Evangelho por Emmanuel, O – Comentários às Cartas de Paulo

Introdução à Carta aos Hebreus



A Carta aos hebreus é talvez o mais controvertido texto do Novo Testamento. Não só pela sua forma. que se diferencia de todas as demais cartas, mas, também, por alguns aspectos que, desde o Cristianismo Primitivo, chamaram a atenção de estudiosos: o nome de Paulo não aparece uma única vez na carta; os temas que normalmente são tratados com importância nas outras cartas, aqui estão ausentes ou abordados de maneira indireta ou diferente.

O uso e abordagem ao Antigo Testamento também fazem com que, no conjunto, o texto de Hebreus se aproxime mais de uma exposição argumentativa do que propriamente uma carta, à exceção do seu final. Isso pode ter sido uma das razões pelas quais a carta não é colocada logo após II Coríntios, como seria de se esperar, dado o seu tamanho e ser ela destinada a uma coletividade.

Por essas razões, temos posições diferentes em relação à sua autoria. Tertuliano atribuía a carta a Barnabé; Clemente, de Alexandria, acreditava que a carta era de Paulo, mas que teria sido escrita em língua hebraica e depois traduzida para o grego por Lucas. Orígenes conhece e cita Hebreus, embora sua posição em relação à autoria pareça diferir ao longo do tempo.

Apesar disso, já existem, em Clemente de Roma, visíveis similaridades com Hebreus, o que sugere que ele a conhecia. Isso nos leva a crer que, para além das questões de autenticidade, o conteúdo foi acolhido pela maioria dos cristãos.


Estrutura e temas

Deus falou antes de muitos modos, agora fala por meio do Filho. | Hb 1:1
Superioridade de Jesus. | Hb 1:3
Jesus é superior aos anjos. | Hb 1:4
Jesus é superior a Moisés. | Hb 3:1
Jesus é um sumo sacerdote. | Hb 4:14
Aqueles que deveriam ter se tornado mestres permanecem como crianças. | Hb 5:11
Os temas mais elevados. | Hb 6:1
Advertências aos que foram iluminados e caíram. | Hb 6:4
Encorajamento e esperança. | Hb 6:9
O sacerdócio de Melquisedec. | Hb 7:1
O sacerdócio levítico e o de Melquisedec. | Hb 7:11
O sacerdócio de Jesus. | Hb 7:21
O tema mais importante da carta. | Hb 8:1
Jesus é mediador de uma aliança maior. | Hb 8:6
O ritual e o culto na primeira e na segunda alianças. | Hb 9:1
O porquê de Jesus ser o mediador da nova aliança. | Hb 9:15
Os sacrifícios feitos da forma antiga são ineficazes. | Hb 10:1
O sacrifício de Jesus é eficaz. | Hb 10:11
A liberdade proporcionada pelo sacerdócio e sacrifício de Jesus. | Hb 10:19
Exortação à perseverança. | Hb 10:23
A importância da fé. | Hb 11:1
Perseverar com os olhos fixos em Jesus, que é o iniciador e consumador da fé. | Hb 12:1
O sofrimento como forma de correção. | Hb 12:5
Exortação à paz. | Hb 12:14
Advertências para os que se aproximam das realidades celestes. | Hb 12:18
Recomendações de amor e conduta na comunidade. | Hb 13:1
Todos os dirigentes perecem, só Jesus permanece. | Hb 13:7
O fortalecimento do coração e o altar íntimo. | Hb 13:9
Obediência aos dirigentes. | Hb 13:17
Pedido de orações. | Hb 13:18
Bênção final. | Hb 13:20
Notas de envio, notícias de Timóteo e saudações finais. | Hb 13:22


Origem e data

A única referência, no próprio texto da carta, que remete a uma possível localização, é a citação na saudação final: “Os da Itália vos saúdam”. Isso sugere uma possível composição em Roma, sem, contudo, ser conclusiva nesse sentido.

As questões relacionadas à autoria e dificuldade de localização levaram os estudiosos a proporem datas bastante distantes em relação à composição da carta, compreendendo um período que vai desde o ano 60 até o ano 90, tendo 65 a 68 como sugestões mais frequentes.


Perspectiva espírita

A carta traz um conjunto de argumentos, defendendo a superioridade de Jesus em relação a Moisés e aos anjos. Isso se ajusta à perspectiva que a Doutrina Espírita utiliza da superioridade de Jesus, a começar pela de O Livro dos Espíritos.

Em relação a origem e data, Emmanuel, no livro Paulo e Estêvão, registra o momento e condições que levaram à elaboração da Carta aos hebreus. Paulo estava em Roma e após uma tentativa fracassada em apresentar o Evangelho aos correligionários judeus, ele decidiria concentrar seus esforços na divulgação do Evangelho entre os gentios. Nesse momento, um senhor de idade aproxima-se do ex-rabino e lhe pede que não desista de sua gente. Comovido com aquele gesto, Paulo informa que, não lhe sendo possível falar na sinagoga, dado a estar ainda em prisão domiciliar, iria escrever aos irmãos de boa vontade dentro do judaísmo. Transcrevemos a seguir o texto de Paulo e Estêvão que trata deste tema:

“Daí por diante, aproveitando as últimas horas de cada dia, os companheiros de Paulo viram que ele escrevia um documento a que dedicava profunda atenção. Às vezes, era visto a escrever com lágrimas, como se desejasse fazer da mensagem um depósito de santas inspirações. Em dois meses, entregava o trabalho a Aristarco para copiá-lo, dizendo:
— Esta é a epístola aos hebreus. Fiz questão de grafá-la, valendo-me dos próprios recursos, pois que a dedico aos meus irmãos de raça e procurei escrevê-la com o coração.
O amigo compreendeu o seu intuito e, antes de começar as cópias, destacou o estilo singular e as ideias grandiosas e incomuns.”