Evangelho por Emmanuel, O – Comentários aos Atos dos Apóstolos

Capítulo CXLI

Paulo permanece em Roma dois anos



30 Permaneceu dois anos inteiros na [casa] alugada, e recebia todos os que se dirigiam até ele, 31 proclamando o Reino de Deus, e ensinando as [coisas] a respeito do Senhor Jesus Cristo, com toda franqueza, sem impedimento. — (At 28:30)


E Paulo continuou trabalhando incessantemente a benefício de todos. A situação, como prisioneiro, era a mais confortadora possível. Fizera-se benfeitor desvelado de todos os guardas que lhe testemunhavam o esforço apostólico. A uns aliviara o coração com as alegrias da Boa Nova; a outros curara moléstias crônicas e dolorosas. Frequentemente, o benefício não se restringia ao interessado, porque os legionários romanos lhe traziam os parentes, os afeiçoados e os amigos, para se beneficiarem ao contato daquele homem dedicado aos interesses de Deus. Logo ao terceiro dia deixou de ser algemado, porque os soldados dispensavam a formalidade, apenas guardando-lhe a porta como simples amigos. Não poucas vezes, esses militares benévolos o convidavam a passear pela cidade, especialmente ao longo da Via Ápia, que se havia tornado o local da sua predileção.

Sensibilizado, o Apóstolo agradecia essas provas de condescendência.


Os benefícios do seu convívio tornavam-se dia a dia mais evidentes. Impressionados com a sua palestra educativa e com as suas maneiras atenciosas, muitos legionários, antes relapsos e negligentes transformavam-se em elementos úteis à administração e à sociedade. Os guardas começaram a disputar o serviço de sentinela ao seu aposento, e isso lhe valia pelo melhor atestado de valor espiritual.

Visitado, incessantemente, por irmãos e emissários das suas igrejas queridas, da Macedônia e da Ásia, prosseguia desdobrando energias na tarefa de amorosa assistência aos amigos e colaboradores distantes, mediante cartas inspiradíssimas.


Havia quase dois anos que o seu recurso a César jazia esquecido nas mesas dos juízes displicentes, quando sobreveio um acontecimento de magna importância. Certo dia, um legionário amigo levou ao convertido de Damasco um homem de feições másculas e enérgicas, aparentando quarenta anos mais ou menos. Tratava-se de Acácio Domício, personalidade de grande influência política, e que de algum tempo tinha cegado em misteriosas circunstâncias.

Paulo de Tarso o acolheu com bondade e, depois de impor-lhe as mãos, esclarecendo-o sobre o que Jesus desejava de quantos lhe aproveitavam a munificência, exclamou comovidamente:

— Irmão, agora, convido-te a ver, em nome do Senhor Jesus-Cristo!

— Vejo! Vejo! — gritou o romano tomado de júbilo infinito; e logo, num movimento instintivo, ajoelhou-se em pranto e murmurou:

— Vosso Deus é verdadeiro!…


Profundamente reconhecido a Jesus, o Apóstolo deu-lhe o braço para que se levantasse e, ali mesmo, Domício procurou conhecer o conteúdo espiritual da nova doutrina, a fim de reformar-se e mudar de vida. Solícito, anotou logo as informações relativas ao processo do ex-rabino, acentuando ao despedir-se:

— Deus me ajudará para que possa retribuir o bem que me fizestes! Quanto à vossa situação, não duvideis do desfecho merecido, porque, na próxima semana, teremos resolvido o processo com a absolvição de César!


De fato, decorridos quatro dias, o velho servidor do Evangelho foi chamado a depor. De conformidade com as ordens legais, compareceu sozinho perante os juízes, respondendo com admirável presença de espírito às menores arguições que lhe foram desfechadas. Os magistrados patrícios verificaram a inconsistência do libelo, a infantilidade dos argumentos apresentados pelo Sinédrio e, não só atendendo à situação política de Acácio, que empenhara no feito os bons ofícios de que podia dispor, como pela profunda simpatia que a figura do Apóstolo despertava, instruíram o processo com os mais nobres pareceres, restituindo-o, por intermédio de Domício, para o veredicto do Imperador.

O generoso amigo de Paulo regozijou-se com a vitória inicial, convencido da próxima liberdade do seu benfeitor. Sem perda de tempo, mobilizou as melhores amizades, entre as quais contava Popeia Sabina, conseguindo, afinal, a absolvição imperial.

Paulo de Tarso recebeu a notícia com votos de reconhecimento a Jesus. Mais que ele próprio, rejubilavam-se os amigos, que celebraram o acontecimento com expansões memoráveis.


O convertido de Damasco, entretanto, não viu nisso tão só um motivo para regozijo pessoal, mas a obrigação de intensificar a difusão do Evangelho de Jesus.

Durante um mês, no princípio do ano 63, visitou as comunidades cristãs de todos os bairros da capital do Império. Sua presença era disputada por todos os círculos, que o recebiam entre carinhosas manifestações de respeito e de amor pela sua autoridade moral. Organizando planos de serviço para todas as igrejas domésticas que funcionavam na cidade, e depois de inúmeras prédicas gerais nas catacumbas silenciosas, o incansável trabalhador resolveu partir para a Espanha. Debalde intervieram os colaboradores, rogando-lhe que desistisse. Nada o demoveu. De há muito, alimentava o desejo de visitar o Extremo do Ocidente e, se fosse possível, desejaria morrer convicto de haver levado o Evangelho aos confins do mundo.




(Paulo e Estêvão, FEB Editora., pp. 456 a 458. Indicadores 38 a 43)