Evangelho por Emmanuel, O – Comentários aos Atos dos Apóstolos

Capítulo CXXXVIII

Paulo em Roma



Quando entramos em Roma, foi permitido a Paulo morar, por conta própria, com o soldado que o guardava. — (At 28:16)


[…] Roma inteira banhava-se suavemente no crepúsculo de opalas. Brisas cariciosas sopravam, de longe, balsamizando a tarde quente. Considerando que Paulo precisava de repouso, o centurião resolveu passar a noite numa hospedaria e apresentar-se com os prisioneiros no dia imediato, ao Quartel dos Pretorianos, depois de refeitos da longa e exaustiva viagem.


Somente na manhã seguinte, compareceu perante as autoridades competentes, apresentando os acusados. Feliz expediente aquele, porque o ex-rabino sentia-se perfeitamente reconfortado. Na véspera, Lucas, Timóteo e Aristarco separaram-se dele, a fim de se instalarem na companhia dos irmãos de ideal, até poderem fixar a sua posição.

O centurião de Cesareia encontrou no Quartel da via Nomentana altos funcionários que podiam perfeitamente atendê-lo, com referência ao assunto que o trazia à capital do Império; mas, fez questão de esperar o General Búrrus, amigo pessoal do Imperador e conhecido por suas tradições de honestidade, no intuito de esclarecer o caso do Apóstolo.

O General o atendeu com presteza e solicitude e ficou suficientemente informado da causa do ex-rabino, tanto quanto dos seus antecedentes pessoais e das lutas e sacrifícios que vinha amargurando. Prometeu estudar o caso com o maior interesse, depois de guardar, solícito, os pergaminhos remetidos pela Justiça de Cesareia. Na presença do Apóstolo, afirmou ao centurião que, caso os documentos provassem a cidadania romana do acusado, ele poderia gozar das vantagens da “custódia líbera”, passando a viver fora do cárcere, apenas acompanhado por um guarda, até que a magnanimidade de César decidisse o seu recurso.


Paulo foi recolhido à prisão com os demais companheiros, como medida preliminar ao exame da documentação trazida. Júlio despediu-se comovido, os guardas abraçaram o ex-rabino, contristados e respeitosos. Os altos funcionários do Quartel acompanharam a cena com indisfarçável surpresa. Prisioneiro algum havia ali entrado até então, com tamanhas manifestações de carinho e apreço.

Depois de uma semana, em que lhe fora permitido o contato permanente com Lucas, Aristarco e Timóteo, o Apóstolo recebia ordem para fixar residência nas proximidades da prisão — privilégio conferido pelos seus títulos, embora obrigado a permanecer sob as vistas de um guarda policial, até que o seu recurso fosse definitivamente julgado.

Auxiliado pelos confrades da cidade, Lucas alugou um aposento humilde na 5ia Nomentana, para lá se transferindo o valoroso pregador do Evangelho, cheio de coragem e confiança em Deus.


Longe de esmorecer diante dos obstáculos, continuou redigindo epístolas consoladoras e sábias às comunidades distantes. No segundo dia de sua nova instalação, recomendou aos três companheiros procurassem trabalho, para não serem pesados aos irmãos, explicando que ele, Paulo, viveria do pão dos encarcerados, como era justo, até que César pudesse atender ao seu apelo.

Assim o fez, de fato, e diariamente lá se ia às grades do calabouço, onde tomava a sua ração alimentar. Aproveitava, então, essas horas de convivência com os celerados ou com as vítimas da maldade humana para pregar as verdades confortadoras do Reino, ainda que algemados. Todos o ouviam em deslumbramento espiritual, jubilosos com a notícia de que não se encontravam desamparados pelo Salvador. Eram criminosos do Esquilino, bandidos das regiões provincianas, malfeitores da Suburra, servos ladrões entregues à justiça pelos senhores para a necessária regeneração, e pobres perseguidos pelo despotismo da época, que sofriam a terrível influência dos vícios da administração.

A palavra de Paulo de Tarso atuava como bálsamo de santas consolações. Os prisioneiros ganhavam novas esperanças e muitos se converteram ao Evangelho, como Onésimo, o escravo regenerado, que passou à história do Cristianismo na carinhosa epístola a Filêmon. (Fm 1:10)




(Paulo e Estêvão, FEB Editora., pp. 452 e 453. Indicadores 27 a 30)