculos, o povo de Israel deve merecer o respeito e o amor de todas as comunidades da Terra, porque somente ele foi bastante grande e unido para guardar a ideia verdadeira de Deus, através dos martírios da escravidão e do deserto.


— Como deve ser considerada, no Espiritismo, a chamada “Santíssima Trindade”, da teologia católica?

— Os textos primitivos da organização cristã não falam da concepção da Igreja romana, quanto à chamada “Santíssima Trindade”.

Devemos esclarecer, ainda, que o ponto de vista católico provém de sutilezas teológicas sem base séria nos ensinamentos de Jesus.

Por largos anos, antes da Boa Nova, o bramanismo guardava a concepção de Deus, dividido em três princípios essenciais, que os seus sacerdotes denominavam Brama, Vishnu e Çiva.

Contudo, a Teologia, que se organizava sobre os antigos princípios do politeísmo romano, necessitava apresentar um complexo de enunciados religiosos, de modo a confundir os espíritos mais simples, mesmo porque sabemos que se a Igreja foi, a princípio, depositária das tradições cristãs, não tardou muito que o sacerdócio eliminasse as mais belas expressões do profetismo, inumando o Evangelho sob um acervo de convenções religiosas, e roubando às revelações primitivas a sua feição de simplicidade e de amor.

Para esse desiderato, as forças que vinham disputar o domínio do Estado, em face da invasão dos povos considerados bárbaros, se apressaram, no poder, em transformar os ensinos de Jesus em instrumento da política administrativa, adulterando os princípios evangélicos nos seus textos primitivos e assimilando velhas doutrinas como as da Índia legendária, e organizando novidades teológicas, com as quais o Catolicismo se reduziu a uma força respeitável, mas puramente humana, distante do Reino de Jesus, que, na afirmação do Mestre, simples e profunda, não tem ainda fundamentos divinos na face da Terra.


— Como interpretar a antiga sentença — “Deus fez o mundo do nada”?

— O primeiro instante da matéria está, para os Espíritos da minha Esfera, tão obscuro quanto o primeiro momento da energia espiritual nos Círculos da vida universal.

Compreendemos, contudo, que, sendo Deus o Verbo da Criação, o “nada” nunca existiu para o nosso conceito de observação, porquanto o Verbo, para nós outros, é a luz de toda a Eternidade.


— Os dias da Criação, nas antigas referências do Velho Testamento, correspondem a períodos inteiros da evolução geológica?

— Os dias da atividade do Criador, tal como nos refere o texto sagrado, correspondem aos largos períodos de evolução geológica, dentro dos milênios indispensáveis ao trabalho da gênese planetária, salientando-se que, com esses, a Bíblia encerra outros grandes símbolos inerentes aos tempos imemoriais, das origens do planeta.


— Qual, a posição do Velho Testamento no quadro de valores da educação religiosa do homem?

— No quadro de valores da educação religiosa, na civilização cristã, o Velho Testamento, apesar de suas expressões altamente simbólicas, poucas vezes acessíveis ao raciocínio comum, deve ser considerado como a pedra angular, ou como a fonte-máter da revelação divina.